Sono fragmentado afeta mais o cérebro das mulheres
Às vezes pensamos que dormir é uma perda de tempo. Que existem coisas mais importantes para fazer do que fechar os olhos durante oito horas. Mas dormir não é apenas descansar. E se alguém lhe dissesse que, enquanto dorme, o seu cérebro se defende contra o Alzheimer?

Um novo estudo, liderado por investigadores da Fundação Pasqual Maragall, em Barcelona, revelou como o sono fragmentado afeta os nossos cérebros – danos que também são observados na doença de Alzheimer. E os efeitos foram especialmente pronunciados em mulheres.
Não se trata de uma única noite sem dormir, mas de noites repetidas de sono fragmentado. Não conseguir descansar profundamente, acordar sem saber o porquê ou sentir que se dormiu, mas continuar exausto.
A investigação, publicada na revista científica Alzheimer's & Dementia, permitiu descobrir algo perturbador: um sono de má qualidade pode causar alterações no cérebro muito antes do aparecimento dos primeiros sintomas de Alzheimer. Esses danos ocorrem mesmo em pessoas completamente saudáveis, sem sinais de declínio cognitivo.
Ao que parece, interrupções frequentes no sono durante a noite estão ligadas a alterações em regiões muito sensíveis do cérebro. Essas áreas estão diretamente envolvidas na memória e na aprendizagem e são as primeiras a serem afetadas pelo Alzheimer.
De acordo com o Dr. Grau, diretor do estudo, os distúrbios do sono são uma característica comum do envelhecimento e são ainda mais pronunciados em pessoas com Alzheimer. Foram observadas mudanças mensuráveis na estrutura cerebral que ocorrem independentemente dos biomarcadores clássicos do Alzheimer.
Normalmente, para determinar se alguém pode desenvolver Alzheimer, são procurados sinais muito específicos no cérebro ou no líquido cefalorraquidiano, como o acúmulo de proteínas beta-amiloide ou tau. No entanto, neste caso, esses marcadores típicos não estavam presentes, mas houve dano cerebral. Por outras palavras, a deterioração não segue necessariamente o caminho tradicional associado ao Alzheimer.
Isto sugere que a fragmentação do sono pode contribuir para as alterações cerebrais por caminhos que ainda não estão completamente compreendidos. Os especialistas descobriram que as mulheres parecem ser mais vulneráveis a esses efeitos. Apesar de dormirem mais, em média, os efeitos do sono interrompido foram mais evidentes nelas.
O motivo ainda não está claro, mas estudos anteriores sugerem que as alterações hormonais durante a menopausa podem desempenhar um papel importante.
O estudo analisou 171 adultos que faziam parte de um grupo de voluntários do Centro de Investigação Cerebral Barcelonaβeta com histórico familiar de Alzheimer ou marcadores precoces, como níveis elevados de proteínas beta-amiloides. Embora saudáveis, os participantes tinham um risco aumentado de Alzheimer.
Na investigação foi utilizado um actígrafo – um dispositivo semelhante a um relógio que, durante duas semanas, monitorizou os padrões de sono e forneceu uma avaliação mais precisa da qualidade do sono dos indivíduos. Foram ainda realizadas ressonâncias magnéticas e análises do líquido cefalorraquidiano.
Foi possível constatar que quando havia mais despertares noturnos e, portanto, um sono mais fragmentado, a pessoa apresentava menos espessura em certas áreas do cérebro. Especificamente, no lobo temporal medial, uma região muito importante para a memória e uma das primeiras áreas a ser danificada no Alzheimer.
O sono é uma função vital, tal como respirar. Durante o sono, o cérebro elimina toxinas, consolida memórias, repara conexões neurais e regula o humor. O sono influencia o sistema imunológico, o coração, o metabolismo e, claro, o cérebro.
Quando não dormimos bem, uma espécie de “stress cerebral” é desencadeada. Os neurónios comunicam-se com menos eficácia, as memórias não são devidamente estabelecidas e a inflamação no sistema nervoso aumenta.