
ANTIDEPRESSIVOS, COMO FAZER O DESMAME?
MEDICINA E MEDICAMENTOS
Tupam Editores
Qualquer pessoa que tenha tomado medicamentos psiquiátricos sabe que a sua descontinuação, também chamada de “desmame”, pode ser um período complicado. Parar de tomar uma substância controlada não é tão simples quanto interromper a toma de um medicamento comum.

O desmame de antidepressivos, em especial, exige maior cuidado para evitar desconfortos físicos e emocionais.
De acordo com uma revisão sistemática publicada no jornal científico Addictive Behaviors, diversos estudos mostram que entre 27% e 86% dos indivíduos que passam pelo desmame de antidepressivos acaba por sofrer com sintomas de abstinência – uma taxa muito elevada para ser ignorada.
Os antidepressivos podem ser suspensos por resposta inadequada, remissão da doença, reações adversas graves (hiponatremia, hipersensibilidade, ideação suicida, síndrome neuroléptica maligna), ou se forem inaceitáveis para o doente (disfunção sexual). Mas a decisão de reduzir a dose ou de interromper a toma de qualquer fármaco prescrito deve ser tão cuidadosa quanto a de iniciar o tratamento, e só pode ser feita com a indicação e o acompanhamento do profissional que o prescreveu.
O desmame dos antidepressivos exige reduções mínimas e intervalos graduais acompanhados pelo médico. Para algumas pessoas, diminuir 5% da dose a cada três semanas funciona. Mas há quem necessite ainda de ajustes mais lentos, especialmente se tomarem fármacos com semivida curta, como a paroxetina.
Durante o tratamento com antidepressivos, o cérebro do paciente está num equilíbrio frágil, sustentado pela substância. Interromper o medicamento de uma só vez é como remover as fundações de um edifício em construção.
Em caso de uma mudança brusca, o corpo responde com sintomas de abstinência, o que se denomina de síndrome de descontinuação.

Os sintomas físicos mais comuns incluem tonturas, náuseas, vómitos, dor de cabeça, fadiga, suor excessivo. Mas o desmame de antidepressivos não mexe apenas com o corpo. A mente também entra num turbilhão, até porque esses medicamentos atuam diretamente em neurotransmissores ligados ao humor e à regulação emocional.
Assim, o paciente pode sentir ansiedade, irritabilidade, insónia, dificuldades de concentração e oscilações de humor quando interrompe a medicação. Os sintomas emocionais costumam ser ainda mais desafiadores que os físicos, pois afetam a perceção de controle sobre si mesmo.
Os sintomas, a intensidade e a sua duração podem variar de acordo com o tipo de antidepressivo, a dose ingerida por cada pessoa, o tempo de tratamento e da resposta individual de cada um.
Em média, os sinais físicos agudos (como tonturas e náuseas) manifestam-se no período de 1 a 3 dias após a redução da dose e podem persistir durante 1 a 4 semanas. Já os sintomas emocionais, como ansiedade e irritabilidade, tendem a durar mais – de 2 a 8 semanas, dependendo do tempo de toma original do medicamento. Em cerca de 15% dos casos, surgem sintomas persistentes (acima de 3 meses), que se consideram uma síndrome de descontinuação prolongada.
Na verdade, o desmame de antidepressivos não tem de ser uma batalha. Existem estratégias práticas que, em conjunto, ajudam a suavizar os sintomas e a recuperar o controle. Este deve começar e terminar com uma palavra: personalização.

Os médicos não seguem receitas. Eles analisam fatores como tempo de uso, dosagem atual, sintomas prévios e até o estilo de vida do paciente para criar um cronograma que minimize os riscos. Em casos complexos, o médico pode até sugerir a transição temporária para um antidepressivo de ação prolongada, que facilita a redução gradual.
Enquanto a medicina cuida da parte química, a psicoterapia pode trabalhar a mente. Terapias como a cognitivo-comportamental ajudam a identificar padrões de pensamento que amplificam sintomas de abstinência. Se a ansiedade disparar durante o desmame de antidepressivos, por exemplo, o psicólogo pode ensinar técnicas para desarmar gatilhos emocionais antes que eles dominem o estado mental do paciente.

Algumas mudanças no estilo de vida também ajudam no desmame dos antidepressivos. Um corpo bem cuidado enfrenta melhor este tipo de desafios. No que diz respeito à alimentação, é importante evitar o açúcar refinado e o álcool, pois ambos desequilibram os neurotransmissores e intensificam sintomas como irritabilidade.
Por outro lado, proteínas ricas em triptofano (como ovos e peixes) estimulam a produção de serotonina, e os hidratos de carbono complexos (aveia, batata-doce) estabilizam a energia.
A prática de atividades aeróbicas, como caminhada rápida ou ciclismo, libertam endorfinas que compensam a queda na dopamina causada pela redução do antidepressivo – não é preciso exagerar, 30 minutos diários já reduzem os sintomas e melhoram a qualidade do sono.
Para acalmar a mente, nada melhor do que experimentar técnicas de relaxamento, como meditação, ioga e mindfulness, que se concentram na respiração, movimento e consciência corporal, aliviando dores físicas ligadas à abstinência.
O desmame de antidepressivos é uma fase de reconexão consigo mesmo. Cada ajuste no estilo de vida não só facilita o processo como constroi hábitos que protegem a saúde mental a longo prazo.
Importa referir que o corpo não esquece como funcionar sem o medicamento – só precisa de tempo para relembrar. Dê-lhe esse tempo!