
LIPEDEMA, QUANDO EMAGRECER NÃO RESOLVE
DOENÇAS E TRATAMENTOS
Tupam Editores
Um acúmulo anormal de gordura nas pernas e, por vezes, também nos membros superiores é a principal característica do lipedema, doença que foi descrita pela primeira vez em 1940 e que até hoje é comummente confundida com obesidade ou excesso de gordura. Já ouviu falar?
O lipedema é predominantemente um distúrbio crónico do tecido adiposo, quase exclusivamente da mulher, que se manifesta principalmente em partes do corpo como quadril, pernas e tornozelos e que se caracteriza por nódulos ou bolsas de gordura e não por uma camada adiposa contínua como na obesidade.

É uma doença pouco divulgada, subdiagnosticada e muito negligenciada pelos profissionais de saúde, de tal forma que muitas pacientes sofrem da condição há anos sem o saberem.
De acordo com vários estudos, o lipedema pode afetar quase 20% da população feminina mundial. Em Portugal, estariam afetadas pela doença quase um milhão de mulheres.
Embora a causa exata ainda não seja completamente conhecida, acredita-se que possa estar relacionada com alterações genéticas pois, em grande parte dos casos, existe historial familiar da doença. Uma vez que está quase exclusivamente associada às mulheres, a origem pode estar relacionada com alterações hormonais. Normalmente, começa a manifestar-se na puberdade, agravando-se na idade adulta, particularmente em contexto de gravidez, menopausa ou uso de medicamentos, como contracetivos orais.
Existem cinco tipos de lipedema, que identificam as zonas do corpo atingidas, por vezes, combinados. A progressão da doença é feita em três estágios, que variam desde o ligeiro inchaço da pele devido à acumulação subcutânea até à presença de grandes massas de gordura e pele descaída. No último estágio, o lipedema afeta a qualidade de vida dos doentes.

Trata-se de uma doença de progressão e severidade dos sintomas gradual.
Os principais sinais são: Acúmulo de gordura nas pernas, glúteos, quadril e tornozelos; Inchaço dos membros afetados e dor no local ao tocar ou caminhar; Dificuldade para andar devido à gordura acumulada; Presença de nódulos, que são identificados ao apalpar a região; Dor nas articulações; Perda de elasticidade da pele; Hematomas frequentes e espontâneos; Sensação de pernas pesadas; Pequenos “vasinhos” vermelhos ou roxos sob a pele; Bolsas ou caroços de gordura acima ou abaixo do joelho; Desconforto estético. Este último sinal pode ser o causador de problemas na autoestima do paciente.
Até que o lipedema seja diagnosticado, muitas pessoas afetadas têm uma longa história de sofrimento, muitas vezes acompanhada por um stress mental grave. Um tratamento correto pode ajudar imenso a aliviar os sintomas. Normalmente, as pessoas afetadas só procuram aconselhamento médico quando o desporto, o exercício físico e as dietas não são bem sucedidos, a dor é um fator adicional e o stress mental se torna demasiado grande.
Além do diagnóstico ser multidisciplinar, também o tratamento do lipedema deve integrar uma equipa de médicos que inclui dermatologista, cirurgião vascular e cirurgião plástico.

Após confirmada a doença, é elaborado o plano individual de tratamento, que poderá ser um tratamento conservador (que inclui plano alimentar anti-inflamatório, exercício físico adequado, massagem, drenagem e suplementação), ou, em último caso, pode recorrer-se à lipoaspiração específica para lipedema, já numa fase estável da doença, para controlo dos sintomas, redução do volume, melhoria da qualidade de vida e autoestima.
São várias as medidas não invasivas que podem ser adotadas para melhorar não só a vertente estética, mas também as queixas de dor e de desconforto das pacientes. O tratamento começa normalmente pelo uso de meias ou ligaduras de compressão para impedir a progressão do problema, reduzir a dor e facilitar a mobilidade. São usados cremes hidratantes e medicamentos para combater infeções e o inchaço do corpo, sendo também recomendadas por vezes massagens.
Paralelamente, a contenção do lipedema inclui a prática de exercício físico adequado – natação, hidroginástica, caminhada, bicicleta, dança, alongamentos, ioga ou pilates, por exemplo. A nutrição é outro dos pilares do tratamento conservador da doença e, embora não tenha uma influência direta na distribuição desproporcional de gordura, a alteração dos hábitos alimentares pode ser uma mais-valia na redução da dor e inflamação, melhorando o prognóstico e a qualidade de vida.

A abordagem cirúrgica do lipedema está indicada quando, apesar do tratamento conservador, há persistência dos sintomas com uma interferência significativa na qualidade de vida.
As técnicas cirúrgicas para o lipedema são específicas e devem ser realizadas por cirurgiões com experiência e conhecimento da doença. As técnicas existentes incluem a lipoaspiração e a cirurgia redutora.
Além do cuidado em ter acesso a informação adequada sobre o lipedema e cumprir os tratamentos ou recomendações, é importante que as pacientes mantenham um espírito positivo e procurem apoio, tanto familiar como especializado, com psicólogos. Terapia de grupo, seja em encontros ou na participação em fóruns na internet, é outra opção para lidar com o problema.
O lipedema não tem cura, mas é possível controlar a sua evolução.