CÃES: TORÇÃO GÁSTRICA

CÃES: TORÇÃO GÁSTRICA

DOENÇAS

  Tupam Editores

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A síndrome da dilatação volvo gástrica, mais vulgarmente conhecida por torção gástrica em cães ou somente torção do estômago é uma ocorrência comum em animais de grande porte, na qual se verifica dilatação anormal do estômago, seguida da torção desse órgão sobre si mesmo devido a uma sobrecarga de gás no seu interior.

Esta patologia provoca a intensificação da fermentação e aprisionamento dos gases e alimentos no interior do estômago. Muitas vezes é usada a palavra inchaço como termo geral para descrever a distensão de gás sem torcimento, que constitui uma alteração normal depois de comer, ou aerofagia. Esta ocorrência é por vezes incorretamente usada para identificar a torção gástrica.

A síndrome de dilatação volvo gástrica (SDVG) envolve sempre a torção do estômago e é uma condição potencialmente fatal que requer tratamento imediato.

Esta doença pode afetar igualmente outros animais domésticos como o gado, ainda que não os gatos, e trata-se de uma enfermidade aguda particularmente em cães, de prognóstico muito grave e que deve ser tratada com a máxima urgência, já que pode acabar com a vida de um cão numa questão de horas.

A sua taxa de mortalidade é muito elevada, situando-se entre trinta a quarenta por cento nos cães tratados a tempo e em cem por cento nos não tratados. Atualmente, através de cirurgia atempada, a taxa de mortalidade poderá baixar para 15 a 33 por cento.

Causas

Ainda que as causas não estejam completamente esclarecidas, a teoria mais comummente aceite é que devido à acumulação de gases, o estômago dilata até um ponto em que os ligamentos que o fixam não suportam o seu peso e do baço, localizado junto do estômago, provocando a rotação do intestino.

Isto provoca um colapso no fornecimento de sangue às artérias e veias que discorrem pelo estômago, que são estranguladas, impedindo que o sangue chegue a outros órgãos vitais, seja oxigenado adequadamente e produzindo arritmias cardíacas, derivando finalmente em choque, com consequências fatais.

Apesar de não se ter conhecimento exato, outros fatores como o consumo excessivo de alimentos ingeridos de uma só vez, comer demasiado rápido, beber abundantemente e comer antes ou depois da realização de exercício, bem como as situações de stress durante as refeições, são conhecidos e podem influenciar a ocorrência da síndrome.

Para além de também parecer existir certa predisposição genética, há igualmente estudos que indicam que o risco de ocorrência de torção gástrica em cães cujos donos têm a percepção de que o animal é feliz é reduzido, aumentando no entanto nos cães que denotam sinais de timidez e medo.

Isto pode ser devido aos efeitos fisiológicos da personalidade do cão sobre a função e mobilidade do sistema gastrointestinal; em alternativa, os cães poderão tornar-se infelizes como consequência das condições que levam ao aparecimento do inchaço, cujo risco de ocorrência é aumentado nos animais que sofrem de doença inflamatória do intestino.

raças mais susceptíveis

Embora a doença possa ocorrer com qualquer cão, independentemente do seu tamanho ou raça, os mais propensos a esta enfermidade são os que possuem peito profundo e estômago distendido e de tamanho grande ou molossos, sendo no entanto mais frequente em cães de raça que em rafeiros. Segundo "estudos epidemiológicos de torção do estômago em cães" realizados por uma das principais empresas do setor veterinário em Portugal, as raças mais suscetíveis à Torção Gástrica, são: Weimaraner, Setter Irlandês, Gordon Setter, Poodle Standard, Basset Hound, Dobermann, Dogue alemão, São Bernardo, Old English Sheepdog, Braco Alemão de Pelo Curto.

Também os animais mais velhos, especialmente a partir dos 7 anos de idade correm maior risco.

Sintomas

Nem todos os animais desenvolvem sintomas semelhantes, mas é importante que os donos de cães, particularmente os que possuem as raças e características aqui referenciadas como sendo as mais expostas, estejam atentos ao seu aparecimento.

Os sinais de alerta não são necessariamente distinguíveis de outros tipos de sofrimento. Um cão pode ficar desconfortável e aparentar extremo desconforto, mostrando-se inquieto sem motivo aparente.

cão com estômago saliente

Outras possíveis manifestações clínicas incluem distensão tensa do abdómen, decorrente da fermentação do alimento e formação de gases, fraqueza, depressão, dificuldade respiratória, náuseas, hipersalivação (o cão baba-se), sensibilidade extrema na região abdominal, palidez da mucosa gengival e tentativas infrutíferas de vomitar.

Uma alta taxa de cães com dilatação-torção gástrica desenvolve arritmias cardíacas (40 por cento em estudos realizados). A dilatação volvo gástrica crónica pode ocorrer em cães cujos sintomas incluem perda de apetite, vómitos e acentuada perda de peso.

Diagnóstico

Logo que o dono do animal se aperceba de algum dos sintomas enunciados, deve procurar ajuda profissional imediatamente, uma vez que o estômago torcido poderá estar a impedir o suprimento sanguíneo de diversos órgãos podendo o animal entrar em choque em poucas horas.

Se o médico veterinário notar distensão abdominal fora do comum, irá inserir uma sonda até ao estômago, através da boca. Caso não consiga atingir o estômago por meio desta sonda, o diagnóstico de torção gástrica é confirmado. Pode também ser feita uma avaliação radiográfica, mas somente após a estabilização do animal.

O diagnóstico de dilatação-torção gástrica deve ter em conta vários fatores. Muitas vezes, a raça e história conduzem a suspeita significativa de dilatação-torção gástrica, e o exame físico vem revelar sinais de abdómen distendido devido a timpanismo abdominal.

O choque é diagnosticado pela presença de mucosas pálidas, deficiente pelagem, aumento da frequência cardíaca e pulsação fraca. Com o cão estabilizado, um exame radiológico efetuado após descompressão do estômago irá revelar um estômago distendido com gás.

raio-x de torção gástrica

O piloro, que normalmente é ventral e para a direita do estômago, estará cranial para o corpo do estômago e à esquerda da linha média, muitas vezes aparecendo no raio-x separadas por tecido mole e dando a aparência de uma bolsa cheia de gás (sinal de bolha dupla).

Primeiros socorros e tratamento

A dilatação-torção gástrica é uma emergência que requer tratamento por um médico veterinário o mais rapidamente possível. Alguns sites da internet designados por "bloat kits" de primeiros socorros disponibilizam informação sobre a ajuda que pode ser prestada pelos donos de cães no momento em que um ataque de inchaço é descoberto.

A utilização destes "kits" não substitui o tratamento imediato pelo veterinário, pois existe risco de rutura do esófago ou estômago se, na tentativa de aliviar a pressão, o tubo for inserido com força excessiva. É sempre aconselhável procurar orientação de um veterinário antes de tentar qualquer procedimento em casa, pois estes podem agravar ainda mais a condição do animal.

Independentemente do sucesso de um tratamento inicial em casa, a intervenção do médico veterinário é sempre indispensável, como condição para evitar que um deficiente prognóstico agrave o tratamento.

O tratamento veterinário inicial é baseado na descompressão do estômago através de intubação orogástrica e, caso não seja possível realizar esse procedimento, é recomendada a realização de descompressão com agulha e repetição da intubação orogástrica.

O tratamento para o choque deve ser feito concomitantemente com a descompressão e monitorização do animal até sua completa estabilização. Preferencialmente, deve ser feita cirurgia de fixação do estômago na parede abdominal (gastropexia), na sua posição anatómica normal, para prevenir recidivas.

Prevenção

O melhor tratamento é a prevenção. Sendo a grande quantidade de alimentos ingeridos de uma só vez, em refeição única, a principal causa da doença, a primeira medida preventiva para reduzir a sua ocorrência passa por dividir a quantidade total dos alimentos em 2 a 3 refeições, 3 vezes ao dia, evitando a sobrecarga do aparelho digestivo e, principalmente, evitar a concentração da alimentação no período noturno.

Devem ser criadas estratégias para evitar que os cães comam muito depressa pois isso dá origem à criação de bolsas de ar no estômago. Os donos de cães de grande porte devem, além disso, ter particular cuidado evitando a colocação dos recipientes de comida no chão. Devem antes ser colocados em suportes elevados de modo que o cão não tenha que abaixar-se demasiado para comer.

Para além das precauções indicadas, recomenda-se ainda:

– Controlar a ingestão de água durante ou após as refeições;

– Evitar exercícios vigorosos depois das refeições, como pular e correr;

– Evitar situações de stress durante a alimentação (cadelas com cio, cães agressivos);

– Não deixar a comida sempre à disposição do animal a fim de controlar as quantidades ingeridas.

– Evitar rações com taxa de fermentação elevadas, optando pelas ricas em fibras;

– Cirurgia preventiva, caso o animal já tenha apresentado um quadro prévio de torção gástrica;

cirurgia preventiva ao cão

E sobretudo, quando se observe a mínima suspeita de doença, ou sintomas que a prenunciem, pedir a ajuda urgente do médico veterinário assistente da nossa mascote, pois quanto mais cedo o fizermos, maiores as probabilidades de sobrevivência.

Por último, dado existirem determinantes genéticos para a sensibilidade à torção gástrica, deve-se evitar o acasalamento entre cães que apresentem este problema.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Referências Externas:

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