Descoberta pode melhorar o tratamento de pessoas com hemofilia A
Uma equipa de investigadores do Centenary Institute, na Austrália, descobriu um motivo pelo qual algumas pessoas com hemofilia A desenvolvem resistência ao tratamento crítico, o que abre caminho para o desenvolvimento de terapias mais eficazes.

A hemofilia A é uma doença genética que prejudica a capacidade de coagulação do sangue, causada por uma deficiência numa proteína de coagulação denominada fator VIII (FVIII). Os indivíduos com a doença são normalmente tratados com infusões regulares de FVIII para auxiliar na coagulação e prevenir episódios perigosos de hemorragia.
No entanto, em alguns casos, o sistema imunológico do corpo reconhece a proteína infundida como estranha e produz anticorpos que bloqueiam a eficácia do tratamento.
O estudo, publicado na Blood Advances, permitiu descobrir que o FVIII nem sempre forma todas as suas ligações químicas estabilizadoras, a que se dá o nome de ligações dissulfeto. São estas ligações que ajudam a manter a forma adequada da proteína, mas quando algumas estão ausentes, o FVIII pode assumir formas ligeiramente diferentes, o que aumenta a propensão para desencadear uma resposta imunológica.
Segundo o Dr. Diego Butera, principal autor do estudo, a investigação revelou que os anticorpos dos pacientes preferem ligar-se a essas formas alternativas de FVIII, o que interfere no funcionamento do tratamento. Isso ajuda a explicar por que algumas pessoas desenvolvem resistência ao tratamento e ainda abre caminho para o desenvolvimento de formas mais estáveis de FVIII, com menor probabilidade de serem alvos do sistema imunológico.
O Professor Philip Hogg, autor sénior do estudo, considera as descobertas significativas e com uma relevância mais ampla para além da hemofilia A. Ao trabalhar o FVIII para incluir ligações dissulfeto mais estáveis, que ajudam a manter melhor a sua estrutura, potencialmente poder-se-ão criar versões da proteína que durem mais e que funcionem de forma mais eficaz nos pacientes.
Além disso, o estudo também destaca um princípio mais amplo: as proteínas terapêuticas podem existir em múltiplas formas estruturais, e compreender essas variações é fundamental para melhorar a segurança e a eficácia dos tratamentos à base de proteínas.