DR. GOOGLE, OS PERIGOS DO AUTODIAGNÓSTICO

DR. GOOGLE, OS PERIGOS DO AUTODIAGNÓSTICO

SOCIEDADE E SAÚDE

  Tupam Editores

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Perante a atual situação de confinamento devido à pandemia por COVID-19, as pessoas estão psicologicamente mais fragilizadas não somente devido ao isolamento em si mesmo, mas principalmente devido às restrições e/ou inibição de afetos, aos medos e sintomas de doença que tendem a agravar-se por limitações de atividade, contactos sociais e de vivência ao ar livre.

Em caso de ocorrência de sintomas de doença, tendo em conta os receios e muitas vezes impossibilidade de deslocação a uma unidade de saúde, a primeira opção das pessoas em isolamento é pesquisar na internet a fim de tentar identificar uma possível causa, o que também pode ocorrer em situações de normalidade, em paralelo com as recomendações médicas, como que para as validar.

Esta situação é tanto mais frequente quando ao procurarmos uma consulta médica, virtual ou presencial, o médico em nada valoriza o que o paciente lhe pretende transmitir, demonstrando pelo contrário uma atitude de sobranceria ou impaciência, seja por cansaço ou por a ampulheta estar a contar.

Dada a enorme popularidade do browser, a tendência é efetuar a pesquisa através do “Dr. Google”, que instantaneamente lhe devolve milhões de respostas, a maioria das quais inconclusivas para um leigo em medicina ou, pior ainda, lhe proporciona respostas que poderão indiciar doença grave para uma simples dor de cabeça, por exemplo, agravando o seu nível de ansiedade e levando-a a procurar um médico ou as urgências hospitalares, sem justificação.

Os pacientes estão a utilizar cada vez com mais frequência o rastreador “Dr. Google”, o que se fica a dever à popularidade do browser que lhe deu origem. Quando se faz uma pesquisa por “dr. google site”, que está em constante atualização, obtém-se o impressionante resultado de cerca de 5,6 mil milhões de respostas, estimando-se que existam mais de mil milhões de pesquisas diárias relacionadas com saúde, correspondendo a mais de 7 por cento de todas as pesquisas efetuadas na plataforma.

Não é de estranhar que assim seja, já que a internet é muito provavelmente a primeira fonte a que se recorre no caso de perguntas relacionadas com saúde. Há, todavia, estudos recentes da Edith Cowan University da Austrália, que nos revelam que somente 36 por cento das pesquisas por sintomas, através daquela ferramenta de pesquisa, merecem credibilidade.

Por outo lado, perante o novo coronavírus, o autodiagnóstico e a automedicação através da internet, podem ser perigosos pelo facto de os sintomas da COVID-19 serem similares aos de uma gripe vulgar e uma automedicação descontrolada pode agravar o quadro clínico, além de poder afetar outras comorbilidades.

É que “o diabo está nos detalhes” e para os descobrir a pessoa certa é um médico, sendo certo que muitos deles também utilizam o Google e o Youtube para pesquisas complementares que os ajudem na sua atividade diária, muito embora usando o critério adequado e as ferramentas ou sites específicos da sua profissão, cujo entendimento não está acessível à pessoa comum.

A qualidade e as limitações da informação via internet, designadamente através do Dr. Google e outras aplicações de saúde similares, têm hoje um impacto importante nas relações médico-paciente, sendo um bom ponto de partida para ajudar o paciente na identificação dos sintomas, não devendo nunca ser a resposta final para o diagnóstico, que competirá sempre ao médico.

O facto de um tão elevado número de pacientes aceder à internet para identificar uma condição médica ou sobre ela tirar dúvidas, levanta preocupações sobre aquilo que é designado atualmente por “cibercondria”, exigindo que os médicos tenham de se adaptar, para os ajudarem a diferenciar os sites úteis dos fraudulentos. Vocábulo recente, a cibercondria é uma perturbação semelhante à hipocondria, mas intensificada pela informação sobre doenças, obtida na internet.

Tendências na medicina

Embora acreditemos que a maioria dos médicos esteja hoje aberta aos novos avanços tecnológicos, de uma maneira geral, os novos adventos da internet, que permitem aos pacientes obter possíveis disgnósticos para os seus sintomas, não agradam de todo a essa maioria de clínicos que por vezes se sentem confrontados com informação deturpada ou incompleta.

Com a rápida expansão dos meios tecnológicos e acesso generalizado à internet, quem nunca recorreu a esta ferramenta quando se sente mal? A tendência crescente dos pacientes em utilizar o “Dr. Google” para identificar uma condição médica em si próprio ou em outra pessoa, levanta preocupações de vária ordem de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center, revelando que em média 78 por cento dos adultos usam a internet e destes, 83 por cento pesquisam informação online sobre saúde, usando milhares de aplicações (Apps) gratuitas, disponíveis online.

Dado o volume de resultados obtidos nas pesquisas, a preocupação clássica do médico é que o paciente adulto ao ter uma dor de cabeça, não manifeste estar assustado porque foi persuadido por via cibernética, de que tinha um tumor cerebral imaginário, fenómeno que corresponde à cibercondria.

Porém, os defensores das ferramentas da Web argumentam que os médicos que se opõem às Apps para rastreio de sintomas, sofrem de preocupação excessiva, argumentando que paciente bem informado sobre o seu estado de saúde e que possa exprimir com clareza os seus sintomas, pode contribuir em muito para uma melhor decisão médica.

Assim, independentemente do que cada clínico sinta em relação aos pacientes mais dependentes da internet, é necessário que os médicos adaptem as suas práticas às novas realidades, para lidarem eficazmente com as ferramentas de verificação de sintomas, até porque é irrelevante a sua opinião já que os pacientes continuarão a usá-las.

A cooperação médico-paciente

Como acontece com qualquer ferramenta, é necessária uma compreensão eficaz do funcionamento das Apps de rastreio de sintomas e alguma prática na sua utilização, para se obterem resultados otimizados e, sempre que se julgue necessário, experimentar as aplicações online usadas por determinado paciente, a fim de validar ou não as suas suspeitas.

O médico deve igualmente poder dispor de tempo e manter-se disponível para se colocar no papel do paciente, interrogando-se sobre se a informação prestada será ou não útil a uma pessoa sem formação em medicina ou muitas vezes sem literacia suficiente para o entender, mantendo-se recetivo ao diálogo com os pacientes, a fim de iniciar um processo cooperação eficaz.

Além disso, para uma correta avaliação médica e garantia de precisão no exercício de sua atividade, é fundamental que o médico se mantenha atualizado, através de sites de medicina certificados onde possa trocar informação regularmente com seus pares, garantindo a solidez das fontes de consulta usadas.

Por seu lado, o paciente mais bem informado, é muito mais fácil de seguir e permite que o médico alcance um nível mais elevado de interação, diagnóstico e tratamento mais rapidamente e de forma mais frutífera, além de potencialmente poder contribuir para que os pacientes na condição de urgente ou tratável, o possam fazer nos seus domicílios, libertando recursos técnicos e humanos para outras tarefas mais urgentes.

Além do Dr. Google, uma das ferramentas mais procuradas e fiáveis dirigida a médicos, profissionais de saúde e leigos, é atualmente o Medscape, líder mundial para rastreio de sintomas e informação médica, cobrindo de um modo geral todas as áreas da medicina, sendo atualizada diariamente e estando disponível online e em Apps em língua portuguesa.

Os especialistas alertam para que as ferramentas de rastreio de sintomas de saúde, disponíveis na internet, podem economizar tempo e custos nos cuidados, quando utilizadas de forma criteriosa e inteligente, mas não foram criadas para que as pessoas se autodiagnostiquem ou automediquem, não podendo por isso substituir o médico ou especialista em saúde, mas ajudando-os na decisão.

O Dr. Google não é um consultório médico. Pesquisar sintomas de doença online ou através de Apps, pode ser uma prática perigosa tanto para a saúde, quanto para a privacidade da informação mais sensível de cada um de nós, pois os algoritmos usados nessas ferramentas permanecem guardados nos servidores a que se acede.

Se ainda assim, tende a fazer pesquisas por essa via, certifique-se de que: vai usar sites confiáveis; não vai ler apenas um diagnóstico; vai conversar com um médico sobre a sua suspeita de diagnóstico, e sobretudo não entre em stress devido à sua possível condição de saúde imaginada, a cibercondria.

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