CARDIOLOGIA

Serotonina pode contribuir para doenças das válvulas cardíacas

O neurotransmissor serotonina pode afetar adversamente a válvula mitral do coração, contribuindo para uma doença cardíaca conhecida como regurgitação mitral degenerativa, sugere um novo estudo multicêntrico realizado por cientistas do Pediatric Heart Valve Center no Children's Hospital of Philadelphia.

Serotonina pode contribuir para doenças das válvulas cardíacas

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A regurgitação mitral degenerativa é uma das valvopatias cardíacas mais comuns. Uma válvula mitral saudável fecha firmemente a abertura entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo quando o coração se contrai. Com a regurgitação degenerativa da válvula mitral, a forma da válvula mitral fica deformada e a válvula não consegue fechar completamente quando o coração se contrai, o que permite que algum sangue vaze para o átrio esquerdo. Esse fluxo sanguíneo anormal é chamado de regurgitação.

Inicialmente os pacientes são assintomáticos, mas com o tempo a válvula mitral torna-se espessa e deformada e estes sentem progressivamente cansaço e falta de ar. Como o bombeamento se torna menos eficiente devido a esse vazamento, o coração necessita de trabalhar mais. Esse trabalho extra para o coração eventualmente causa insuficiência cardíaca congestiva.

Certos medicamentos podem aliviar os sintomas e prevenir complicações, mas não tratam a causa subjacente da doença. Se a degeneração da válvula mitral se tornar grave, é necessária uma cirurgia para a reparar ou substituir.

A fim de entender melhor os fatores que contribuem para a progressão da doença, os especialistas analisaram dados de mais de 9.000 pacientes submetidos a cirurgia para doença degenerativa da válvula mitral e avaliaram 100 biópsias de válvulas mitrais humanas, além de estudar modelos de ratinhos.

Descobriram, então, que o uso de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) – os antidepressivos mais comumente prescritos – estava associado à regurgitação mitral grave que exigia cirurgia numa idade mais jovem, do que os doentes que não tomavam ISRS.

Nos modelos animais, os cientistas verificaram que ratinhos normais tratados com altas doses de ISRS desenvolveram válvulas mitrais espessadas. Descobriram ainda que animais sem o gene do transportador de serotonina (SERT), o alvo dos ISRS – que transporta a serotonina para as células, onde não se pode ligar aos receptores e enviar sinais –, desenvolveram válvulas mitrais mais espessas.

Através de análise genética, foi possível identificar variantes genéticas numa região do gene SERT (5HTTLPR) que afetam o quão ativo é este gene. Pacientes com duas cópias de uma variação “longa” do gene que torna o SERT menos ativo – uma cópia da mãe e outra do pai – tiveram uma atividade do SERT muito menor e necessitaram de cirurgia com mais frequência.

Os pacientes com esta variante “longa-longa” tinham maior propensão para reagir à serotonina de uma forma que poderia alterar a forma da válvula mitral. Além disso, as células da válvula mitral “longa-longa” foram mais sensíveis ao tratamento com ISRS do que as células de outras variantes.

Os cientistas constataram que não se encontrou efeito negativo com doses normais de ISRS e que uma válvula mitral saudável pode tolerar SERT baixo sem deformar, pois é improvável que o SERT baixo possa causar degeneração da válvula mitral por si só. A suspeita é que, uma vez que a válvula mitral tenha começado a degenerar, possa ser mais suscetível à serotonina e ao baixo SERT.

O estudo, publicado recentemente na Science Translational Medicine, mostrou que tomar ISRS e ter a variante genética SERT “longa-longa” reduz a atividade SERT na válvula mitral. Assim, os cientistas sugerem que a avaliação de pacientes com regurgitação mitral degenerativa conhecida para potencial baixa atividade SERT por genotipagem para 5HTTLPR pode ajudar a identificar aqueles pacientes que podem necessitar de cirurgia de válvula mitral mais cedo.

Fonte: Tupam Editores

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