Autismo associado ao risco elevado de doença de Parkinson
Uma investigação de larga escala levada a cabo no Instituto Karolinska permitiu apurar que as pessoas diagnosticadas com autismo têm maior risco de desenvolver a doença de Parkinson. De acordo com a equipa de especialistas, as duas condições partilham mecanismos biológicos subjacentes.

O estudo de coorte baseou-se em dados de registo de mais de dois milhões de pessoas nascidas na Suécia entre 1974 e 1999, que foram acompanhados até dezembro de 2022. Os especialistas analisaram uma possível relação entre o diagnóstico neuropsiquiátrico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), que afeta os processos de pensamento, o comportamento e a comunicação interpessoal do indivíduo, e a doença de Parkinson de início precoce, uma condição que afeta a locomoção e o movimento.
Os resultados do estudo revelaram que as pessoas com autismo tinham quatro vezes mais probabilidade de desenvolver a doença de Parkinson do que as pessoas sem a doença – uma correlação que se manteve ao controlar o estatuto socioeconómico, a predisposição genética para doenças mentais ou a doença de Parkinson e outros fatores semelhantes.
A depressão e a toma de antidepressivos são comuns em pessoas com autismo, assim como os medicamentos antipsicóticos, conhecidos por causar sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson. Quando os investigadores ajustaram esses fatores, a relação entre o TEA e o desenvolvimento posterior da doença de Parkinson foi menos evidente, mas o risco ainda era o dobro.
Convém referir que no estudo, publicado no JAMA Neurology, foi analisada apenas a doença de Parkinson de início precoce, antes dos 50 anos, e a idade média dos participantes no fim do estudo era de 34 anos. A incidência da doença de Parkinson foi, portanto, muito baixa. Estudos futuros deverão avaliar se o risco elevado persiste em idades mais avançadas.
Para Weiyao Yin, primeiro autor do estudo, poderá haver fatores biológicos partilhados por trás do TEA e da doença de Parkinson. Uma hipótese é que o sistema dopaminérgico do cérebro seja afetado em ambos os casos, visto que o neurotransmissor dopamina desempenha um papel importante no comportamento social e no controle do movimento.
Sabe-se que os neurónios produtores de dopamina são degradados na doença de Parkinson. Estudos anteriores também demonstraram que a dopamina possivelmente está implicada no autismo, no entanto, são necessários mais estudos para o confirmar. A equipa espera que os resultados obtidos ajudem a esclarecer as causas subjacentes tanto do TEA quanto da doença de Parkinson.