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Falta de fisioterapeutas nas UCI atrasa recuperação dos doentes

A presença de fisioterapeutas nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) de forma permanente não é uma realidade em Portugal e está a condicionar a recuperação de doentes com COVID-19 que apresentam capacidade funcional reduzida.

Falta de fisioterapeutas nas UCI atrasa recuperação dos doentes

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O alerta é dado pela Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APFISIO), que insiste na importância de assegurar a presença de fisioterapeutas nestas unidades 24 horas por dia, tal como já acontece na generalidade dos países desenvolvidos.

“Não aceder a cuidados de Fisioterapia, integrados numa abordagem multiprofissional, desde o contexto de cuidados intensivos, internamento hospitalar ou domiciliário e, posteriormente, na comunidade, implicará uma recuperação muito mais lenta, sobretudo nos casos de multimorbilidade, onde as limitações funcionais consequentes poderão ser graves e permanentes”, afirma Adérito Seixas, presidente da APFISIO.

Acresce que, adianta o mesmo responsável, “no internamento hospitalar isso implicará um internamento mais prolongado e, na comunidade, uma maior dificuldade no regresso à vida ativa. Estas repercussões representam um aumento dos custos para o SNS, afetando naturalmente a economia e a sociedade, mas mais importante, as pessoas e famílias”.

A APFISIO reforça que, nos casos mais graves de doentes com COVID-19, que necessitaram de internamento em UCI e ventilação mecânica, a ausência de cuidados de fisioterapia pode potenciar a ‘Síndrome pós-internamento em cuidados intensivos’, que envolve alterações físicas, cognitivas e psicológicas que afetam gravemente a qualidade de vida.

Em internamento hospitalar, lembra a Associação, pode verificar-se, logo nos primeiros sete dias, a perda de cerca de 20 por cento da massa muscular da pessoa, levando a situações graves de fraqueza muscular, fadiga, rigidez articular e perda de funcionalidade.

“Considerando que cerca de 20 por cento dos casos de doentes com COVID-19 podem apresentar quadros graves ou muito graves, envolvendo por vezes períodos de internamento superiores a três semanas, é fácil antecipar as consequências negativas que daí advêm”, antecipa Adérito Seixas.

No contexto da COVID-19, a APFISIO reitera que as intervenções de fisioterapia iniciadas em internamento ou imediatamente após alta hospitalar são seguras, eficazes e recomendadas pela European Respiratory Society (ERS) e American Thoracic Society (ATS), as duas sociedades científicas mais relevantes a nível mundial na área da medicina respiratória, esperando assim que o acesso a estes cuidados seja assegurado e a sua importância devidamente reconhecida.

O presidente da associação recorda ainda que “antes da pandemia, menos de dois por cento dos doentes com doença respiratória crónica tinha acesso a programas de reabilitação respiratória, seja em contexto hospitalar, cuidados de saúde primários ou na comunidade”.

“A insuficiência de recursos humanos de fisioterapia, principalmente no SNS, é uma das causas e é urgente reforçar o número de fisioterapeutas nestes contextos uma vez que, com a pandemia, o número de doentes elegíveis para estes cuidados vai aumentar”, preconiza.

No que respeita aos procedimentos e intervenções que a fisioterapia poderá realizar junto de doentes com COVID-19, a APFISIO aponta que, na fase aguda da doença, os cuidados devem centrar-se no controlo e otimização da respiração e dor, na desobstrução das vias aéreas, na prevenção de complicações músculo-esqueléticas e disfunção muscular, mobilização precoce e no treino das capacidades físicas, iniciando a readaptação ao esforço e às capacidades funcionais ajustada à condição da pessoa.

Após a alta, a Fisioterapia deve focar-se numa avaliação compreensiva de cada pessoa, de forma a desenvolver de forma personalizada a força muscular, a funcionalidade e a tolerância ao esforço, reduzir a sensação de falta de ar, a fadiga e a dor, facilitar a adaptação psicológica e a integração no dia-a-dia de cada pessoa.

Recorde-se que, no passado mês de março, depois de operacionalizar o recrutamento de um grupo de fisioterapeutas para atuar em contexto de Unidades de Cuidados Intensivos, a APFISIO disponibilizou, junto do Governo e da Direção-Geral da Saúde (DGS), mais de 170 fisioterapeutas que integraram uma bolsa de voluntários com formação específica para colaborar nos cuidados às pessoas com COVID-19, no sentido de reforçar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Refira-se que os integrantes deste grupo de mais de 170 fisioterapeutas realizaram uma formação gratuita denominada “Atualização em Fisioterapia Respiratória no doente com COVID-19: da UCI à autonomia funcional”, que contou com mais de 540 inscritos (490 fisioterapeutas a exercer em Portugal), integrando ainda profissionais a trabalhar com utentes com COVID-19, quer em contexto hospitalar (SNS e hospitais privados), quer em cuidados respiratórios domiciliários.

Fonte: Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APFISIO)

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