Pílula anticoncecional pode afetar a saúde mental das mulheres
A pílula anticoncecional foi considerada uma das tecnologias de saúde mais revolucionárias do século XX, e uma ferramenta que deu às mulheres o controlo sobre a sua fertilidade e abriu caminho à educação e à carreira. No entanto, um novo estudo da Universidade de Copenhaga sugere que esta liberdade pode ter um custo oculto, ou seja, prejudicar a sua saúde mental.

De acordo com o estudo, publicado no Journal of Labor Economics, o acesso à pílula durante a adolescência está associado a maior risco de depressão na vida adulta. As mulheres com predisposição genética para doenças mentais correm um risco particularmente elevado de sofrer deste efeito secundário.
Franziska Valder, investigadora responsável pelo estudo, explica que a pílula teve enormes consequências sociais e afetou positivamente a carreira das mulheres, no entanto, negligenciou-se o facto de também poder ter um impacto negativo na sua saúde mental, e isso tem implicações na forma como se entende o seu efeito global.
Ao combinar dados sobre legislação, perfis de risco genético e trajetórias de vida de milhares de mulheres americanas, o estudo revelou que aquelas com elevado risco genético de depressão apresentam uma saúde mental significativamente pior se tiveram acesso à pílula anticoncecional durante a adolescência.
Nem todas as mulheres são afetadas, mas, para aquelas com vulnerabilidade genética, a pílula pode funcionar como um gatilho para as doenças mentais.
Concluiu-se ainda que os efeitos mentais negativos podem prejudicar os efeitos positivos da pílula na educação e na inserção no mercado de trabalho.
As mulheres com risco elevado de depressão têm menos anos de escolaridade, menor produtividade no trabalho e referem mais dias de baixa médica e limitações funcionais quando têm acesso à pílula.
Segundo a investigadora, os resultados não devem ser interpretados como um ataque à pílula anticoncecional – o objetivo não é tirar a pílula a ninguém –, mas como um contributo para um debate mais ponderado sobre a contraceção e a saúde.
São necessárias mais investigações sobre alternativas não hormonais e de melhor rastreio para a vulnerabilidade mental.