Segundo o principal autor do estudo, o Dr. Anders Holt do Hospital Universitário de Copenhague, na Dinamarca, aproximadamente um em cada seis pacientes com diabetes tipo 2 solicita pelo menos uma prescrição de AINE num ano.

O uso de AINE havia sido anteriormente associado a um risco aumentado de insuficiência cardíaca na população em geral, mas faltavam dados em pacientes com diabetes tipo 2. Uma vez que estes pacientes têm duas vezes mais probabilidades de desenvolver insuficiência cardíaca do que aqueles sem diabetes, os AINE podem ser ainda mais prejudiciais neste grupo de risco.

Na investigação analisou-se a associação entre o uso de AINE a curto prazo e o risco de hospitalização pela primeira vez por insuficiência cardíaca numa coorte nacional de pacientes com diabetes tipo 2. Os cientistas usaram registos dinamarqueses para identificar pacientes diagnosticados com diabetes tipo 2 de 1998 a 2021. Os pacientes com insuficiência cardíaca ou condição reumatológica que requerem uso de AINE a longo prazo foram excluídos.

As informações foram recolhidas a partir de prescrições de AINE orais (celecoxib, diclofenac, ibuprofeno e naproxeno) solicitadas antes da primeira hospitalização por insuficiência cardíaca.

O estudo incluiu 331.189 pacientes com diabetes tipo 2. A média de idade foi de 62 anos e 44% eram mulheres. Durante o primeiro ano após a inclusão no estudo, 16% dos pacientes alegaram pelo menos uma prescrição de AINE, enquanto 3% alegaram pelo menos três prescrições.
O ibuprofeno foi usado por 12,2% dos pacientes, o diclofenac por 3,3%, o naproxeno por 0,9% e o celecoxib por 0,4%. Durante um seguimento médio de 5,85 anos, 23.308 pacientes foram internados com insuficiência cardíaca pela primeira vez.

O uso de AINE foi associado a um risco elevado de hospitalização pela primeira vez por insuficiência cardíaca, com uma razão de chances (OR) de 1,43. Quando os AINE individuais foram analisados separadamente, o risco de hospitalização por insuficiência cardíaca aumentou após o uso de diclofenac ou ibuprofeno, com OR correspondentes de 1,48 e 1,46, respetivamente. O celecoxib e o naproxeno não foram associados a um risco aumentado, provavelmente devido à pequena proporção de prescrições solicitadas.

O Dr. Holt realça que os dados sobre o uso de AINE de venda livre não foram incluídos nesta investigação. Apesar de considerar o facto uma limitação, não pensa que tenha tido impacto nos resultados do estudo, uma vez que os AINE vendidos sem receita compreendem uma pequena proporção do uso total.

Importa referir que este foi um estudo observacional e não se pode concluir que os AINE causem insuficiência cardíaca em pacientes com diabetes tipo 2, no entanto, os resultados sugerem que um potencial aumento do risco de insuficiência cardíaca deve ser tido em consideração ao usar esses medicamentos.