É possível reduzir número de medicamentos em idosos
Devido ao aumento da longevidade e às estratégias de envelhecimento ativo, há uma prevalência crescente no número de idosos com múltiplas condições de saúde, conhecidas por comorbilidades, a quem são prescritos inúmeros medicamentos, tornando-se por isso necessário intervir na gestão das tomas por essa população.
MATURIDADE E REFORMA
NOVOS PARADIGMAS DO ENVELHECIMENTO - Envelhecer com saúde e dignidade
O aumento da expectativa de vida com que hoje nos confrontamos, tem vindo a mudar a forma como olhamos para o idoso, cujo estatuto ganhou uma importância que não possuía até agora. LER MAIS
Recente estudo publicado na revista PLoS Medicine faz o relato de um ensaio aleatório realizado em 51 consultórios por toda a República da Irlanda, abrangendo um total de 404 pacientes com idades iguais ou superiores a 65 anos, recrutados entre abril de 2017 e outubro de 2020, portadores de morbilidades complexas a quem foram receitados 15 ou mais medicamentos.
O estudo teve por objetivo investigar o efeito de uma revisão individualizada de medicamentos administrados por um clínico geral para reduzir o número de fármacos e detetar eventuais prescrições inadequadas em pacientes idosos com comorbilidades, nos cuidados de saúde primários. Nesse sentido, uma intervenção realizada por especialistas da Faculdade Real de Cirurgiões da Irlanda, resultou em uma redução significativa da quantidade de medicamentos receitados aos idosos, em comparação com o grupo de controle, sem prejuízo da sua saúde.
A investigação levou à interrupção de mais de 800 medicamentos em 208 pacientes incluídos na intervenção e, de entre os fármacos excluídos das tomas, foram relatados 15 eventos adversos possíveis, na sua maioria reações ligeiras que cessaram logo que a administração foi reposta, indicando que a interrupção de certos medicamentos em idosos é tipicamente segura.
Além dos parâmetros de quantidade, também a qualidade da prescrição foi avaliada, usando uma lista de verificação na combinação de fármacos potencialmente inapropriados, tendo-se concluído que embora não se tenham verificado melhorias significativas na qualidade da prescrição no grupo intervencionado, em comparação com o grupo de controle, na generalidade houve melhorias em ambos os grupos durante o período de estudo, o que reflete um maior cuidado dos médicos de família, que tinham conhecimento da intervenção.
Esta realidade, gera uma série de potenciais problemas, como o risco de interação e a dificuldade dos pacientes e cuidadores lidarem com a ingestão correta de todos os medicamentos, até à questão dos custos para o paciente e para o sistema de saúde.
Susan Smith, uma das principais autoras do estudo, vem afirmar que a abordagem de intervenção para gerir este desafiador problema é promissora e demonstra que mesmo neste grupo muito complexo, a interrupção de determinados medicamentos que podem não ser necessários ou apropriados, é possível e geralmente seguro.