SIDA, HISTÓRIAS DE VIDA ENCURTADAS

SIDA, HISTÓRIAS DE VIDA ENCURTADAS

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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O ano de 1981 marcou o início de uma nova era epidémica para a Humanidade. Identificado por Luc Monyagnier e Francoise Barré-Sinoussi, o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) ultrapassou as piores expectativas. Dez anos após a sua identificação, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) previram, no pior dos cenários, que no início do século XXI as pessoas infectadas não excederiam 40 milhões. No ano 2000, porém, o número já ascendia a 56 milhões de pessoas.

Da família dos retrovírus, o VIH infecta um dos mais importantes grupos de células do sistema imunitário, as T CD4, tornando o organismo susceptível a uma variedade de doenças e levando, na maioria das vezes, ao desenvolvimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (sida). Desta forma, um doente com sida nunca morre desta patologia, mas de infecções oportunistas.

Até à data, a comunidade científica não conseguiu chegar a um consenso sobre a origem da contaminação do Homem pelo VIH. As teorias mais comummente aceites são a da "transferência antrual", a teoria da contaminação da vacina da pólio e através da caça.

A primeira é a mais divulgada. Segundo esta, o vírus dos chimpanzés africanos, os verdadeiros portadores da doença, transferiu-se para o Homem através de uma dentada ou de uma ferida, reproduzindo-se rapidamente entre os seres humanos.

Já na segunda teoria defende-se que a causa desta infecção se deve à utilização de uma vacina experimental para a pólio contaminada com o VIH. Esta foi adminstrada a um milhão de africanos nas colónias belgas, onde surgiu o primeiro foco de infecção.

Outros investigadores defendem que os serem humanos adquiriram o VIH através da caça dos chimpazés, que estariam infectados, para alimentação.

Independentemente da sua origem, a sida tornou-se num flagelo mundial. Se nos anos 80 foi associada aos homossexuais e aos dependentes de drogas injectáveis, depressa se reconheceu que afectava todos os seres humanos: homens, mulheres e crianças. Todavia, estes homens, mulheres e crianças são mais atingidos nos países em vias de desenvolvimento, em particular nos países subsarianos.

Apesar de novos dados demonstrarem que a prevalência global do VIH estabilizou e de o número de indivíduos infectados ter decrescido, desde 2001, muito em parte devido ao impacto dos vários programas de combate à sida – em 2007 ainda existiam cerca de 33,2 milhões de pessoas a sobreviverem diariamente ao vírus, 2,5 foram infectadas e 2,1 milhões morreram –, não obstante ter ocorrido uma redução do número de pessoas infectadas desde 2001, os números ainda são negros.

Cerca de 68 por cento do total das pessoas infectadas vivem nesta região. Destas, 61 por cento são do sexo feminino.

Segundo as estatísticas, as mulheres entre os 15 e os 25 anos têm três vezes mais probabilidades de se tornarem seropositivas do que um rapaz no mesmo escalão etário.

Esta situação decorre das desigualdades sexuais e sociais prevalecentes nesta região, expondo mais as mulheres e tornando-as mais vulneráveis.

A elas falta-lhes poder para negociar sexo seguro, acesso aos meios para prevenir a sida ou outras doenças sexualmente transmissíveis.

As crianças continuam a ser as maiores vítimas desta doença: ou estão infectados ou são estigmatizados porque a sida lhes levou um pai. Segundo as estatísticas, cerca de 2,3 milhões de crianças com menos de 15 anos são seropositivas e 15,2 milhões com menos de 18 anos já perderam um ou ambos os pais. Uma investigação recente demonstrou que os órfãos tinham menos 13 por cento de probabilidade de frequentar a escola, comparativamente aos não órfãos. Também as taxas de finalização da primária são bastante mais baixas nas crianças que perderam um dos pais, nomeadamente a mãe.

Uma das causas desta tragicidade não apenas na região subsariana, mas em todo o continente é a heterogeneidade do vírus.

O VIH/sida não se resume a uma, mas a várias epidemias diferentes entre os países e no interior dos próprios países. O VIH pode ser dividido em quatro clusters diferentes. O epicentro da epidemia reside na África do Sul, onde a prevalência varia entre os 15 e os 35 por cento. A epidemia da África Este, que durante muitos anos foi incluída no cluster da África do Sul, é bastante menor, entre os 3 e os 7 por cento. Já a prevalência na África Oeste, uma das regiões mais populosas, varia entre 1 e 5 por cento. Na África do Norte a prevalência raramente excede os 0,1 por cento.

Outra das causas é a dificuldade de acesso aos fármacos. Apesar de a situação se estar a inverter – o acesso aos fármacos antivirais cresceu de 7 por cento no final de 2003 para 24 por cento em Junho de 2006 – cinco milhões de pessoas ainda permanecem sem acesso aos preciosos medicamentos e apenas 6 por cento das crianças seropositivas receberam os tratamentos retrovirais recomendados pela OMS.

Terapias actuais

O primeiro antiretroviral, o AZT (zidovudina), foi disponibilizado em 1987. Com ele veio a esperança para estes doentes. Hoje em dia, os pacientes que vivem nos países desenvolvidos têm acesso a um regime complexo de fármacos que atacam o vírus nos vários estágios do seu ciclo de vida.

inibidores protease

Destes, destacam-se os inibidores da protease, cuja função é inibir a referida enzima, utilizada directamente pelo VIH para dividir as recém-nascidas proteínas virais, prevenindo a produção final de vírions.

Os inibidores da transcriptase reversa são utilizados para inibir a actividade da mesma enzima, essencial para o HIV completar a infecção da célula. A sua ausência impede que o VIH produza ADN pró-viral, tendo por base o seu ARN. Existem três classes destes fármacos: os inibidores de nucleosídeos da transcriptase reversa (ITRNN), os inibidores de nucleosídeos análogos da transcriptase reversa e, por último, os inibidores de nucleotídeos análogos da transcriptase reversa.

Tal como o nome indica, os inibidores de entrada bloqueiam a entrada do vírus na célula, impedindo a fusão da membrana viral com a membrana da célula.

Os inibidores da integrase bloqueiam a acção da mesma, pois esta permite que o ADN do HIV penetre no núcleo da célula infectada.

Terapias em desenvolvimento

O sexto objectivo do Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas está concatenado com o combate à malária, a sida e outras doenças infecto-contagiosas que assolam a humanidade. Neste âmbito, todos podem contribuir, desde os governos, passando pela indústria farmacêutica, até ao cidadão comum. A urgência reside, porém, no desenvolvimento de medicamentos mais eficazes ou da descoberta de uma cura, que, até ao momento, não existe.

Grandes laboratórios internacionais como a Abbott, Boehringer Ingelheim, Bristol-Myers Squibb, GlaxoSmithKline, Gilead, Johnson & Johnson, Merck & Co., Novartis, Pfizer, Roche e Sanofi Pasteur, entre outros, estão envolvidos em investigações e outras iniciativas para tornarem os fármacos já existentes acessíveis ao maior número de pessoas possível.

Até à data já foram aprovados cerca de 88 fármacos e criadas 126 parcerias pela indústria farmacêutica que permitiram intervenções sanitárias para ajudar 539 milhões de pessoas. Entre estas destacamos a Accelerating Access Initiative (AAI), criada em 2000, uma parceria entre a UNAIDS, a Organização Mundial da Saúde, a UNICEF, o Fundo das Populações da ONU, o Banco Mundial e sete laboratórios farmacêuticos – Abbott, Boehringer Ingelheim, Bristol-Myers Squibb, GlaxoSmithKline, Gilead Sciences, Johnson & Johnson, Merck & Co., Inc. e Roche. Esta iniciativa fornece o acesso a medicamentos a mais de 40 por cento das pessoas infectadas nos países em vias de desenvolvimento.

Foram igualmente realizadas parcerias para a investigação e desenvolvimento, como a International AIDS Vaccine Initiative (IAV), criada em 1996, que em colaboração com os países em vias desenvolvimento, governos e agências internacionais têm como objectivo desenvolver, o mais rapidamente possível, uma vacina.

Nesta área salientamos o desenvolvimento da HRG214, da Virionyx, que consiste na inoculação de um grupo geneticamente modificado de anticorpos. Encontra-se em testes de fase I/II.

Vírus da Imunodeficiência Humana

Um estudo recente permitiu verificar que uma terapia concomitante da vacina ALVAC e do Remune, após a interrupção do tratamento retardava a retoma da carga viral.

Uma outra investigação demonstrou que uma combinação de vacinas contra o VIH e IL-2 aumentava a resposta imunitária, permitindo aos indivíduos uma interrupção da terapia até um ano.

Outra das vacinas em estudo é a DermaVir, uma nova forma de vacinação, aplicada através de adesivo transdérmico.

Estão igualmente a ser desenvolvidas outras abordagens a esta patologia, como as terapias genéticas, as citoquinas e imunomoduladores, entre outras.

Na área da terapia genética realçamos o HGTV43, da Enzo Biochem, que tem como objectivo produzir células T resistentes às infecções.

O M87o, da Eufets AG, torna as células T resistentes a esta infecção viral.

A Cell Genesys está a desenvolver uma forma de modificar as células CD4 e CD8, de modo a que estas possam bloquear a ligação ao vírus.

O RRz2, da Johnson & Johnson, é um ribossoma que ataca um gene específico do HIV. Por último, o VRX496, da VIRxSYS, é um factor genético que infecta as células T e ataca o código genético do VIH. A maioria destes candidatos ainda se encontram na primeira fase de testes.

No campo das citoquinas, estão a ser desenvolvidos tratamentos com Interferão, Interleuquina-2 (IL-2), Interleuquina-7 (IL-7), Multiquina e bloqueadores do Factor de Necrose Tumoral alfa.

A Hemispherx Biopharma está a testar o Ampligen, uma forma de interferão que activa as próprias defesas das células. Está actualmente em testes de Fase I e II.

Já a Bayer Corporation está a estudar uma forma recombinante modificada da IL-2, a Bay 50-4798. Está actualmente em testes de Fase II.

Também a Chiron Corporation está a desenvolver estudos nesta área, nomeadamente com Aldesleuquinas e Proleuquinas. Presentemente está em testes de Fase III.

A Interleuquina-7 está a ser estudada pela Cytheris Corp, encontrando-se em testes de Fase I e II.

A Multiquina, uma mistura de várias citoquinas, está a ser desenvolvida pela Cel-Sci Corporation e encontra-se em testes de Fase I.

A Advanced Biotherapy está a estudar os bloqueadores do Factor de Necrose Tumoral alfa para combater a doença. Este seu fármaco está a ser submetido a testes de Fase I.

Entre outros imunomoduladores que poderão vir a ser utilizados como terapia, destacamos o Murabutide, que está a ser desenvolvido pelo Dr. Georges Bahr, e recorre a fragmentos de bactéria para estimular a resposta imunitária.

O Resveratrol está igualmente a ser estudado para verificar as suas propriedades de estimulação da resposta imunitária, uma vez que protege as plantas dos organismos malignos.

A Advanced Viral Research Corporation está a desenvolver o Reticulose, um ácido nucleico que estimula as células dos sistema imunitário responsáveis pela destruição das agentes patogénicos.

O TH9507, da Theratechnologies, é um indutor do crescimento hormonal, que está em desenvolvimento para tratar a acumulção de gordura visceral na lipodistrofia, um dos efeitos secundários dos antivirais.

É deste esforço conjunto que nascerão novos tratamentos e a tão almejada cura, que pode ainda estar longe. Actualmente existem 77 candidatos a fármacos e 19 candidatos a vacinas para combater o VIH e afecções relacionadas.

A sida tem vindo a privar pessoas de viver e alguns países do seu parco capital humano, dificultando o seu desenvolvimento. Esta doença, que mata o corpo e a alma, foi durante muitos anos um estigma que marcou os doentes devido ao desconhecimento. Hoje em dia, apesar dos avanços da medicina, a maioria dos doentes ainda se sente como uma vírgula mal colocada na sua história de vida, uma história que a sida pode apagar antes do fim. O medo ainda prevalece sobre o conhecimento. Apesar das campanhas de sensibilização, a sociedade ainda continua a temer uma doença que não se transmite por um abraço, mas pela ignorância.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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