Ciência revela que o cérebro muda com o ciclo menstrual
Durante décadas esteve em discussão a importância das hormonas no ciclo menstrual, mas pouco se sabia como elas afetam o cérebro. Agora um estudo realizado por investigadores da Universidade da Califórnia descobriu o que acontece, permitindo compreender melhor as mudanças em cada fase do ciclo menstrual feminino.

As hormonas sexuais, como o estrogénio e a progesterona, não só regulam a ovulação, como influenciam os neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, tão importantes para o bem-estar. Isto pode explicar por que algumas mulheres apresentam alterações de humor, energia ou concentração durante as diferentes fases do ciclo menstrual.
Estudos liderados pela neurocientista Carina Heller revelaram que o cérebro feminino não só responde às flutuações hormonais durante o ciclo, como ainda ocorrem mudanças nas suas estruturas e conexões. A própria investigadora foi cobaia deste estudo. Durante um ano, examinou o seu cérebro para observar a sua forma e conectividade neuronal.
Como se sabe, os níveis de estrogénio aumentam à medida que o revestimento uterino cresce. Em seguida, diminuem para libertar um óvulo do ovário, no ponto médio do ciclo menstrual. Depois disso, a progesterona e o estrogénio aumentam durante uma semana para se preparar para a possível fertilização do óvulo. Se a gravidez não ocorrer, ambas as hormonas diminuem e ocorre o sangramento.
Os resultados mostram que, durante a fase folicular (quando os níveis de estrogénio aumentam), há mais conectividade em áreas do cérebro associadas à memória e à regulação emocional. Na fase lútea (após a ovulação, quando a progesterona predomina antes da menstruação), a conectividade foi reduzida.
O estudo está de acordo com a teoria de que o cérebro feminino não age da mesma forma que o masculino, sendo influenciado por diferentes mudanças biológicas. No entanto, o facto de a estrutura cerebral mudar não implica automaticamente uma melhora ou diminuição no desempenho mental e na capacidade intelectual.
Nenhum estudo anterior havia encontrado diferenças significativas na capacidade cognitiva ao longo do ciclo menstrual. Essa crença não mudou. Quando se fala de conectividade, não diz respeito a conexões entre neurónios (sinapses), mas a relações mais amplas entre regiões do cérebro. Essas mudanças podem ser notadas em aspetos do bem-estar, como regulação emocional ou gestão do stress.
Conhecer bem o ciclo menstrual pode ajudar a antecipar dias de maior vulnerabilidade emocional. Pode ser especialmente útil para as mulheres com síndrome pré-menstrual, ou seja, aquelas que experimentam desconforto físico ou mudanças emocionais significativas nos dias que antecedem a menstruação.
Este estudo é importante mas não definitivo. Atualmente estão em curso outras investigações, mas todas apontam na mesma direção. Antes de se alcançarem conclusões mais precisas há ainda muito trabalho a desenvolver.