Tratamento repetido com antimaláricos pode diminuir o seu efeito
O tratamento repetido com o antimalárico piperaquina pode levar os parasitas a desenvolverem menor sensibilidade ao medicamento, apurou um estudo conduzido por investigadores do Instituto Karolinska. As descobertas podem ter impacto na utilização deste antimalárico no futuro.

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A piperaquina é um medicamento antimalárico caracterizado por uma meia-vida longa, o que significa que permanece no organismo durante várias semanas e protege contra novas infeções – um recurso fundamental do medicamento. No entanto, os especialistas responsáveis pelo estudo descobriram que essa vantagem pode desaparecer com o tratamento repetido em áreas com elevada transmissão de malária.
O estudo, publicado recentemente na revista Nature Communications, mostrou que o tratamento com di-hidroartemisinina/piperaquina pode levar os parasitas a desenvolver tolerância ao medicamento, duplicando o gene da plasmepsina 3 (pm3). Isso permite que eles reinfetem os pacientes mais cedo do que o previsto, durante o período de proteção esperado, reduzindo a eficácia da piperaquina como medicamento profilático.
Pedro Gil, autor sénior do estudo, realça que a di-hidroartemisinina tem uma semivida muito curta, deixando a piperaquina isolada apenas algumas horas após o fim do tratamento. Assim, sugere-se que futuras combinações de medicamentos antimaláricos tenham uma farmacocinética semelhante para retardar o desenvolvimento de resistência.
Os investigadores recomendam cautela e vigilância ativa no uso da piperaquina em estratégias de proteção em larga escala, como o tratamento preventivo intermitente para as mulheres grávidas (IPTp) ou na quimioprevenção sazonal da malária (SMC), pois isso provavelmente selecionará duplicações de pm3 e, como tal, diminuirá rapidamente a utilidade da piperaquina para esses fins.
O próximo objetivo da equipa de investigação é realizar um ensaio clínico para comparar a piperaquina com o medicamento padrão atual para IPTp, o sulfadoxina-pirimetamina, no tratamento das grávidas. Pretende-se descobrir se o tratamento repetido com piperaquina leva aos mesmos padrões de seleção de pm3 e diminuição da proteção, e se isso se pode reduzir com a alternância entre os dois medicamentos.