OBESIDADE

Combate à obesidade ganha novo aliado

Cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) descobriram uma nova anfetamina capaz de auxiliar na perda de peso sem apresentar os efeitos colaterais indesejáveis de outros tratamentos já existentes.

Combate à obesidade ganha novo aliado

MEDICINA E MEDICAMENTOS

MOSQUITOS PORTADORES DE DOENÇAS

Historicamente, medicamentos semelhantes a anfetaminas, como a fentermina, têm sido alguns dos fármacos antiobesidade mais receitados em todo o mundo contra a obesidade, atuando no cérebro suprimindo o apetite.

Contudo, além de criarem dependência, eles ainda podem ter efeitos secundários perigosos, como aumento da frequência cardíaca, hipertensão ou hipertermia.

A equipa liderada pela investigadora Ana Domingos, do IGC, modificou a anfetamina para que não entrasse no cérebro, evitando, assim, a manifestação dos conhecidos efeitos secundários.

O que a equipa descobriu foi que os efeitos cardíacos das anfetaminas têm origem no cérebro, e não diretamente no coração.

“Sempre se pensou que os efeitos nocivos da anfetamina no sistema cardiovascular eram resultado de uma estimulação direta dos próprios nervos simpáticos cardíacos, e não de uma ação central no cérebro, onde sabemos que ela atua, por exemplo, para suprimir o apetite, apesar da falta de evidências experimentais que favoreçam um mecanismo em detrimento do outro”, comentou Ana Domingos.

Para testar a hipótese de que os efeitos cardíacos das anfetaminas poderiam ter origem cefálica, a equipa desenvolveu um fármaco similar, mas que não atravessa a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro. Trata-se de uma anfetamina peguilada, batizada de PEGyAMPH.

Testes realizados em animais comprovaram que a PEGyAMPH não chega ao cérebro, mas retém a capacidade de facilitar a ativação de neurónios simpáticos e aumentar a estimulação simpática dos tecidos adiposos (a gordura), protegendo as cobaias contra a obesidade. E o fármaco faz isso sem produzir efeitos comportamentais, tais como a diminuição do apetite e o aumento da atividade locomotora.

“Foi extremamente emocionante quando vimos que, enquanto os ratos não tratados armazenavam rapidamente o excesso de gordura, os que recebiam tratamento resistiam ao ganho de peso”, disse a investigadora Inês Mahú, membro da equipa.

Assim, a PEGyAMPH reduz a obesidade com um efeito comparável ao da anfetamina, mas por um mecanismo distinto - que ainda terá que ser descrito detalhadamente, em que não apresenta efeitos relacionados com a ação cerebral do fármaco original, mas aumenta o gasto energético corporal. Por outras palavras, o novo medicamento não apresenta o risco de dependência química.

Os investigadores já estão a trabalhar no sentido de licenciar esta tecnologia, já patenteada, a parceiros industriais, para que a descoberta chegue às farmácias brevemente.


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