DEPENDÊNCIAS ONLINE

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  Tupam Editores

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A nova era dos dispositivos móveis e dos serviços online não só vieram mudar o tradicional conceito de sociabilização como alteraram comportamentos, em particular entre os mais jovens, mas igualmente entre os adultos através das redes sociais, onde muitos acabam por “mergulhar”, tornando-se delas dependentes e fazendo com que se esqueçam das suas responsabilidades sociais e familiares. Segundo um estudo levado a cabo por um grupo alargado de especialistas e investigadores nacionais do Instituto de Psicologia Aplicada (ISPA) publicado em finais de agosto de 2016, os jovens estão permanentemente ligados ao mundo digital, estimando-se que isso represente cerca de três quartos da população portuguesa. Levada ao extremo, esta dependência pode traduzir-se em comportamentos depressivos ou violentos e ser necessária intervenção médica especializada e tratamentos.

Devido a vários aspetos psicológicos como baixa autoestima, depressão, fobias sociais de entre tantos outros, e sociais, como o isolamento, a solidão e o estilo de vida nos centros urbanos de maior dimensão, cada vez mais pessoas procuram ajuda específica para o tratamento das dependências tecnológicas, como a internet e os videojogos. Este panorama fica a dever-se ao crescimento massivo e acelerado do acesso à internet, associado a uma tendência cada vez maior para o sedentarismo e para nos deixarmos cair numa dependência emocional como refúgio de uma sociedade cada vez mais agressiva e individualista.

Pela sua natureza, todo o ser humano é um ser dependente desde o início da vida no ventre de suas mães, e ao longo de todo o seu desenvolvimento, quer nas suas atividades sociais quer principalmente emocionais já que somos instintivamente levados a interagir com terceiros ao longo dos processos de crescimento e aprendizagem, tornando-nos necessariamente vítimas da dependência emocional.

Hoje, cada vez mais pessoas recorrem a ajuda para tratamento das dependências tecnológicas, como a internet e principalmente os videojogos em consolas ou online, uma nova forma de dependência que veio substituir o elemento humano pelo tecnológico, agora transformado em objeto de prazer gratificante mas muito viciante, ao ponto da Organização Mundial de Saúde (OMS) estar a ponderar seriamente classificar os videojogos como um distúrbio de saúde, apesar da medida estar a ser contestada por alguns grupos de investigadores que acusam a OMS de estar a ver “patologias” em comportamentos que não o são.
O jogador compulsivo típico, viciado nos jogos online, está permanentemente a pensar em jogar, passando horas em frente do écran, muitas vezes sem dormir e comer, com o fito único de continuar o jogo como forma de escapar da realidade, refugiando-se dessa forma num mundo virtual de ficção que o conduz ao  esquecimento das suas responsabilidades como pai, marido, filho, trabalhador ou irmão, perdendo assim por completo a noção dos limites que como cidadão lhe são impostos pela sociedade.

Há já alguns anos que a OMS tem vindo a recolher dados de indivíduos, por todo o mundo, com o objetivo de perceber se a secção de “distúrbios comportamentais” do manual da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID), deve incluir problemas com videojogos. Se, como previsto pela generalidade dos media de todo o mundo a conclusão for positiva, a alteração poderá vir a ocorrer em junho do ano corrente.

A realidade portuguesa

Estudos recentes sobre as dependências online de jovens e adultos portugueses revelaram existir uma associação direta entre a utilização intensiva da internet e diversas alterações no estado de humor, no comportamento no seio familiar e nas relações sociais, entre outras.

Por outro lado, os especialistas que se dedicam à investigação e à intervenção clínica referem que tal como noutros comportamentos associados ao consumo, manter-se online também pode proporcionar conhecimento, prazer e gratificação, mas é importante fazer uma gestão dos riscos para a saúde em geral e para a segurança individual, estabelecendo limites de razoabilidade. Uma gestão saudável dos comportamentos online implica fazer um uso da internet adequado à idade, ao nível de desenvolvimento e às exigências profissionais ou académicas.

Prevendo-se que a curto prazo a OMS venha a equiparar os viciados no jogo, aos consumidores de drogas, os Serviços de Intervenção nos Comportamentos Aditivos (SICAD), emitiu recentemente orientações sobre o tratamento a dar aos dependentes do jogo em geral, uma vez que a OMS vai incluir esta dependência na lista Internacional de Doenças.

Os viciados nos jogos, gambling online incluídos, podem não apresentar sinais físicos de doença, porém os seus efeitos podem ser tão devastadores quanto o consumo de drogas ilícitas ou álcool. A procura por emoções fortes e a tensão crescente da adrenalina associada ao jogo, podem colocar em risco o emprego, as relações sociais e familiares, provocar o isolamento e ausência de disponibilidade afetiva, levando à rotura com a realidade, independentemente de haver ou não dinheiro envolvido, pois os sintomas de privação são “geralmente idênticos ao reportado por indivíduos dependentes de substâncias, nomeadamente os observados na dependência de álcool”.

Por isso, com a prevista publicação do novo manual da CID, a dependência dos videojogos deixará de ser considerado um vício e passa a ser classificada como um distúrbio psiquiátrico, medida que é aplaudida pela generalidade dos médicos de todo o mundo, uma vez que vai facilitar o diagnóstico e o tratamento do distúrbio. É muito importante que finalmente seja reconhecido que a adicção em videojogos pelos adolescentes é um problema de saúde mental grave, que carece de um correto diagnóstico. O viciado em videojogos, jogos de azar ou internet, isola-se da família e dos amigos, tem habitualmente problemas de sono e com a alimentação, e em consequência o rendimento escolar ou mesmo no trabalho tendem a piorar.

Perfil comum do jogador online

Segundo estudos recentes levados a cabo por especialistas, o jogador patológico online é sobretudo do sexo masculino (20,7 por cento são mulheres), têm uma média etária de 30 anos, solteiro sem filhos e quando em relação esta revela-se estável; na formação académica predomina o 12º ano de escolaridade (42,9 por cento) e licenciados (38,7 por cento), residentes em áreas urbanas ou suburbanas, com rendimentos familiares superiores a 40 mil euros anuais. Têm profissões nas áreas intelectual e científica ou exercem atividade comercial.

Ocasionalmente também jogam poker offline e outros jogos similares, fazem todo o tipo de apostas desportivas, mas é nos jogos online que se sentem mais motivados devido à facilidade de acesso, comodidade e privacidade, onde se “perdem” com frequência e solitariamente entre 7 a 8 horas por dia, até altas horas da madrugada. Difere do jogador patológico offline, não só porque gasta menos dinheiro como é em média 10 anos mais novo.

Identificar a dependência

Segundo os especialistas, para que possa ser caracterizada a dependência da internet ou dos jogos online, há um conjunto de critérios para identificar que algo está errado, sendo necessário que a pessoa apresente pelo menos cinco de entre os seguintes: estar obcecado por estar online permanentemente; tentar mas não conseguir parar de usar a internet; sentir necessidade de estar cada vez mais tempo na internet para aumentar o seu prazer; mudar de humor logo que entra em contacto com o equipamento; sentir irritação e ansiedade quando o equipamento não responde ou não pode entrar na internet; perder a noção do tempo em que está ligado e não conseguir sair; pôr em risco o trabalho e as relações familiares por uso excessivo; mentir às pessoas sobre o tempo que permanece ligado.
Para os dependentes da internet ou do online, estes meios tecnológicos funcionam como um antidepressivo, como se tratasse de um “Prozac” virtual, isto é, a pessoa fica mais calma, sente mais alívio e um enorme prazer quando está em contacto com a tecnologia.

Tratamento das adicções

Na grande maioria dos casos as pessoas que sofrem de dependência não assumem esse facto e, talvez por isso mesmo, não seguem qualquer tratamento, havendo no entanto evidências que confirmam que as pessoas que optam por pedir ajuda profissional melhoram consideravelmente a sua qualidade de vida, superando gradualmente os problemas originados pelo vício.

A ajuda profissional implica um conjunto de tratamentos personalizados normalmente a cargo de profissionais das áreas de medicina geral, psicologia e psiquiatria, que numa perspetiva multidisciplinar em todas as complexas áreas das adicções, procedem a uma intervenção integral e coordenada, com o acompanhamento psicológico de um especialista. Estas intervenções são focadas na gestão do controle dos impulsos, na ajuda para aquisição de novos processos de aprendizagem tendo por objetivo melhorar a autoestima, o controle emocional e nos instrumentos que previnam recaídas potenciando, por outro lado, as suas capacidades e recursos.

Como mostram vários estudos, hoje em dia alguns adolescentes deixam para trás um percurso académico de bom nível para se fecharem no quarto a jogar computador dia e noite, bem como amizades de infância e por vezes a própria família, em detrimento dos jogos e dos contactos online. O jovem viciado no universo online confere ao computador e aos dispositivos móveis um elevado grau de importância, um endeusamento virtual, que o leva a patologias graves de irritabilidade, dores de cabeça e agitação, quando em abstinência do objeto tecnológico.

Os especialistas ressaltam que não há qualquer problema em retirar prazer com a internet, porém o que não se pode fazer é substituir o real pelo virtual, pois quando isso sucede, pode gerar isolamento e até desprezo pelas relações interpessoais, e nesse momento é necessário tratamento adequado para repor o equilíbrio.

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