Teste genético prevê obesidade futura logo na infância
A obesidade é um grande problema de saúde pública que causa ou agrava muitas doenças crónicas e leva à redução da expetativa de vida. Até 2035, prevê-se que mais de metade da população global desenvolva excesso de peso ou obesidade. E embora as intervenções intensivas no estilo de vida, a cirurgia bariátrica e os medicamentos para perda de peso sejam opções de tratamento eficazes, não são isentas de riscos, nem estão universalmente disponíveis. Mas, e se fosse possível evitar que as pessoas desenvolvessem obesidade?

Com base em dados genéticos de mais de cinco milhões de pessoas, uma equipa internacional de investigadores criou um teste genético denominado Pontuação de Risco Poligénico (PRP), que prevê o desenvolvimento de obesidade na idade adulta logo na primeira infância.
A descoberta pode ajudar a identificar crianças e adolescentes em maior risco genético de desenvolver obesidade, que poderiam beneficiar de estratégias preventivas direcionadas, como intervenções no estilo de vida, desde cedo.
De acordo com Roelof Smit, autor da investigação, o que torna o PRP tão poderoso é a sua capacidade de prever, antes dos cinco anos de idade, se uma criança tem probabilidade de desenvolver obesidade na idade adulta, muito antes de outros fatores de risco começarem a moldar o seu peso mais tarde na infância. Intervir nessa altura pode ter um enorme impacto no seu futuro.
O estudo, publicado na Nature Medicine, envolveu uma colaboração com a empresa de genética 23andMe, e as contribuições de mais de 600 cientistas de 500 instituições em todo o mundo.
As variações mais subtis no genoma podem ter um impacto muito significativo na nossa saúde. Foram identificadas milhares de variantes genéticas que aumentam o risco de obesidade, por exemplo, variantes que atuam no cérebro e que influenciam o apetite. Um PRP é como uma calculadora que combina os efeitos das diferentes variantes de risco que uma pessoa carrega e que dá uma pontuação geral.
Para criar o PRP, os especialistas utilizaram dados genéticos de mais de cinco milhões de pessoas (4,6% de ascendência africana, 14,4% de ascendência americana, 8,4% de ascendência leste-asiática, 71,1% de ascendência europeia e 1,5% de ascendência sul-asiática).
Em seguida, testaram o seu novo PRP para obesidade em conjuntos de dados das características físicas e genéticas de mais de 500.000 pessoas. Descobriram, então, que o novo PRP era duas vezes mais eficaz na previsão do risco de uma pessoa desenvolver obesidade do que o melhor teste anterior.
Foi ainda investigada a relação entre o risco genético de obesidade de uma pessoa e o impacto de intervenções de estilo de vida para perda de peso, como dieta e exercícios. Apurou-se que as pessoas com maior risco genético de obesidade eram mais responsivas às intervenções, mas também recuperavam o peso mais rapidamente após o fim das intervenções.
Apesar dos resultados, os investigadores referem que o novo PRP também tem limitações. Por exemplo, apesar de se basear no genoma de uma população mais ampla e globalmente representativa, foi muito melhor na previsão da obesidade em pessoas de ascendência europeia do que em pessoas de ascendência africana.