O anticorpo, que protegeu os ratinhos do veneno normalmente mortal de cobras, incluindo mambas negras e cobras-rei, foi descrito na Science Translational Medicine. Na investigação foram utilizadas formas de toxinas produzidas em laboratório para examinar milhares de milhões de anticorpos humanos diferentes e identificar aquele que poderia bloquear a atividade das toxinas.

A descoberta representa um grande passo em direção a um antiveneno universal que seria eficaz contra o veneno de todas as cobras.

Morrem mais de 100.000 pessoas por ano, principalmente na Ásia e em África, devido a envenenamento por picada de cobra – tornando-o mais mortal do que a maioria das doenças tropicais negligenciadas.

Os antivenenos atuais são produzidos imunizando animais com veneno de cobra, e cada um geralmente funciona apenas contra uma única espécie de cobra, o que significa que têm de ser fabricados muitos antivenenos diferentes para tratar picadas de cobra nas diferentes regiões.

No novo estudo, os investigadores isolaram e compararam proteínas de veneno de uma variedade de elapídeos – um grupo importante de cobras venenosas que inclui mambas, cobras e kraits. Descobriram, então, que um tipo de proteína denominada toxina de três dedos (3FTx), presente em todas as cobras elapidae, continha pequenas secções que pareciam semelhantes em diferentes espécies.

As proteínas 3FTx são consideradas altamente tóxicas e responsáveis pela paralisia de todo o corpo, o que as torna um alvo terapêutico ideal. Com o objetivo de descobrir um anticorpo para bloquear o 3FTx, a equipa criou uma plataforma inovadora que colocou os genes de 16 3FTx diferentes em células de mamíferos, que então produziram as toxinas em laboratório.

Quando a busca foi reduzida a cerca de 3.800 anticorpos, os especialistas testaram esses anticorpos para identificar quais desses também reconheciam outras quatro variantes do 3FTx. Entre os 30 anticorpos identificados nessa triagem, houve um que se destacou por ter as interações mais fortes entre todas as variantes da toxina: um anticorpo denominado 95Mat5.

Os investigadores observaram o efeito do 95Mat5 em ratinhos injetados com toxinas da krait, da cobra cuspidora indiana, da mamba negra e da cobra-real. Em todos os casos, os animais que receberam simultaneamente uma injeção de 95Mat5 não foram apenas protegidos da morte, mas também da paralisia.

Ao estudar exatamente como o 95Mat5 era tão eficaz no bloqueio das variantes 3FTx, a equipa descobriu que o anticorpo imitava a estrutura da proteína humana à qual o 3FTx normalmente se liga.

Embora o 95Mat5 seja eficaz contra o veneno de todos os elapídeos, ele não bloqueia o veneno das víboras – o segundo grupo de cobras venenosas. O grupo de investigadores está agora à procura de anticorpos amplamente neutralizantes contra outra toxina elapídica, assim como de duas toxinas de víbora. Suspeita-se de que a combinação do 95Mat5 com esses outros anticorpos poderia dar ampla cobertura contra muitos – ou todos – os venenos de cobra.

Segundo Irene Khalek, primeira autora do artigo, um cocktail destes quatro anticorpos poderia potencialmente funcionar como um antiveneno universal contra qualquer cobra clinicamente relevante no mundo.