OBSTETRÍCIA

IVI reduziu em 75% gravidez gemelar na última década em Espanha

Nos últimos anos, Espanha tem vindo a assistir a um aumento constante no número de gravidezes múltiplas, um facto que influenciou diretamente a reprodução assistida.

IVI reduziu em 75% gravidez gemelar na última década em Espanha

DOENÇAS E TRATAMENTOS

MALÁRIA, FLAGELO ERRADICÁVEL

Apesar das evidências e das campanhas de consciencialização para especialistas e doentes a favor da transferência de um único embrião (SET), a taxa de gestação gemelar associada a um tratamento reprodutivo está atualmente em torno dos 20 por cento. Este tipo de gestação acarreta riscos significativos tanto para a mãe como para o recém-nascido.

“Cientes desta situação e em sintonia com o conhecimento científico, a política atual do IVI é optar sempre que possível por transferências de um único embrião, o que se reflete nos nossos dados. O SET passou de 22 por cento, em 2009, para 88 por cento, em 2018, nas clínicas do IVI espalhadas por todo o território espanhol, o que representa uma redução de 75 por cento nesta última década”, refere Agustín Ballesteros, diretor do IVI Barcelona, Lleida e Girona

“Razão pela qual foi possível implementar esta estratégia em quase 100 por cento dos nossos tratamentos deve-se ao facto de conhecermos melhor os mecanismos que regulam a recetividade endometrial, técnicas como o Timelapse, que nos permite ver a evolução do embrião ou melhorias na seleção embrionária, graças ao diagnóstico genético pré-implantacional, para descartar os embriões com anomalias cromossómicas. Tudo isto complementado pelo trabalho educacional tanto dos profissionais médicos como da população para que se compreenda que a gravidez múltipla não é um objetivo a alcançar, mas antes uma complicação a evitar”, acrescenta o responsável.

Atualmente, o rácio de gravidez gemelar é de 1:80 nas gravidezes espontâneas e de 1:4 nos tratamentos de fertilidade, números que provam a necessidade de tomar consciência desta situação e delinear medidas globais para a sua solução.

“Segundo dados da Sociedade Espanhola de Fertilidade (SEF), a transferência de dois embriões diminuiu de 72 por cento, em 2012, para 56 por cento, em 2016, ao passo que a transferência de um único embrião aumentou de 20 para 42 por cento. Estamos no caminho certo, no entanto, há ainda que tomar em consideração a perspetiva do doente, que, por norma, tem tendência a associar taxa de sucesso a taxa de gravidez e nem sempre é o caso, por isso é responsabilidade dos médicos explicar que, na reprodução assistida, a variável de sucesso é definida por recém-nascido vivo e saudável em casa, e que esta circunstância, no caso das gravidezes múltiplas, diminui consideravelmente em comparação com gravidezes únicas devido ao aumento de complicações maternas e fetais ”, explica Ballesteros.

“A eficácia reprodutiva em seres humanos é muito baixa, podendo piorar com o aumento da idade materna aquando da primeira gravidez. Este atraso na maternidade implica um aumento na busca de tratamentos de reprodução assistida. Mulheres e casais com problemas reprodutivos geralmente optam por pedir ao seu especialista para transferir mais de um embrião, dado acreditarem que, desta forma, aumentam as hipóteses de levar uma gravidez a termo. No entanto, os resultados publicados em diferentes estudos indicam que não há diferenças na taxa de gravidez acumulada com um único embrião em comparação com a taxa de gravidez clínica quando se transferem dois, tanto em ciclos com gâmetas próprios quanto em doações”, acrescenta o especialista.

O objetivo principal dos tratamentos de reprodução assistida é ter recém-nascidos vivos saudáveis e que esses tratamentos não representem um risco para a mãe.

“Partindo dessa base, e embora a transferência seletiva de um único embrião não seja atualmente uma prática padrão em todos os centros de reprodução assistida, a verdade é que, em Espanha, em 3,5 por cento dos casos está-se a transferir três embriões e em 65 por cento, dois embriões. Estes dados são menos acentuados nos casos de doação de gâmetas, embora a transferência de dois embriões ainda seja a prática mais comum. É, portanto, necessário, tal como já referimos, definir políticas para reverter essa situação”, conclui.

Outro aspeto que não devemos ignorar em relação às gravidezes múltiplas está relacionado com os custos de saúde que as mesmas implicam, que são o dobro dos das gravidezes únicas, tal como os custos associados ao parto, 1,7 vezes mais caros que os de uma gravidez única.

“Chegámos inclusive a ponderar se não seria necessário legislar o número de embriões a transferir, como fizeram no modelo belga de saúde pública, no qual todos os tratamentos onde se transfere um embrião são reembolsados. O impacto desta política traduz-se em 50 por cento dos ciclos com SET, uma diminuição da taxa de gravidezes múltiplas de 27 para 11 por cento, uma manutenção das taxas de sucesso e uma menor proporção de internamentos na unidade de cuidados intensivos pediátricos e de tratamentos por sequelas em recém-nascidos”, sublinha o especialista.

“A poupança a curto prazo situa-se nos sete milhões de euros e, a longo prazo, nos 50-70 milhões de euros. No entanto, cremos que não é necessário recorrer a legislação, sendo provavelmente suficiente promover estas práticas através de um embriologista ou ginecologista que partilhe desta opinião, aliado a bom aporte de informação para as mulheres e os casais”, assinala Ballesteros.

Fonte: PR Influencer (press release)

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