
DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS, DA CABEÇA PARA O CORPO
DOENÇAS E TRATAMENTOS
Tupam Editores
A relação entre a mente e o corpo está comprovada pela ciência. Já ouviu falar de doenças psicossomáticas? Antes de mais, convém esclarecer que o termo “psicossomático” vem da junção de duas palavras de origem grega, psique, que significa alma, e soma, que significa corpo.
As doenças psicossomáticas são, então, enfermidades que têm origem na alma e no psicológico, mas que também geram consequências físicas no corpo. Essas condições ocorrem quando há desequilíbrios no estado emocional, resultando em dores e problemas físicos.

Estima-se que aproximadamente 5% da população global seja afetada por algum tipo de doença psicossomática, sendo as mulheres mais suscetíveis do que os homens.
Os fatores psicológicos podem desempenhar um papel significativo no desenvolvimento desse tipo de doença. Geralmente, são mudanças marcantes na vida das pessoas que influenciam esse processo.
Por exemplo, problemas profissionais – excesso de trabalho ou falta dele, transições de carreira e até alguns problemas no ambiente profissional podem afetar consideravelmente o equilíbrio psicológico; traumas e eventos marcantes – problemas familiares, perda de entes queridos e traumas na infância podem gerar ansiedade e desmotivação; violência psicológica – abusos e conflitos em relacionamentos amorosos, bullying na escola e violência doméstica; ansiedade e tristeza – dificuldade para controlar esses sentimentos, o que faz com que a pessoa se isole em vez de enfrentar o problema.
Fatores sociais, como problemas financeiros, desemprego, histórico judicial e processos legais, também devem ser considerados. Em resumo, diversos fatores contribuem para o contexto em que os sintomas somáticos se manifestam. Podem ocorrer vários sintomas ao mesmo tempo, apenas um ou até ir variando, sendo a dor o mais comum de todos. A sua severidade também é variável: podem ser leves e transitórios ou mais severos e afetar qualquer parte do corpo do indivíduo.
De entre os mais comuns o destaque vai para as insónias, dor de cabeça ou enxaquecas, tonturas, baixa imunidade, taquicardia, pressão arterial alta, fadiga ou fraqueza, erupção cutânea (dermatite), alterações respiratórias, indigestão ou dor de estômago, dor persistente (muscular, abdominal, no peito ou costas), sensação de dormência, disfunção erétil e úlcera péptica.

Além dos problemas físicos também é possível sentir depressão ou ansiedade, preocupação constante quanto ao eventual problema de saúde subjacente, medo de que os sintomas sejam graves, apesar de não haver evidências nesse sentido, dificuldade em funcionar normalmente no dia-a-dia, e raiva ou irritabilidade por acreditar que as suas necessidades médicas não estão a ser atendidas.
Geralmente, quem sofre de doença psicossomática consulta os médicos com frequência, “saltando” de profissional de saúde em profissional de saúde na busca de um diagnóstico definido. Habitualmente as pessoas com transtorno psicossomático apresentam uma série de testes como análises ao sangue e exames de imagem sem alterações.
Na verdade, há um estigma muito grande quanto às doenças psicossomáticas, pois tende-se a crer que é exagero ou invenção do paciente, já que “não se vê” a doença.
Algumas doenças físicas que surgem ou pioram a partir de um problema psicológico são: a Síndrome do Intestino Irritável (SII) – um distúrbio gastrointestinal funcional, que, em muitos dos casos, está associado ao stress e à ansiedade.
A enxaqueca e as cefaleias tensionais também possuem um certo grau de ligação com o stress emocional. O estado emocional tenso pode desencadear ou agravar essas dores de cabeça, muitas vezes sem uma causa física evidente.

Dores crónicas, como a síndrome da dor regional complexa (SDRC), podem ter uma base psicossomática. Aliás, fatores emocionais podem influenciar a intensidade da dor em muitos casos, tornando essas condições desafiadoras de tratar.
A fibromialgia caracteriza-se por uma dor generalizada e sensibilidade nos músculos, ligamentos e tendões. Mesmo que a origem exata não seja totalmente compreendida, há provas de que alguns fatores psicológicos, como o stress e a depressão, estão frequentemente associados à condição.
A psoríase é outra doença que pode sofrer influência do stress emocional. Os surtos de psoríase podem ocorrer em resposta a eventos stressantes e quadros graves de ansiedade, pelo que a gestão emocional tem um papel muito importante na condição.
Importa referir que a presença dos fatores emocionais não exclui outros fatores físicos ou genéticos nas doenças psicossomáticas, no entanto, quando há influência da mente nessas condições, um plano de tratamento eficaz deverá incluir abordagens multidisciplinares, que consideram tanto os aspectos médicos, quanto os psicológicos.
O tratamento psicológico, em especial a terapia cognitiva comportamental ajuda os doentes a lidar da melhor forma possível com os seus problemas, sendo uma das abordagens mais eficazes no alívio de sintomas sem explicação física direta. Medicamentos, como os antidepressivos, podem ajudar a reduzir os sintomas associados à depressão e à dor, comum na doença psicossomática.
Técnicas de gestão do stress e de relaxamento, como meditação e mindfulness também devem ser incorporadas no tratamento. Em alguns casos, práticas complementares, como acupuntura, quiropraxia, massagem e ioga, também podem ser incorporadas para promover a restauração do equilíbrio físico e emocional.

O suporte social é igualmente crucial no tratamento de doenças psicossomáticas. Amigos, familiares e grupos de apoio podem oferecer um grau maior de compreensão e encorajamento. Assim, é possível ajudar o paciente a lidar com os desafios emocionais e físicos de uma forma muito mais leve e tranquila.
Embora muitos doentes aprendam a controlar os sintomas, mesmo com o tratamento, é possível que estes apareçam e desapareçam ao longo das suas vidas, pelo que é essencial manter o contacto regular com o médico assistente.