Em causa está o tratamento com um medicamento senolítico (nova classe de medicamentos que diminuem drasticamente o processo de envelhecimento) composto por duas substâncias: o dasatinibe (medicação usada para casos de leucemia) e a quercetina (suplemento que fornece propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias).

A sua ação consiste em remover células específicas do organismo para interromper a produção de substâncias envolvidas no processo de envelhecimento. “A ideia é que a remoção dessas células possa ser benéfica para promover o envelhecimento saudável e também prevenir doenças”, explicou Nicolas Musi, co-autor da pesquisa, à revista MIT Technology Review. 

Os resultados do primeiro teste clínico em humanos foram publicados recentemente na revista científica The Lancet. Os pesquisadores recrutaram 14 pacientes com fibrose pulmonar idiopática (FPI).

A doença é uma condição rara na qual células senescentes (danificadas) que não morrem e se tornam tóxicas, se acumulam nos pulmões, provocando a cicatrização do órgão. Isso gera dificuldade de respiração.

Os pacientes receberam os medicamentos, administrados por via oral, durante três dias consecutivos por semana, ao longo de três semanas, totalizando nove doses. Os pesquisadores acreditam que essa combinação consegue eliminar as células senescentes.

Para fins de verificação, a equipa também realizou exames laboratoriais antes e depois da administração do tratamento, além de implementar questionários semanais para averiguar sintomas da doença, qualidade de vida dos participantes e efeitos colaterais da terapia para avaliar a segurança e tolerabilidade dos tratamentos.

Foram avaliados ainda marcadores de função física, incluindo distância percorrida em seis minutos, velocidade de caminhada, repetições de sentar e levantar, além de ensaios biológicos para medir as proteínas associadas à senescência segregadas pelas células tóxicas.  Ao final do teste, observou-se que a terapia senolítica melhorou a mobilidade dos participantes.

Alguns testes, como a caminhada de seis minutos e repetições de sentar e levantar apresentaram resultados superiores em comparação com os números registados antes do tratamento experimental.

A maioria dos pacientes apresentou ganhos de mobilidade superiores a cinco por cento. “Nenhuma terapia medicamentosa, incluindo os fármacos anti-fibróticos disponíveis, demonstrou estabilizar, e muito menos melhorar, a distância de caminhada de seis minutos de um paciente com fibrose pulmonar idiopática”, comentou Anoop M. Nambiar, co-autor do estudo.

Segundo o especialista, essa doença é devastadora e progressiva, com taxa de sobrevida média de menos de cinco anos em adultos recém-diagnosticados – que geralmente têm mais de 60 anos.

Portanto, essa descoberta pode ter grande impacto para a qualidade de vida dos pacientes e fornecer novas alternativas de tratamento para a FPI. Além disso, os resultados indicam que essa interferência na senescência celular pode promover um envelhecimento mais saudável, através da redução de riscos para doenças da velhice.

Os efeitos colaterais relatados até ao momento incluíram sintomas respiratórios (tosse e falta de ar) e desconforto gastrointestinal ou azia. Alguns pacientes relataram irritação na pele ou hematomas relacionados com biópsias de tecido obtidas para fins de medição biológica.