Sabe o que acontece no cérebro quando vê um filme de terror?
É apreciador de filmes de terror? A psicologia e a medicina têm vários estudos científicos que esclarecem sobre os prós e os contras deste género cinematográfico, e que analisaram os seus efeitos na saúde física e mental.

Um dos mais recentes, e com maior impacto, é o da Universidade de Chicago, que sugere que os fãs do terror apresentaram maior resiliência e estavam mais bem preparados para o stress e para o confinamento durante a pandemia de Covid-19.
No entanto, nem todos os investigadores são da mesma opinião. É o caso da psicóloga Mayren Monje, que acredita que quando alguém se coloca intencionalmente em estado de alerta máximo sem motivo, sem perigo real, só vai prejudicar as funções cognitivas.
Isto porque o nosso cérebro primitivo não distingue entre ficção e realidade e ativa-se, o que desencadeia um estado de alerta permanente e inútil.
Segundo a especialista, longe de nos treinar para a resiliência, o terror deixa-nos com mais ansiedade, pior qualidade do sono, pior memória e um sistema nervoso mais reativo. O alívio que se sente quando o filme termina, ou o facto de o conseguirmos tolerar melhor, não significa que nos vamos tornar mais fortes. Trata-se apenas de uma descarga de dopamina após o disparar do alarme.
Quando somos expostos a esse tipo de tensão, a amígdala é ativada no cérebro, detetando o perigo primário. A sua ação não é interrompida conscientemente.
O hipocampo, que armazena a memória, pode registar essas imagens como memórias intrusivas, e o córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento racional, é silenciado e bloqueado.
O que reage é o corpo: o coração bate mais depressa, a respiração fica mais acelerada e o corpo é inundado por cortisol, a hormona do stress.
Será que isto pode dar origem a complicações no nosso corpo? As evidências científicas não são unânimes. Nem todos são afetados, mas alguns são mais suscetíveis pelo que devem ter mais cuidado com a exposição a este tipo de filme.
Por exemplo, as pessoas com doenças cardiovasculares devem ter mais cuidado, pois o stress pode desencadear um problema. Nesses casos, é aconselhável reduzir as situações que causam choque. O sono também pode piorar, pois o cérebro retém essas sensações em vez de as apagar. Um sono agitado pode prejudicar o descanso necessário.
Além disso, há um desgaste do sistema nervoso. Ver este tipo de filmes faz com que a pessoa se acostume àquele tipo de imagens, mas isso não é resiliência, é habituação. Não o torna a pessoa mais forte, apenas menos sensível.
A verdade é que, neste contexto, as evidências científicas são complexas. Apesar dos argumentos apresentados por Monje, o estudo de Chicago, que envolveu mais de 3.000 participantes, mostrou que os filmes de terror preparam psicologicamente o indivíduo para enfrentar uma situação difícil.
No entanto, outros estudos realizados anteriormente não consideram esses filmes tão positivos e constataram que as suas imagens chocantes e invasivas podem deixar efeitos duradouros – o que se denomina de “paradigma do filme traumático”, ou seja, geram angústia e ansiedade.
Isto é especialmente significativo no caso das crianças, que são muito jovens para ver este tipo de filmes. Também não se recomendam em pessoas com níveis elevados de ansiedade ou com fobias, por poderem agravar os sintomas.
Outros riscos médicos menos discutidos incluem o facto de esses filmes por vezes utilizarem luzes estroboscópicas, que podem desencadear convulsões em pessoas com epilepsia.