POLUIÇÃO SONORA

POLUIÇÃO SONORA

SOCIEDADE E SAÚDE

  Tupam Editores

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Todos os dias, são várias as atividades da nossa rotina que nos expõem a níveis de poluição sonora altamente prejudiciais para a saúde. O ruído é uma constante, em particular nas grandes urbes, e os seus efeitos nocivos fazem-se sentir a vários níveis, mas especialmente na audição. Mas, afinal, o que é o ruído?

É mais fácil perceber do que definir o termo ruído. Uma definição aceitável é que o ruído é qualquer som ou conjunto de sons indesejáveis e desagradáveis, que perturbam, tanto de forma física como psicológica, todos os que o percecionam, ou seja, quem o ouve.

A intensidade do ruído é medida em decibéis (dB). A escala de decibéis é logarítmica, logo um aumento no nível de som de três decibéis representa um aumento da intensidade de ruído para o dobro. Sabendo que a sensibilidade do ouvido humano em relação a diferentes frequências também varia, o volume ou intensidade do ruído é normalmente medido em decibéis com ponderação A (dB(A)). Mas a intensidade de um ruído não constitui o único fator que determina a sua perigosidade; a duração da exposição também é importante.

O ouvido humano não foi concebido para suportar nem excluir muitos dos sons e ruídos que nos rodeiam, por isso, a audição pode ser seriamente afetada por sons repetitivos e fortes. A sociedade moderna criou um meio ambiente em que o ouvido é o órgão sensorial que, com mais frequência e facilidade, é afetado por lesões.

Anatomia do ouvido e perda auditiva

Para entender a perda auditiva é importante conhecer a anatomia do ouvido. O ouvido é um órgão de audição, por excelência, capaz de converter ondas sonoras em sinais nervosos. Estes sinais são depois conduzidos às áreas auditivas do córtex cerebral onde são descodificadas em sons.

No ouvido podem identificar-se três zonas distintas:
–    o ouvido externo, onde se situa o canal auditivo, que direciona o som para o ouvido;
–    ouvido médio ou cavidade timpânica, onde se encontra o tímpano (que transforma os sons em vibrações), e os três pequenos ossículos que transferem as vibrações para o ouvido interno – o martelo, a bigorna e o estribo;
–    e o ouvido interno, onde se concentram o nervo auditivo e o caracol, também conhecido por cóclea.

Ao atingirem o ouvido externo, as ondas sonoras percorrem o canal auditivo até chegar ao tímpano, que vibra quando identifica variações de pressão mesmo muito pequenas, causadas pelas ondas sonoras.

Por sua vez as vibrações do tímpano avisam o martelo e a bigorna de que existe um som, e estes, acionam o outro ossículo, o estribo, que transmite essa informação ao ouvido interno.

Na passagem por cada um desses obstáculos, as ondas sonoras vão sendo amplificadas e chegam ao caracol do ouvido. Este contém “células ciliadas” extremamente sensíveis, semelhantes a penugem, que vibram quando se dá a propagação do som. Essa propagação é facilitada devido à presença de um líquido que estimula as células nervosas do nervo auditivo enviando esses sinais ao cérebro, fazendo com que possamos percecionar o som.

Além de prejudicar o funcionamento do aparelho auditivo, originando lesões irreversíveis, o ruído age sobre o organismo humano por outras formas, comprometendo a atividade física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto. Entre as consequências não auditivas destacam-se dificuldades de concentração, stress, insónia, irritabilidade, dificuldades na comunicação, aumento da pressão arterial, doenças cardiovasculares e do sistema imunitário, que levam a uma diminuição do rendimento escolar e profissional.

No entanto, nem todos os seres humanos experimentam os mesmos efeitos quando expostos ao ruído. Estes variam, estando dependentes de fatores como:
A suscetibilidade do indivíduo, ou seja, dependem dos mecanismos nervosos, hormonais e circulatórios, além da própria cóclea e de todo o ouvido, bem como de patologias como a diabetes, insuficiência hepática, intoxicação por agentes químicos e outras;

A intensidade do ruído – acima dos 85 dB para uma exposição diária de 8 horas, o ruído passa a ser prejudicial à saúde;
O tempo de exposição ao ruído – existe uma correlação entre o tempo de exposição e a intensidade do ruído, dado existirem pessoas expostas a sons intensos diários durante vários anos;

A idade do indivíduo – sabe-se que as crianças têm um sistema auditivo mais sensível que os adultos e reconhecem uma variedade mais ampla de sons. Com o envelhecimento pode ocorrer uma degeneração do órgão auditivo, mas independentemente da idade, a exposição a sons intensos por longos períodos de tempo pode facilitar o processo. Algumas patologias do ouvido, como a otite, por exemplo, é outro fator a considerar.

Quando não tratada, a perda auditiva pode ter consequências muito negativas na qualidade de vida dos indivíduos e nos seus relacionamentos sociais e profissionais, podendo conduzir a situações de isolamento, solidão e depressão.

Os números são inquietantes. A perda de audição é a deficiência mais frequente a nível mundial e abrange 15 a 20 por cento da população, alcançando níveis superiores a 25 por cento à medida que se avança na idade.

Consequências do ruído para as futuras gerações

Em Portugal a situação é preocupante. De acordo com a Direção Geral do Ambiente (DGA) mais de 60 por cento da população portuguesa convive com níveis de ruído acima dos valores recomendados pela OMS, que se situam abaixo de 55 dB. Deste grupo, 19 por cento está mesmo exposta a ruído incomodativo, com níveis de poluição sonora acima de 65 dB.

A agravar a situação, contrariamente a outros países da União Europeia, Portugal tem registado nos últimos anos um aumento dos níveis de ruído, especialmente nas grandes urbes, fazendo com que no seu dia-a-dia, cerca de metade da população nacional, ou seja, mais de cinco milhões de pessoas, se encontre exposta a elevados níveis de poluição sonora.

De referir que os sintomas iniciais de perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) são subtis, começando, na maioria dos casos, pelas frequências agudas. Consequentemente muitas pessoas não percecionam a sua perda de audição, já que todas as outras frequências sonoras estão dentro da normalidade, e, por falta de orientação ou conhecimento, continuam a expor-se ao ruído.

Ao longo do tempo têm vindo a ser empregues, com sucesso, estratégias de combate e prevenção de PAIR no ambiente de trabalho, mas ultimamente a preocupação dos profissionais de saúde virou-se para os efeitos do ruído em crianças e jovens.

Estudos revelam que um por cento das crianças em idade escolar, 13 por cento dos indivíduos entre os 6 e 16 anos e 40 por cento dos jovens entre os 16 e os 25 anos, já apresentam algum grau de PAIR.

A perda auditiva ocorre quando sons muito intensos danificam o ouvido interno, bastando para isso que haja uma lesão em 25 a 30 por cento das células ciliadas. Sons de igual intensidade em adultos e crianças irão lesar em primeiro lugar o ouvido das crianças, por terem ouvidos mais sensíveis, logo, deve dar-se especial atenção aos seus brinquedos sonoros.

Nem todos os fabricantes de brinquedos respeitam as normas acústicas das instituições reguladoras, havendo indicações da comercialização de brinquedos para bebés que atingem 120 dB, quando o máximo permitido seria de 85 dB, ou 65 dB quando mais próximos do ouvido.

O ruído em salas de aula atinge igualmente níveis alarmantes de 102 dB, o que não só prejudica em grande medida os conteúdos didáticos ministrados pelo professor e o absorvido pelo aluno, como pode ser outra fonte de perda auditiva permanente.

No que diz respeito aos jovens, nos últimos anos têm-se registado cada vez mais casos de perda auditiva devido, sobretudo, à forma como inconsequentemente esta faixa etária da população se autoexpõe a níveis de ruído altamente prejudiciais, particularmente nas suas atividades de lazer.

A permanência em espaços com elevados níveis de poluição sonora, como discotecas, bares e concertos, a prática de desportos em ginásios, atividades como a caça, tiro com armas de fogo, motociclismo ou, mesmo, o uso de instrumentos musicais (numa banda ou orquestra) e a utilização progressiva de telemóveis, tablets e aparelhos de MP3 com fones de ouvido têm aumentado assustadoramente a incidência de perda auditiva por ruído.

Nas grandes urbes, onde o ruído ambiental é elevado, as pessoas tendem a aumentar o volume dos aparelhos para conseguir ouvir através dos fones. Os adolescentes, principalmente, utilizam os aparelhos de música pessoais com intensidade sonora entre 75 a 120 dB durante várias horas por dia, quando o máximo permitido seria de 8h a níveis de 85 dB (ou quinze minutos a 100 dB, e apenas 1 minuto a 120 dB).

Não havendo limitação de intensidade sonora, os níveis de um headphone podem atingir 130 dB e mais num earphone. A recomendação segura para o uso de headphones seria de até 1 h por dia, controlando o volume em até 60 por cento da intensidade máxima.

Um estudo realizado na Universidade de Tel Aviv apurou que um em cada quatro jovens (25 por cento) corre risco elevado de sofrer de perda auditiva precoce devido à exposição ao ruído originado pela má utilização dos aparelhos de MP3. As consequências podem ser uma geração futura de “surdos”.

Estes dados são ainda reforçados pela Comissão Europeia, que estima que nos próximos anos, cerca de dez milhões de jovens europeus corram sérios riscos de sofrer de perda auditiva irreversível devido à utilização deste tipo de dispositivos.

Perante este cenário, dentro de uma década, pode estar-se perante uma geração com graves problemas de audição.

A perda auditiva é uma realidade que não devemos ignorar. Os níveis de ruído a que estamos expostos todos os dias, involuntariamente ou por opção própria, têm consequências diretas na saúde auditiva.

A mobilização da sociedade como um todo, principalmente das instituições governamentais e de ensino é importantíssima, e as estratégias de prevenção devem incluir programas de educação em idade escolar, programas ocupacionais de conservação auditiva e o uso de limitadores sonoros e protetores auriculares.

Acima de tudo é importante compreender que muito se pode fazer para prevenir a perda auditiva induzida pelo ruído, mas pouco pode ser feito para reverter os seus danos.

A audição é o primeiro sentido que se estabalece na nossa formação, antes mesmo de nascermos. É também um dos mais fascinantes, já que nos permite conhecer o mundo através de todos os sons. Ouvir bem é fundamental para o desenvolvimento daquela que provavelmente é a mais relevante das habilidades do ser humano: a comunicação.

Assim, pela sua saúde e bem-estar, proteja os seus ouvidos!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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