Estudo sugere que solidão duplica risco de dor física
Um novo estudo liderado por investigadores da City St George's, Universidade de Londres, revelou a existência de uma forte ligação entre solidão e dor física em 139 países, destacando o papel significativo do sofrimento psicológico.

Na investigação, publicada na Scientific Reports, foram analisados dados de 256.760 pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 100 anos, recolhidas na Pesquisa Mundial Gallup de 2023 e 2024. Os resultados mostram que os indivíduos que relataram sentir-se solitários tinham mais que o dobro da probabilidade de sentir dor física em comparação com aqueles que não se sentiam sozinhos.
Descobriu-se ainda que a solidão também estava associada a maiores hipóteses de relatar problemas de saúde e sofrimento psicológico. As pessoas solitárias tinham mais de duas vezes maior probabilidades de sentir dor, quase duas vezes mais probabilidades de ter problemas de saúde e 25,8% mais propensão para relatar sofrimento.
No estudo, os especialistas examinaram como diferentes fatores contribuíram para a conexão entre solidão e dor. O sofrimento psicológico explicou a maior proporção da relação, correspondendo a mais de 60% da associação, em comparação com 18,9% para problemas de saúde e 14% para fatores sociais e demográficos, como redes de apoio.
Constatou-se também que os indivíduos solitários tinham maior probabilidade de ter apenas o ensino fundamental. Tinham menos probabilidade de trabalhar a tempo integral, e mais propensão para trabalhar em part-time mas com vontade de trabalhar a tempo inteiro, estavam desempregados ou fora do mercado de trabalho e tinham uma renda pessoal média menor do que os indivíduos não solitários.
A equipa realça o facto de as associações terem sido descobertas em todas as faixas etárias, contudo, mais pronunciadas nas mulheres do que nos homens. Embora os idosos tenham maior probabilidade de sentir solidão, dor e problemas de saúde, a relação entre solidão e dor foi consistente ao longo da vida.
O estudo destaca o peso global da solidão, com 22,7% dos entrevistados a relatar que se sentiram “muito” solitários no dia anterior à investigação. Indivíduos solitários também tinham maior probabilidade de relatar serem solteiros, separados, divorciados ou viúvos, ter menores níveis de renda e escolaridade e estar desempregados.
Fica evidente que a solidão não é apenas uma questão de falta de contacto social, mas está associada a uma saúde mais precária e a um bem-estar reduzido em geral. Apesar de muitos indivíduos solitários relatarem ter amigos ou parentes com quem contar, ou estarem satisfeitos com as oportunidades de conhecer pessoas, a associação com a dor permaneceu significativa, o que sugere que a solidão pode persistir mesmo na presença de conexões sociais.
Os resultados também revelaram diferenças consideráveis entre os países, sugerindo que o contexto cultural desempenha um papel fundamental na forma como a solidão, a dor e o sofrimento são vivenciados e relatados. Embora alguns dos países mais pobres tenham registado as maiores taxas de solidão, dor e sofrimento, as associações não seguiram exatamente os padrões de desenvolvimento económico, apontando, em vez disso, para a influência de normas culturais, estruturas sociais e expetativas.
Segundo os especialistas, a solidão precisa de ser abordada como um desafio global de saúde multifacetado. E para isso, as intervenções não se devem concentrar apenas em melhorar as conexões sociais, mas também em combater o sofrimento psicológico e as desigualdades socioeconómicas.