CRIOPRESERVAÇÃO, UMA TÉCNICA QUE PODE SALVAR VIDAS

CRIOPRESERVAÇÃO, UMA TÉCNICA QUE PODE SALVAR VIDAS

MEDICINA E MEDICAMENTOS

  Tupam Editores

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Muito se tem falado sobre a criopreservação mas, afinal, em que consiste esta técnica e por que parece ser tão importante? Estas, e outras, dúvidas passam pela cabeça de todos os casais que se preparam para ser pais.


Valerá a pena avançar com a criopreservação das células estaminais do bebé que vai nascer?


Para poderem tomar uma decisão consciente, é imprescindível que os pais estejam informados sobre todo o processo e as suas potencialidades.

Antes de mais, as células estaminais – conhecidas como células-mãe – são células que se podem diferenciar em diversas linhagens celulares, que possuem a capacidade de se autorenovarem e de se dividirem indefinidamente. A capacidade de se diferenciarem em vários tipos de células, podendo substituir células lesadas ou destruídas e regenerar tecidos danificados, explica o grande interesse na sua utilização no contexto da terapia celular e da medicina regenerativa.

Depois de o bebé nascer, e uma vez cortado o cordão umbilical, algum sangue permanece nos vasos sanguíneos da placenta e do fragmento de cordão que lhe permanece ligado. Após o nascimento, o bebé não necessita deste sangue extra.

O sangue do cordão contém todos os elementos normais do sangue – glóbulos vermelhos (eritrócitos), glóbulos brancos (leucócitos), plaquetas e plasma – sendo igualmente rico em células estaminais hematopoiéticas, semelhantes às presentes na medula óssea.

A criopreservação consiste em conservar as células estaminais do cordão umbilical do bebé, por longos períodos de tempo, através do congelamento a baixas temperaturas (-196ºC), sem que estas percam a sua viabilidade durante cerca de 25 anos e possam ser utilizadas no tratamento de certas doenças.

A colheita é fácil e indolor, e não envolve riscos, nem para a mãe nem para o bebé.


Em Portugal, a criopreservação de células estaminais está acessível aos pais, quer através do banco público quer através de bancos familiares privados.

Os bancos públicos funcionam com base no anonimato e no altruísmo do dador (a mãe). As células são doadas e os pais perdem os direitos sobre elas. O sangue do cordão criopreservado ficará disponível para utilização por qualquer pessoa que dele necessite, desde que haja compatibilidade.

No banco familiar, a amostra, retirada para criopreservação de células estaminais, tem como fim o uso próprio ou por familiares, podendo também ser doada, se assim o pretenderem. Mas apenas mediante autorização dos pais/criança.

Importa referir que, como quase todos os procedimentos médicos, a criopreservação de células estaminais tem vantagens e desvantagens.

De entre as vantagens, destaca-se o facto de as células estaminais do sangue do cordão umbilical oferecerem um potencial inestimável para o tratamento de mais 80 doenças.

A leucemia e o cancro são dois exemplos que podem beneficiar do seu uso. Além de serem 100% compatíveis com o próprio, estas células têm 25% de probabilidade de serem totalmente compatíveis entre irmãos.

Se tiverem sido guardadas em bancos privados, estas células podem ser utilizadas de imediato, não havendo necessidade de realizar testes de compatibilidade – o que poderia atrasar o processo de transplante. Além disso, recorrer às próprias células estaminais aumenta a probabilidade de sobrevivência, comparativamente a casos de doação por parte de anónimos.

O sucesso no transplante alogénico com sangue do cordão umbilical é de 85%, comparativamente mais alto que o transplante alogénico com medula óssea, que se situa entre os 35% e os 55%, dependendo da patologia.

Quanto às desvantagens, a recolha de células estaminais está limitada a uma colheita única de sangue e de tecido do cordão umbilical após o parto. A qualidade da colheita depende do cordão umbilical do bebé. Quanto mais espesso e maior for, melhores serão as amostras recolhidas.

Apesar de as empresas fazerem uma preservação das células ao longo de cerca de 25 anos, não existem garantias da qualidade das mesmas no final desse período. Ou seja, as células podem estar criopreservadas, mas existe a possibilidade de não poderem ser utilizadas.

Também é importante que os pais tenham consciência que a maioria das doenças congénitas tratáveis com células estaminais não permitem utilizar material genético do próprio nem de um familiar.

Quanto aos possíveis usos das células estaminais, são inúmeros. As principais doenças em que estas células são usadas são as doenças hemato-oncológicas (cancros com origem nas células do sangue), das quais se destacam as leucemias, os linfomas, as hemoglobinopatias (doenças na hemoglobina) e algumas imunodeficiências.

Atualmente, a utilização do sangue do cordão umbilical encontra-se em estudo, em fase de ensaios clínicos, para o tratamento da diabetes tipo 1 e lesões cerebrais em crianças e ainda de lesões da espinal medula, doença vascular periférica e perda adquirida de audição, entre outras.

Para dar início ao processo, os pais devem adquirir um kit de colheita de sangue e de tecido de cordão umbilical junto da empresa que escolheram para efetuar a criopreservação das células estaminais do seu bebé. A documentação inerente ao processo deverá ser devidamente preenchida e remetida para a empresa, idealmente cerca de 1 mês antes do parto.

Na altura do parto, após o nascimento do bebé, os pais deverão contactar imediatamente a empresa e solicitar a recolha do kit, que será devidamente transportado para o laboratório de criopreservação.

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