Medicamento para EM pode acelerar a cicatrização dos ossos
A demora na consolidação óssea é comum em tratamentos clínicos ortopédicos. Uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Arizona, em Tucson, descobriu evidências de que um medicamento que melhora a capacidade de caminhar em pessoas com esclerose múltipla (EM) também pode acelerar a cicatrização de fraturas ósseas.

As descobertas contribuem para a compreensão de fatores específicos envolvidos no processo de cicatrização óssea e, potencialmente, abrem caminho para novas abordagens terapêuticas.
Os ossos partidos costumam demorar a curar em muitas pessoas tendo impacto durante meses, de diferentes maneiras, nas suas vidas. Além da perda de tempo no trabalho, as atividades diárias em casa com a família e amigos também são afetadas. Mas o medicamento 4-aminopiridina, ou 4-AP, tem potencial para mudar isso.
O medicamento está aprovado para o tratamento de condições neurológicas crónicas, onde auxilia na marcha, melhorando a forma como os sinais do cérebro e da medula espinhal chegam aos membros.
Num estudo pré-clínico realizado com ratinhos, John Elfar, em parceria com Prem Kumar Govindappa, demonstrou que o tratamento com o 4-AP resultou em fraturas nas pernas com cicatrização mais rápida e mais forte do que sem o medicamento.
Observou-se mais massa óssea e menos cartilagem intermediária, o que significa que houve uma consolidação óssea acelerada.
A equipa observou ainda melhorias na massa óssea e na capacidade de suportar peso após o tratamento com 4-AP. A deposição de colagénio e a mineralização óssea, ambas necessárias para a consolidação óssea, também receberam um impulso.
O colagénio forma a base estrutural dos ossos. Na mineralização óssea, minerais como cálcio e fosfato unem-se à matriz óssea recém-formada, fortalecendo e endurecendo o osso.
A investigação, publicada no Journal of Bone and Joint Surgery, permitiu descobrir que todas as medidas precisas da resistência óssea melhoraram após a administração de 4-AP aos ratinhos. Encontrou-se ainda mais proteína BMP2 – uma hormona que o corpo produz para acelerar a cicatrização óssea –, nas células formadoras de osso no local da fratura, o que mais uma vez indicou que se descobriu algo que poderia acelerar o processo.
Segundo Elfar, autor sénior do estudo, o papel do 4-AP na condução da atividade do gene e da proteína BMP2 é fundamental para os seus efeitos na cicatrização óssea, e o uso do 4-AP para estimular a produção de BMP2 no corpo pode ser especialmente importante.
Anteriormente, os cientistas demonstraram que o 4-AP pode prevenir a perda óssea e muscular num modelo murino de lesão nervosa. Da mesma forma, observaram indícios dos efeitos curativos do 4-AP em feridas, nervos e lesões nos membros.
O próximo objetivo dos especialistas é testar o potencial uso do 4-AP na cicatrização óssea num ensaio clínico. A equipa também quer entender melhor os efeitos do medicamento na produção de BMP2 e, de forma mais ampla, na biologia da cicatrização óssea.