GENÉTICA

Deficiência genética protege contra doença cardíaca

A deficiência do gene do receptor de melanocortina 4 (MC4R) está ligada à obesidade em adultos. Recentemente, um estudo publicado na revista Nature Medicine, descobriu que essa deficiência também é responsável pela redução do risco de doenças cardíacas e por níveis mais baixos de colesterol e de triglicéridos. Esses resultados contradizem a relação bem estabelecida entre a obesidade e as doenças cardiovasculares.

Deficiência genética protege contra doença cardíaca


No estudo, a equipa analisou os perfis genéticos de 7.719 crianças da coorte do Estudo de Genética da Obesidade (GOOS). Foram identificados 316 probandos e 144 membros adultos da família com obesidade devido a mutações de perda de função (LoF) do MC4R.

Mesmo após ajuste para o peso, esses indivíduos apresentaram melhores perfis de pressão arterial e saúde cardiovascular em comparação com 336.728 indivíduos do Biobanco do Reino Unido.

Uma em cada oito pessoas é obesa. As investigações sobre a absorção e o processamento de gordura têm-se concentrado principalmente no intestino e no fígado, os dois principais órgãos envolvidos no metabolismo lipídico. No entanto, esses órgãos sozinhos não fornecem uma imagem clara dos mecanismos pelos quais a obesidade causa alterações nos níveis lipídicos.

As evidências mais recentes destacam o papel crucial do cérebro no controlo do metabolismo da gordura em todo o corpo. Esse controlo é gerido por um sistema central no cérebro que envolve o receptor MC4R.
Para entender como a deficiência de MC4R afeta a saúde cardíaca e os perfis lipídicos em adultos, os investigadores aplicaram uma estratégia em três partes.

A primeira parte envolveu um estudo clínico com pessoas com obesidade grave portadoras de variantes do gene MC4R, provenientes do Estudo de Genética da Obesidade. A equipa sequenciou o ADN de 7.719 crianças com obesidade grave de início precoce. Ao estudar esses indivíduos, foi possível avaliar diretamente os efeitos de defeitos genéticos nos perfis lipídicos e cardiovasculares.

Depois, os especialistas replicaram o estudo no Biobanco do Reino Unido, uma grande coorte populacional com 336.728 indivíduos de controlo, para confirmar que as suas descobertas não eram específicas da coorte clínica.

E, finalmente, realizaram uma experiência clínica rigorosamente controlada para observar como o corpo processa a gordura após uma refeição rica em gordura.
Compararam 11 pessoas com deficiência de MC4R a 15 voluntários cuidadosamente selecionados, com idade, sexo, IMC e perfil metabólico semelhantes. Para avaliar o metabolismo da gordura, monitorizaram os marcadores de ácidos gordos e lipoproteínas ricas em triglicéridos.

Os resultados revelaram que as pessoas com deficiência de MC4R apresentavam um perfil metabolicamente saudável em comparação com outros indivíduos obesos e com os controlos populacionais. Estas pessoas exibiram perfis lipídicos e níveis de pressão arterial significativamente melhores e apresentaram um risco reduzido de doenças cardíacas, mesmo sendo gravemente obesas.

Segundo os especialistas, o estudo estabelece as vias do MC4R como um novo alvo potencial para terapias cardiovasculares. Medicamentos que imitam os efeitos protetores da deficiência de MC4R no metabolismo lipídico poderiam ajudar a mitigar o risco cardiovascular em populações mais amplas, e ainda oferecer benefícios além da perda de peso.

Fonte: Tupam Editores

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