PULGAS, CARRAÇAS E OUTROS PARASITAS

PULGAS, CARRAÇAS E OUTROS PARASITAS

DOENÇAS

  Tupam Editores

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A primavera instalou-se e com ela os dias mais quentes e longos, estação que convida a permanecer mais tempo no exterior, desfrutando com os nossos animais. No entanto, esta é também a época em que a presença de pulgas e carraças (entre outros parasitas) é mais acentuada no ambiente.

Com temperaturas mais elevadas, acentua-se o risco de presença destes parasitas – designados por ectoparasitas ou parasitas externos, por viverem no exterior do corpo do hospedeiro – nos nossos amiguinhos de quatro patas. Ainda que o perigo de infestações persista durante todo o ano, é na primavera e no outono que aumenta, pois as condições climatéricas favorecem o seu desenvolvimento e contágio.

Porém, como podem os animais ficar infestados por estes parasitas? No caso das pulgas, na maioria das vezes, estas são adquiridas através da passagem do animal por ambientes contaminados como parques, jardins, mas também pode ser em casa ou qualquer outro local. Importa referir que mesmo não estando visíveis, o ambiente contém 95 por cento da população de pulgas na forma de ovos, larvas e pupas.

Os animais também as podem adquirir através do contacto direto com outros animais infestados. No entanto, sabe-se que esta forma de transmissão é pouco frequente. Um estudo revelou que apenas quatro por cento dos casos de infestação por pulgas nos animais de estimação ocorre por contacto direto com outros animais infestados com o parasita.

No que respeita às carraças, apesar de haver algumas espécies que se podem encontrar no interior das habitações ou nas proximidades, vivem principalmente na vegetação. Encontram-se frequentemente nos arbustos ou ervas, aguardando a passagem de um animal para se fixarem ao seu pelo, através do aparelho bucal, em áreas de pele fina, como a cabeça e as orelhas se alimentarem de sangue durante alguns dias, após os quais se desprendem voluntariamente e caem no solo para continuarem o seu ciclo reprodutivo.

Para além das pulgas e carraças, os nossos animais de companhia também têm outros inimigos ectoparasitas como os flebótomos, os mosquitos, os ácaros e os piolhos – alguns deles responsáveis pelo desenvolvimento de endoparasitas, ou parasitas internos, nos animais.

A picada das pulgas, carraças e dos mosquitos, por exemplo, pode originar a existência desse tipo de parasitas. A maioria afeta algumas das partes do aparelho digestivo dos animais, mas outros afetam o coração, as células sanguíneas ou o sistema imunitário.

Os grupos mais importantes são os vermes de corpo redondo, ou nemátodos e os vermes de corpo achatado, ou céstodos, que afetam o aparelho digestivo, mas também existem os protozoários que provocam a Leishmaniose ou os vermes que causam a Dirofilariose, ou doença do "verme do coração". E o problema é que este tipo de parasitas, para além de não se verem, não afetam unicamente os animais, também podem ser transmitidos aos humanos que com eles convivem, razão porque se torna tão importante manter a desparasitação sempre em dia.

Já os parasitas externos, por serem "visíveis", e apresentarem uma sintomatologia característica que a maior parte das pessoas conhece, acabam por ser mais fáceis de controlar.

Os parasitas externos: caracterização e consequências

Os parasitas externos mais comuns dos animais domésticos e não só, são as pulgas, carraças, os flebótomos (pequenos insetos), ácaros e os piolhos.

Bastante incómodas para cães, gatos, e pessoas, as pulgas são insetos hematófagos (alimentam-se exclusivamente de sangue), muito ativos, ágeis, e de reduzida dimensão, que possuem uma capacidade reprodutiva extraordinária. As pulgas fêmeas põem ovos no hospedeiro 48 horas após a primeira refeição de sangue, cerca de 15 a 20 ovos por dia, aproximadamente 2 mil ao longo da vida.

Quando um animal está infestado com pulgas, os ovos caem em locais onde este circula e em poucos dias passam a larvas que se escondem em zonas escuras (pavimentos, rodapés, frestas, gretas, tapetes, alcatifas, cestos ou camas de dormir, cobertores, almofadas, sofás, bancos de automóveis, garagens ou celeiros).

As fases larva e pupa ajudam a manter infestações latentes já que podem variar de 1 a 6 meses de duração, e é por isso que por vezes estes parasitas permanecem e/ou reaparecem nas habitações passados meses, mesmo depois de os animais terem sido tratados.

As picadas de pulgas têm como resultado para os cães e gatos, e por vezes para os donos, irritação, dor e prurido. Se, adicionalmente, o animal for alérgico a algum dos componentes da saliva da pulga pode desenvolver a DAPP (Dermatite Alérgica por Picada da Pulga). Pode ainda ocorrer a transmissão de vermes achatados (céstodos) Dipylidium caninum.

Os cães ou os gatos ao lamberem-se ou ao mordiscarem o pêlo podem ingerir uma pulga infetada com a forma larvar da ténia que, quando é libertada no intestino dos animais, evolui até à forma de adulto, acabando por originar perdas nutricionais, diarreias e mau estado geral.

Bem visíveis à vista desarmada na fase adulta, as carraças são parasitas artrópodes pertencentes à Ordem Acarina, ávidas de sangue, que normalmente estão fixadas à pele dos animais onde esta é mais fina e mais irrigada pelos vasos sanguíneos, variando, em média, entre 3 e 6 milímetros de tamanho. Apesar de existirem muitas espécies de carraças, em Portugal, as três mais frequentes são a Ixodes ricinus, Dermacentor reticulatus e Rhipicephalus sanguineus.

As carraças passam por quatro fases de desenvolvimento durante o seu ciclo de vida: ovo, larva, ninfa e adulto. Cada carraça fêmea põe entre 3 a 4 mil ovos fazendo-o sempre fora do animal, geralmente em áreas resguardadas, de vegetação baixa ou em jardins. Em apenas 5 a 7 dias, as fêmeas adultas podem aumentar até 4 vezes de tamanho e 100 vezes o seu peso, tudo à custa do sangue dos animais parasitados.

Sob condições favoráveis, o ciclo de vida da carraça ocorre em apenas dois meses, mas pode prolongar-se durante mais de 900 dias se o ambiente não for favorável à sua sobrevivência, entrando, nesse caso, em estado de diapausa (abrandam as funções vitais até que as condições ambientais sejam favoráveis).

Quanto aos problemas desencadeados por este parasita, a "febre da carraça" designa um conjunto de doenças parasitárias transmitidas através da sua picada, como a erliquiose causada pela bactéria Ehrlichia spp. e a babesiose, causada pelo protozoário Babesia spp.

O flebótomo é um inseto muito semelhante ao mosquito, mas muito mais pequeno (com 2 a 4 mm). Estes insetos – P. perniciosus, P. papatasi, P. ariasi – estão ativos em Portugal de março a novembro, e voam em dias sem vento, têm atividade máxima quando a temperatura se encontra entre os 25 e os 34 graus, do pôr-do-sol ao nascer-do-sol, com um pico de atividade ao final do dia.

Estes parasitas reproduzem-se em matéria orgânica, como coberturas de folhas mortas, troncos de árvores, compostagem e estrumeiras, pelo que se deve evitar passear os animais em zonas onde este tipo de matéria esteja presente, e principalmente evitar a existência deste tipo de pontos de reprodução dos flebótomos junto às casotas ou canis dos animais.

As fêmeas dos flebótomos atuam como vetores de um parasita microscópico dos glógulos brancos (e outras células) dos animais e humanos chamado Leishmania. Este agente infeccioso é transmitido quando as fêmeas de flebótomo se alimentam de sangue antes de procederem à postura dos seus ovos.

Os ácaros são parasitas que "habitam" em vários locais da pele dos cães. Têm uma dimensão muito reduzida (décimas de milímetro) não sendo visíveis à vista desarmada, causando no entanto alterações desagradáveis na pele e ouvidos dos animais que muito os incomoda, provocando uma doença designada por sarna.

Existem diversos tipos de sarna. Os animais de companhia podem ser essencialmente afetados por três tipos, cada uma causada por um ácaro diferente (Otodectes, Sarcoptes e Demodex), e que se distinguem entre si pelo tipo de lesões provocadas e sua localização. A transmissão da doença é feita normalmente pelo contacto direto entre animais, sendo nalguns casos muito contagiosa. Esta situação pode ocorrer com extrema facilidade devido ao comportamento social dos animais.

Os cães e os gatos também podem ser invadidos por piolhos. Mas não é o mesmo piolho que as crianças podem apanhar na escola. Na verdade, os piolhos são espécies específicas, ou seja, têm preferência quanto à espécie que parasitam; os piolhos que atingem os cães não passam para o Homem e vice-versa, assim como os de gatos e outras espécies de animais.

Os piolhos são insetos que não possuem asas, logo, ao contrário do que alguns pensam não "vêm pelo ar", são antes transmitidos por contacto direto, isto é, através de contacto com animais parasitados. Mas também podem ser transmitidos por objetos de uso comum, como escovas, toalhas e camas de dormir.

Visíveis a olho nu, existem duas espécies diferentes de piolhos: os mordedores/picadores, que se alimentam de sangue, podendo, em caso de um grande número, causar anemias graves; e os mastigadores, que se alimentam de restos celulares e descamações da própria pele e pelos dos animais.

Os piolhos podem causar prurido – que muito irrita e deixa inquietos os animais –, queda de pêlo e dermatites.

Os parasitas externos têm uma distribuição cosmopolita, sendo muito provável que, em alguma fase da vida, os animais apresentem algum grau de infestação. A melhor estratégia para a evitar, e às suas complicações, é, em primeiro lugar, evitar os locais que se sabe estarem infestados e, em segundo lugar, adotar um programa de proteção antiparasitária.

Prevenir em vez de tratar: proteção antiparasitária

A prevenção é a melhor forma de proteger o seu companheiro de quatro patas dos parasitas externos e das suas picadas. Nos locais em que o risco de infestação seja mais elevado, podem ser usados inseticidas ambientais, mas no entanto, a solução mais eficaz passa pela desparasitação.

O desparasitante a utilizar e a frequência da desparasitação depende da espécie animal, do grau de parasitismo, da idade e condição do animal, devendo por isso pedir-se aconselhamento do médico veterinário sobre a melhor forma de prevenir as infestações por parasitas.

A desparasitação externa pode ser efetuada de diversos modos e com vários produtos, sendo normal o uso de comprimidos para administração oral, spray, pipetas (Spot-on) de aplicação tópica e coleiras.

Fáceis de administrar, os comprimidos são normalmente de toma mensal. Estes medicamentos entram na corrente sanguínea e distribuem-se por vários órgãos (fígado, rins) e tecidos (gordura e músculos). Eliminam as pulgas e carraças após os parasitas picarem o animal, dado que as substâncias ativas permanecem no sangue. A duração da eficácia varia consoante o medicamento e o tipo de parasita. Não possuem ação inseticida.

De administração mensal, os produtos de Spot-on (pipetas) são aplicados diretamente no pelo do cão ou do gato e de imediato absorvidos, tendo uma ação bastante eficaz em todo o corpo. Os parasitas morrem quando entram em contacto com a pele ou pelo do animal tratado. Algumas pipetas são eficazes contra diferentes parasitas e têm propriedades repelentes, ou seja, repelem e matam a maioria dos parasitas antes que piquem, protegendo os animais contra as doenças que poderiam transmitir, como a leishmaniose e a febre da carraça, por exemplo.

Relativamente a banhos, antes ou depois de aplicar uma pipeta, os produtos mantêm, por norma, a sua eficácia se o animal for molhado (banho de chuva ou de mar), porém deve ser evitada a exposição intensa e prolongada à água. Nos casos de exposição frequente à água a duração da eficácia pode ser diminuída, podendo ser necessário repetir o tratamento.

Quando for preciso lavar o animal com champô, recomenda-se fazê-lo 48 a 72 horas antes da aplicação do medicamento ou então pelo menos duas semanas depois, de modo a otimizar a eficácia do produto.

As coleiras são aplicadas no pescoço mas atuam sobre todo o animal e ainda têm a vantagem de um tempo de ação prolongado (precisam de ser substituídas ao fim de 4-6 meses ou 7-8 meses consoante o tipo de coleira). A duração da eficácia varia consoante o medicamento e tipo de parasita. Os parasitas são eliminados quando entram em contacto com a pele e pelo do animal tratado. Algumas coleiras também têm uma função repelente, protegendo cães/gatos de picadas e reduzindo o risco de doenças transmitidas pelos parasitas.

Os sprays são pulverizados diretamente sobre a pele e pelo do animal, e os parasitas são mortos em contacto com eles. A ação é geralmente imediata e a duração de eficácia varia consoante o tipo de medicamento veterinário. Alguns sprays possuem inclusive efeito repelente, como as pipetas e as coleiras. Refira-se que os sprays, os pós e os champôs normalmente eliminam os parasitas que se encontram no animal no momento, mas não têm efeito residual, ou seja, não previnem o aparecimento de reinfestações.

Acresce que um tratamento antiparasitário eficaz envolve não só o tratamento do animal como o ambiente em que este se encontra. É importante não esquecer que no ambiente doméstico, as pulgas podem estar presentes todo o ano e não apenas nas épocas de primavera e verão, já que as temperaturas interiores proporcionam ótimas condições para a sua sobrevivência.

Dentro de casa as estratégias para eliminar os parasitas passam por lavar frequentemente as camas e tapetes onde o animal se deita.

Aspirar carpetes, tapetes, mantas e almofadas não só elimina os ovos e as larvas como também estimula, através das vibrações do aspirador, as pulgas adultas a sairem dos seus casulos de pupa podendo, assim, ser aspiradas. O saco do aspirador deve ser imediatamente eliminado para prevenir uma reinfestação.

Se houver um ambiente exterior deve evitar-se que seja visitado por animais errantes. Devem ainda eliminar-se ervas daninhas, ervas altas e arbustos dos jardins ou pátios a que os animais tenham acesso. O uso de inseticidas no exterior e interior, é também uma opção de tratamento do ambiente, mas no entanto, deve contactar-se uma empresa especializada para o efeito, que realizará esse tratamento de forma mais eficaz e segura.

A presença de pulgas, carraças e outros parasitas num animal representa, sem dúvida, um problema de grande relevância. Não só por causarem desconforto no animal, mas também porque podem resultar no desenvolvimento de doenças e servir de vetores de organismos infecciosos que podem representar um risco para a vida do animal.

Para um controlo eficaz destes parasitas externos que afetam os animais é importante tratar o animal, o ambiente em está inserido mas, acima de tudo, prevenir. A prevenção é a chave para o controlo a longo-prazo destes parasitas!

E a prevenção passa pela desparasitação. desparasitar os animais de estimação torna-se uma necessidade fundamental de saúde pública e uma boa prática médico-veterinária, não só por questões de saúde e bem estar animal, como do próprio agregado familiar em que estão inseridos e de todo o seu meio envolvente.

Então, não se descuide!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Referências Externas:

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