
ALOTRIOFAGIA, UMA PRÁTICA ALIMENTAR ATÍPICA
DIETA E NUTRIÇÃO
Tupam Editores
A grande maioria das pessoas nunca ouviu falar em alotriofagia, mas provavelmente já soube de alguma grávida que teve vontade de comer algo fora do comum, como barro ou gelo, por exemplo.
A alotriofagia, também conhecida por síndrome de pica ou picamalácia, é um distúrbio caracterizado pela vontade de comer coisas “estranhas”, sem valor nutricional, normalmente fora de qualquer cultura alimentar.

Apesar de pouco conhecida, a condição afeta milhares de pessoas em todo o mundo e caracteriza-se por um desejo incontrolável de comer substâncias não nutritivas, como tijolos, terra ou argila, gelo, giz, papel, tinta, sabonete, pau de fósforos, cola, cinzas, borra de café, plástico, botões, pedras, cabelo, argila, etc.
Além da ingestão de coisas não comestíveis ou usuais, também há quem sinta vontade de ingerir misturas pouco convencionais como feijão com leite, frutas com sal, melancia com margarina, etc.
Geralmente, a alotriofagia acomete crianças ainda na idade da introdução alimentar, mas pode acontecer até os seis anos de idade ou mais. Além disso, aproximadamente 30% das crianças com autismo sofrem de alotriofagia. Em adultos, para além de uma maior prevalência nas grávidas, pode ser observada em alguns casos de doença mental.
A condição pode variar de moderada a grave e pode ter diversas causas. Pessoas com deficiência de zinco e ferro, por exemplo, podem desenvolver o transtorno. Esse é o caso das mulheres grávidas, que, por vezes, têm anemia em alguma fase da gestação. O problema também pode acometer indivíduos com algum tipo de distúrbio mental, como depressão, esquizofrenia ou transtorno obsessivo compulsivo (TOC).
Para ser considerado um caso de alotriofagia e não de mera curiosidade, é preciso que o comportamento aconteça durante um mês ou mais e, no geral, numa faixa etária onde o paciente já entenda que não se deve comer aquele determinado item.
Nos casos de alotriofagia é necessário o médico avaliar se o comportamento não é um sintoma de outra condição, como, por exemplo, no caso da esquizofrenia, em que algumas pessoas acabam por comer substâncias sem valor nutritivo pela incapacidade de diferenciar o certo do errado.

Entre as complicações do transtorno o destaque vai a possibilidade de intoxicação, infeção parasitária e obstrução intestinal.
Os pacientes que chegarem a comer materiais tóxicos ou nocivos ao corpo humano (como produtos de limpeza ou produtos químicos) podem apresentar sintomas como vómitos, diarreia, dor de estômago, salivação e mais. Outros aspetos a ter em atenção são os objetos pontiagudos que podem causar perfurações e itens mais duros que podem gerar lesão nos dentes e no esófago.
As crianças podem ter déficit no desenvolvimento devido a deficiências nutricionais não corrigidas e o feto pode ser prejudicado caso substâncias tóxicas atravessem a barreira placentária.
Não existe nenhum tratamento padrão para a alotriofagia. Geralmente, os cuidados médicos serão personalizados para responder às necessidades individuais de cada paciente. Além disso, o atendimento pode envolver uma abordagem multidisciplinar com a colaboração de médicos, psicólogos e outros profissionais de saúde.
O tratamento da alotriofagia, geralmente, envolve descobrir o que está a causar a condição médica. Se forem descobertas deficiências nutricionais no corpo do paciente, ele pode realizar a suplementação através de medicamentos ou de mudanças na dieta, com o objetivo de superar o comportamento.
O tratamento medicamentoso é feito principalmente por prescrição de inibidores seletivos da recaptação da serotonina (espécie de mensageiro químico), visto que pode haver um diagnóstico psiquiátrico associado, como depressão, transtorno obcessivo-compulsivo ou transtorno de ansiedade.
Se a condição se estiver a manifestar devido a uma doença mental, deverá ser realizado um acompanhamento multidisciplinar para ajudar o paciente a parar de comer alimentos não-comestíveis, inclusive com a realização de acompanhamento psicológico.

Já se acontecer durante a gestação, na maioria das vezes, após o fim da gestação ou até mesmo depois de um breve período, o comportamento cessa naturalmente. Independentemente do caso, os pacientes com a condição deverão ser observados atentamente pelos seus familiares e mantidos longe de produtos tóxicos, para evitar uma intoxicação mais grave ou outros problemas de saúde a longo prazo.
A alotriofagia não é necessariamente permanente, pode diminuir ou desaparecer com o tempo. No entanto, a exposição prolongada ao distúrbio pode estender os efeitos, com repercussões emocionais e fisiológicas – e os seus prejuízos e possíveis complicações – podendo durar mais tempo.
Se perceber que uma criança, grávida ou adulto está a ingerir substâncias não nutritivas, como as mencionados, de maneira persistente, ou se sentir algum sintoma ou desconfiar do aparecimento do distúrbio, procure atendimento médico.