Medicamento para pressão arterial pode combater o cancro
Um novo estudo da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, revelou que um medicamento comum usado no tratamento da pressão arterial desde os anos 50 pode ajudar a combater o cancro e evitar o seu crescimento rápido.

Em causa está o uso da hidralazina – um dos primeiros vasodilatadores já desenvolvidos que ainda é um tratamento de primeira linha para a pré-eclâmpsia, uma doença hipertensiva responsável por 5 a 15% das mortes maternas em todo o mundo.
De acordo com Kyosuke Shishikura, um dos responsáveis pelo estudo, este surgiu numa era “pré-alvo” da descoberta de medicamentos, quando os investigadores se baseavam primeiro no que observavam nos pacientes e só depois tentavam explicar a biologia por trás disso.
Os especialistas descobriram como o medicamento pode atuar diretamente numa enzima, a 2-aminoetanotiol dioxigenase (ADO), que ajuda as células a sobreviver quando os níveis de oxigénio são mais baixos. Este pode ser um fator que leva ao rápido crescimento de tumores que são resistentes a alguns tratamentos.
O estudo, publicado na revista Science Advances, procurou mostrar como o medicamento era capaz de se ligar a esta enzima e impedi-la de funcionar e acabar por dar outra resposta à forma como reage ao oxigénio.
Ao contrário da quimioterapia, que visa matar todas as células de uma vez, a hidralazina interrompeu esse circuito de deteção de oxigénio, desencadeando a “senescência” celular, ou seja, um estado dormente e de não divisão nas células do glioblastoma, interrompendo efetivamente o crescimento sem desencadear mais inflamação ou resistência.
As descobertas destacam como tratamentos antigos podem revelar novos potenciais terapêuticos e ajudar no desenvolvimento de medicamentos mais seguros e eficazes tanto para a saúde materna quanto para o cancro cerebral.
O próximo passo dos investigadores é aprimorar ainda mais a química, desenvolvendo novos inibidores de adenosina (ADO) que sejam mais específicos para cada tecido e mais eficazes em atravessar, ou explorar, os pontos fracos da barreira hematoencefálica, de modo a atingir o tecido tumoral com força, preservando o resto do corpo.
É raro um medicamento cardiovascular antigo ensinar algo novo sobre o cérebro, mas é exatamente isso que se espera encontrar com maior frequência: ligações comuns que possam representar novas soluções.