Exame de sangue pode prever recidiva da EM
Um estudo levado a cabo por investigadores da Universidade Médica de Graz, na Áustria, permitiu descobrir que um exame de sangue pode prever quando pacientes com esclerose múltipla (EM) estão prestes a sofrer uma recaída dos sintomas.

Os níveis sanguíneos de uma proteína denominada neurofilamento de cadeia leve aumentam significativamente em pacientes com EM até um ano antes de uma recaída. Este tipo de deteção precoce pode ajudar os médicos a prepararem-se para a recaída, garantindo o tratamento oportuno e potencialmente retardando a progressão da doença.
Para Maria Martinez-Serrat, investigadora principal, as descobertas apoiam significativamente a ideia de que o neurofilamento de cadeia leve sérico (sNfL) tem potencial real para ser integrado na monitorização de rotina da EM.
Interpretado corretamente, pode ajudar os médicos a antecipar a atividade da doença, avaliar a resposta ao tratamento e personalizar o atendimento aos pacientes com maior risco e, em última análise, permitir intervenções mais precoces e direcionadas.
A EM ocorre quando o sistema imunológico começa a atacar a bainha protetora que reveste as células nervosas, denominada mielina. Isso causa danos abrangentes e irreversíveis, prejudicando a capacidade de movimento das pessoas, a visão e causando problemas de humor e memória.
Pessoas com EM em estágio inicial frequentemente entram em longos períodos de remissão, com semanas ou meses de recuperação entre os surtos dos sintomas.
Para verificar se essas recaídas poderiam ser previstas, os especialistas recorreram ao neurofilamento de cadeia leve – uma proteína libertada quando as células nervosas são danificadas. O objetivo era explorar como os níveis de sNfL evoluem ao longo do tempo e como poderiam servir como um sinal clínico precoce de recaídas em cenários reais.
Para o estudo, os investigadores analisaram dados de 162 pacientes com EM que foram acompanhados por cerca de 10 anos. Os resultados mostraram que os níveis de sNfL poderiam realmente prever um surto de EM, mas apenas entre os pacientes que não apresentavam sintomas no momento.
De acordo com Martinez-Serrat, quando um paciente já está em recaída os níveis de sNfL são altos devido à lesão nervosa em curso, o que limita o seu poder preditivo. Mas, durante a remissão, picos inesperados de sNfL podem sinalizar patologias ocultas emergentes, sendo um sinal de alerta precoce eficaz.
No entanto, o teste só conseguiu prever surtos de EM em até um ano. O teste reflete danos nervosos atuais ou recentes, o que o torna excelente para avaliação de risco a curto prazo. Já a previsão a longo prazo é prejudicada por mudanças de tratamento, fatores de estilo de vida ou novos eventos inflamatórios.
Os níveis da proteína também permaneceram elevados durante cerca de nove meses após a recaída de uma pessoa, o que reflete o tempo que o corpo pode levar a recuperar.
Embora o sNfL seja promissor como um teste para pacientes com EM, Martinez-Serrat deixou um alerta contra o seu uso isolado. A EM é uma doença multifacetada, e o sNfL é uma peça do quebra-cabeças. Investigações futuras podem dedicar-se a combiná-lo com outros biomarcadores a fim de construir um quadro mais completo da trajetória da doença.