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Pessoas com insónia podem ter envelhecimento cerebral acelerado

Pessoas com insónia crónica podem apresentar declínios mais rápidos na memória e na capacidade de raciocínio à medida que envelhecem – juntamente com alterações cerebrais que podem ser observadas em exames de imagem – do que pessoas que não sofrem deste distúrbio do sono, sugere um estudo levado a cabo por investigadores da Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota.

Pessoas com insónia podem ter envelhecimento cerebral acelerado


A insónia crónica é um distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade persistente em adormecer, manter o sono ou acordar demasiado cedo, que ocorre pelo menos três vezes por semana durante um período superior a três meses, e que afeta significativamente a qualidade de vida e o funcionamento diário.

O estudo, publicado na Neurology, acompanhou um grupo de idosos cognitivamente saudáveis – 2.750 pessoas com idade média de 70 anos – durante uma média de 5,6 anos. Dos participantes, 16% tinham insónia crónica.

No início da investigação, os participantes foram questionados se haviam dormido mais ou menos do que o habitual nas últimas duas semanas. Também realizaram testes anuais de raciocínio e memória, e alguns foram submetidos a exames de imagem cerebral para procurar hiperintensidades na substância branca – áreas onde a doença de pequenos vasos pode ter danificado o tecido cerebral – e placas amiloides, uma proteína que se pode acumular e que está associada à doença de Alzheimer.

Os investigadores descobriram que durante o estudo, 14% das pessoas com insónia crónica desenvolveram comprometimento cognitivo leve ou demência, em comparação com 10% das que não tinham insónia.

Após considerar fatores como idade, tensão alta, uso de medicamentos para dormir e diagnóstico de apneia do sono, constataram que as pessoas com insónia tinham 40% mais probabilidades de desenvolver comprometimento cognitivo leve ou demência do que aquelas sem o distúrbio. Estas pessoas também apresentaram declínios mais rápidos em testes que mediam diferentes capacidades de pensamento.

Entre os indivíduos com insónia, os especialistas determinaram o tipo: aqueles que dormiram menos do que o habitual nas últimas duas semanas; ou aqueles que dormiram mais do que o habitual nas últimas duas semanas.

Aqueles que relataram dormir menos do que o habitual tinham maior propensão para apresentar pontuações mais baixas nos testes cognitivos realizados no início do estudo, o que equivalia a serem quatro anos mais velhas. Estas pessoas apresentavam ainda mais hiperintensidades na substância branca e placas amiloides. Para amiloide, o efeito foi semelhante ao observado em pessoas com o gene APOE ε4 – um conhecido fator de risco genético.

Já as pessoas que relataram dormir mais do que o habitual tinham mais propensão para apresentar menos hiperintensidades na substância branca no início do estudo.
Alguns grupos eram especialmente vulneráveis. Os participantes portadores do gene APOE ε4 – associado a um maior risco de Alzheimer – apresentaram declínios mais acentuados na memória e nas capacidades de pensamento.

De acordo com Diego Z. Carvalho, autor do estudo, os resultados sugerem que a insónia pode afetar o cérebro de diferentes maneiras, envolvendo não apenas as placas amiloides, mas também pequenos vasos que irrigam o cérebro.
Isso reforça a importância do tratamento da insónia crónica – não só para melhorar a qualidade do sono, mas potencialmente para proteger a saúde do cérebro à medida que se envelhece. As descobertas também estão de acordo com as evidências de que o sono não se limita apenas ao descanso, também diz respeito à resiliência cerebral.

Fonte: Tupam Editores

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