CÉREBRO

Falar vários idiomas protege o cérebro do declínio cognitivo

Falar mais de um idioma não só facilita a comunicação intercultural, como fortalece as funções cognitivas que enfraquecem naturalmente com a idade, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Aging. Ao que parece, o multilinguismo protege o cérebro contra o envelhecimento acelerado, tanto cognitiva quanto funcionalmente.

Falar vários idiomas protege o cérebro do declínio cognitivo


A investigação, conduzida por uma equipa internacional de especialistas, analisou dados de 86.149 pessoas em 27 países europeus e permitiu descobrir uma relação entre falar vários idiomas e uma idade biológica e mental mais jovem.

Os investigadores mediram o que chamam de diferença de idade biocomportamental – a diferença entre a idade cronológica de uma pessoa e a sua idade real – com base na sua saúde, funcionamento, educação e outros fatores de risco ou proteção.

Para o efeito desenvolveram um modelo baseado em inteligência artificial para estimar a idade de uma pessoa com base na sua saúde, habilidades cognitivas e ambiente. O modelo considerou fatores de risco (como hipertensão, diabetes e problemas de audição) e fatores de proteção (como educação, cognição e capacidade funcional).

Com base nessas informações, o algoritmo calculou a idade biológica esperada. Posteriormente, os especialistas compararam esse valor com a idade cronológica: se a diferença fosse negativa, significava que a pessoa tinha um envelhecimento mais lento, aparentando ser mais jovem do que a sua idade sugeriria. Mas se a diferença fosse positiva, significava que a pessoa estava a envelhecer mais rapidamente do que o esperado.

Segundo o neurocientista chileno Hernán Hernández, coautor do estudo, quanto maior o número de idiomas falados, maior o efeito protetor. Além disso, as pessoas monolingues têm um risco maior de envelhecimento acelerado do que aqueles que falam mais de um idioma. Ou seja, não só há um benefício em falar vários idiomas, como falar apenas uma língua surge como um fator de risco.

Para o linguista e neurocientista americano Jason Rothman, que não participou do estudo, gerir mais do que um idioma tem um custo cognitivo. O cérebro precisa de manter vários sistemas ativos simultaneamente e escolher qual usar em cada contexto.
Cada vez que um falante bilíngue escolhe uma palavra, suprime outra, e cada vez que alterna entre idiomas reajusta as redes cerebrais que controlam a atenção e a memória – funções que se deterioram com a idade.

Segundo os autores da investigação, promover o multilinguismo não deve ser considerado apenas uma questão cultural, mas também um investimento em saúde pública. O estudo propõe uma iniciativa que visa incentivar um envelhecimento mais saudável, promovendo a aprendizagem e o uso de múltiplos idiomas como uma estratégia tão importante quanto a atividade física ou a alimentação saudável.

A educação é um dos fatores que mais influenciam a forma como uma pessoa envelhece, existindo uma relação bastante direta entre os dois.
Para Rothman, o ensino de outros idiomas não deve ser implementado apenas nas escolas, também é necessário proporcionar às pessoas oportunidades reais de os usar. Além disso, esta aprendizagem não deve limitar-se à infância, mas ser mantida ao longo da vida. Aprender idiomas é um investimento na saúde cognitiva e na forma como se envelhece.

Fonte: Tupam Editores

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