Novo dispositivo repelente previne picada de carraças
Quando se trata de prevenir picadas de carraças – tendo em consideração o aumento dramático das doenças transmitidas por estes insetos, como a febre da carraça –, os tradicionais sprays repelentes ajudam, mas estão longe de serem ideais.
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O DEET (nome comum da N,N-Dietil-m-toluamida) foi desenvolvido para impedir que os extremamente rápidos mosquitos pousem na nossa pele, piquem e se afastem novamente a voar em segundos. Mas as carraças, além de não voarem, esperam que lhes toquemos e sobem então pela nossa pele, onde picam e se alimentam, podendo aí permanecer durante horas ou mesmo dias.
O professor Stephen Rich, da Universidade de Massachusetts Amherst, nos Estados Unidos, lembra que o DEET foi desenvolvido há mais de 75 anos para os mosquitos, e não para as carraças. O ideal seria ter outra ferramenta de repelência – não um repelente de contacto, mas um repelente espacial –, que funcionasse tão bem quanto, ou melhor do que o DEET para as carraças.
As experiências foram realizadas no Laboratório de Zoologia Médica do professor Rich e foi usado um novo dispositivo de libertação controlada desenvolvido pelo cientista Noel Elman. O protótipo consiste numa pequena câmara transparente, equipada com três bastões de escalada verticais, onde os cientistas libertaram os piretroides sintéticos transflutrina e metoflutrina para testar os efeitos nas carraças.
Embora as carraças não entrem em contacto direto com os repelentes, os ingredientes ativos criam um “campo de força” que altera e retarda o avanço dos insetos em direção ao alvo.
Os resultados, publicados recentemente na revista Plos One, permitiram concluir que os dois repelentes espaciais foram eficazes a alterar o comportamento das carraças, tornando-as menos propensas a subir verticalmente e mais propensas a soltar-se ou a cair do bastão.
Os compostos foram testados contra os três principais tipos de carraças que picam humanos nos Estados Unidos: Ixodes scapularis (carraça de patas pretas, ou carraça veado), que pode disseminar a doença de Lyme e anaplasmose, entre outras doenças; Dermacentor variabilis (carraça do cão americano), que pode transmitir a febre da carraça e tularemia; e a Amblyomma americanum (carraça estrela solitária), que pode espalhar erliquiose e tem sido associada a uma alergia a carne vermelha.
Os testes revelaram que a transflutrina deteve 75% da D. variabilis, 67% da A. Americanum e 50% da I. scapularis. Já a metoflutrina foi ligeiramente mais eficaz, detendo 81% da D. variabilis, 73% da A. americanum e 72% da I. scapularis.
Segundo Rich, há ainda muito trabalho a fazer, mas estas descobertas inovadoras vêm comprovar que os repelentes espaciais alteram o comportamento das carraças de uma forma que se espera leve a menos picadas.
Provavelmente, estes repelentes não vão impedir que os insetos cheguem até nós, mas espera-se que ajudem a evitar que permaneçam em nós.
Ainda não se sabe como funcionam os produtos químicos que foram usados. Quando isso acontecer, será possível desenvolver e refinar essas medidas de maneira mais direcionada.