DEIXAR DE FUMAR

DEIXAR DE FUMAR

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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A situação repete-se ano após ano e faz parte das resoluções que muitas pessoas desejam tomar aquando da celebração de datas marcantes como as passagens de ano, festas de aniversário e deixar de fumar.

Para a maioria dos fumadores, deixar de fumar é simultaneamente um desejo e uma enorme dificuldade. As razões para abandonar o vício são tantas quantas as vezes que se desejou fazê-lo. Seja porque se quer constituir família, porque prejudica a saúde e pode matar, porque envelhece precocemente, ou porque se torna difícil suportar financeiramente a dependência, o segredo para o conseguir é estar motivado e ter consciência das dificuldades a ultrapassar, já que deixar de fumar não é "pera doce".

Por muito difícil que seja, é sabido que a cessação tabágica é salutar em qualquer idade e os benefícios são tanto maiores quanto mais cedo for abandonado o consumo.

Também é conhecido que os fumadores vivem em média 10 anos menos que os não-fumadores. Isto porque as substâncias absorvidas destroem alguns órgãos importantes ao mesmo tempo que fragilizam o organismo em relação a vírus e doenças oportunistas.

Quando se fala no cigarro e nos seus efeitos nocivos, pensa-se automaticamente em nicotina. No entanto, esta está longe de ser a única vilã presente no tabaco, embora seja o principal agente viciante. Segundo os especialistas a nicotina consegue completar todo o percurso do corpo humano, em apenas 10 segundos. Neste lapso de tempo, é inalada e absorvida pelos pulmões, entra na corrente sanguínea e desencadeia um impacto cerebral, libertando substâncias que propiciam uma imensa sensação de prazer.

O vício começa justamente quando a nicotina se liga aos recetores do sistema nervoso, desencadeando a libertação de diversas substâncias, como a dopamina, que dão a sensação de prazer, melhoram a memória, deixam a pessoa em estado de mais alerta, diminuem o apetite, entre outros, podendo identificar-se como sendo um reforço positivo. Porém, quando o nível de nicotina no sangue desce, o que acontece cerca de duas horas após o primeiro cigarro, a pessoa sente falta desse reforço positivo e inicia uma crise de abstinência – o reforço negativo. A dependência dá-se pela alternância do reforço positivo com o negativo. Quando o fumador sofre uma crise de abstinência, procura fumar outro cigarro para sentir novamente o reforço positivo, o que dá início ao ciclo vicioso.

Para além da nicotina, os ingredientes utilizados no fabrico dos cigarros, integram cerca de setecentos aditivos químicos, constando-se que haja entre eles metais pesados como chumbo e cádmio, substâncias radioativas como polónio 210 e carbono 14, pesticidas como o DDT e inseticidas.

Aquela "atraente" espiral de fumo azulado está repleta com cerca de 4000 substâncias, entre as quais estearina, acetona, amoníaco, formol, terebentina, metanol, tolueno, níquel, arsénico, butano, nitrosaminas, alcatrão, cianeto hidrogenado e monóxido de carbono, o mesmo gás que sai dos escapes dos automóveis e que, por ter mais afinidade com a hemoglobina do sangue do que o próprio oxigénio, deixa o corpo do fumador – ativo e passivo – totalmente intoxicado.

Não existe nenhum componente no cigarro que não seja nocivo para a saúde e, se dúvidas houvesse, as estatísticas e os estudos sobre o tabagismo, por certo, as elucidariam.

O tabagismo em Portugal

Em Portugal, o consumo de tabaco é, como em todo o mundo, uma das principais causas de morbilidade e mortalidade evitáveis. De acordo com um estudo da Direção-Geral de Saúde (DGS) fumar mata quase o dobro do que o álcool, o sal ou a falta de atividade física. O estudo "Portugal – Prevenção e Controlo do Tabagismo em Números 2015", publicado em fevereiro de 2016, permitiu concluir que de entre os fatores de risco comportamental, fumar foi a primeira causa de morte no país, em ambos os sexos.

Segundo os valores apresentadas no documento, levadas a cabo pelo instituto internacional Institute for Health Metrics and Evaluation, 10,8 por cento do número de mortos no país durante 2013 atribuem-se ao consumo de tabaco, sendo que o fumo passivo esteve na origem de 0,4 por cento dos óbitos. Entre os mais de 12 mil mortos, cerca de 5500 foram causadas por cancro, 4000 por doenças respiratórias e 3000 por doenças do aparelho circulatório.

O relatório da DGS, realizado pelo Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, refere ainda que se analisarmos a população na faixa etária dos 45 aos 64 anos, uma em cada cinco mortes é atribuível ao tabagismo. Fumar é também um dos principais fatores a contribuir para os anos de vida que os portugueses vivem sem saúde.

O documento, contudo, revela algumas boas notícias, como por exemplo o facto de a mortalidade devida à exposição ao fumo ambiental do tabaco ter registado uma descida assinalável nos últimos anos, havendo cada vez menos não-fumadores expostos ao fumo. O país teve ainda uma quebra no consumo de tabaco nos últimos 9 anos, tendo passado de 20,9 por cento da população em 2005/2006, para 20 por cento em 2014. Nos consumidores diários verificou-se uma redução de cerca de 2 pontos percentuais para 16,8 por cento, enquanto que o número de ex-fumadores subiu de 16,1 por cento para 21,7 por cento.

No respeitante à cessação tabágica, Portugal disponibilizou mais 10 por cento de locais de consulta para apoio, além de um incremento de consultas, se bem que apenas 3,6 dos ex-fumadores dizem ter recorrido a apoio médico ou tomado medicamentos para deixar de fumar, enquanto 92 por cento afirmaram não ter recebido qualquer apoio.

De referir que o país tem vindo a implementar medidas de combate e limitação do tabaco que se têm revelado satisfatórias. Em 2013 ocupava a 24.ª posição entre 35 países, tendo subido nove lugares até 2016, com o ranking a ser definido pela "implementação de políticas de controlo do tabaco", como o preço, a proibição/inibição de fumar em locais públicos e de trabalho, gastos em campanhas de informação pública e advertências de saúde que, pelos resultados, não foram em vão.

Repercussões do tabagismo na saúde e benefícios da cessação

Ainda que o fumador seja o mais prejudicado, este hábito também tem a agravante de ser um fator de risco para todos os que se encontram frequentemente expostos ao fumo passivo. A lista de malefícios para a saúde é extensa e assusta mas, de certa forma, cada item é também um bom motivo para deixar de fumar. Quanto mais cedo se abandonar o tabaco, maiores ganhos para a saúde.

As substâncias introduzidas no organismo através do cigarro causam danos imediatos e acumulados, prejudicando a saúde global do indivíduo e elevando os riscos de desenvolvimento de diversas doenças.

Assim, o ato de fumar provoca: vasoconstrição e redução do fluxo de sangue nos tecidos; lesão da camada celular interna dos vasos (endotélio); redução do colesterol bom (HDL); redução da libertação de oxigénio para os tecidos; aumento da acidez estomacal; irritação e inflamação dos olhos, garganta e vias aéreas; aumento da produção de radicais livres que lesam as células; aceleração da aterosclerose.

Porém, aos malefícios do fumo já citados acrescente-se ainda: aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca; aumento do risco de doenças das coronárias, como angina do peito e enfarte do miocárdio; triplica o risco de morte por enfarte em homens com menos de 55 anos; decuplica o risco de tromboembolismo venoso e enfarte em mulheres que tomam anticoncecionais; incrementa o risco de má circulação nas pernas e o risco de impotência sexual.

Fumar também triplica o risco de derrame cerebral (AVC), sendo responsável por 25 por cento das ocorrências da doença; e por 25 a 30 por cento da totalidade dos cancros – incluindo cancro do aparelho respiratório superior (lábio, língua, boca, faringe e laringe); por 80 por cento dos casos de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC); por 75 a 80 por cento dos casos de bronquite crónica; por 90 por cento dos casos de cancro do pulmão; e aumenta também o risco de cancro do esófago, estômago, rins, bexiga e colo de útero, entre outros.

Prejudica o tratamento de doenças, como gastrite, úlcera péptica, esofagite de refluxo, angina, insuficiência cardíaca, bronquite, enfisema e asma; aumenta as complicações pós-operatórias, especialmente em idosos, obesos e pacientes em tratamento de doenças cardíacas ou respiratórias; inflama as gengivas, escurece os dentes e causa mau hálito; aumenta o risco de cataratas, de rugas prematuras e de celulite e interfere na cicatrização de feridas cirúrgicas.

Para além dos problemas referidos, entre o género feminino, fumar aumenta o risco de infertilidade e de osteoporose, especialmente após a menopausa; e nas grávidas, aumenta em cerca de duas vezes a hipótese de aborto, parto prematuro ou ter uma criança com baixo peso.

E não nos deixemos iludir pelo marketing! Não há cigarros levezinhos, light, pois nem os cigarros eletrónicos, tão em voga atualmente, são isentos de danos para a saúde. O aparecimento do cigarro eletrónico é ainda muito recente, pelo que não se conhecem com rigor todos os seus efeitos no organismo a médio e a longo prazo. Sabe-se, no entanto, que é, pelo menos, tão prejudicial à saúde quanto o cigarros tradicional, devendo ser desmistificada a imagem de marketing de menor risco para a saúde.

O uso do e-cigarro implica a inalação, através de aerossol, de substâncias nocivas, presentes no seu líquido. Muitas delas são tóxicas e carcinogénicas, além de produzirem irritação ocular e respiratória, sendo as mais comuns a glicerina, a nicotina, o propilenoglicol, favorizantes, ácido málico e o formaldeído. Assim, a substituição do cigarro convencional pelo cigarro eletrónico não traz qualquer benefício para a saúde, pois isso só será conseguido se deixar de fumar.

Só o simples facto de um não-fumador viver, em média, mais dez anos do que um fumador deveria ser incentivo suficiente para se deixar de fumar, porém existem muitos mais benefícios que têm início logo que se apaga o último cigarro:

Após 20 minutos: a pressão arterial e o ritmo da pulsação voltam ao normal.

Após 8 horas: os níveis de nicotina e de monóxido de carbono no sangue diminuem em 50 por cento e o oxigénio sobe para valores normais.

Após 48 horas: a tensão arterial é estabilizada e o paladar melhora.

Após 72 horas: os brônquios descontraem-se, a respiração solta-se e a pele torna-se mais luminosa.

Após 2-12 semanas: a circulação melhora significativamente e caminhar torna-se menos cansativo.

Após 6-9 meses: sente um aumento gradual do bem-estar geral, acompanhado de mais vitalidade.

Após 5 anos: o risco de cancro da boca e do esófago reduz-se para metade.

Após 10 anos: corre 50 por cento menos risco de ter um cancro do pulmão do que um fumador.

Após 15 anos: o risco de doença cardiovascular é semelhante ao de uma pessoa não-fumadora, do seu sexo e idade.

Ao deixar de fumar ganha-se mais saúde para o fumador e sua família, melhor ambiente, melhor qualidade de vida, melhor forma física, melhor aspeto, e poupa-se mais dinheiro. Na verdade, aproximadamente 80 por cento dos atuais fumadores gostaria de deixar de fumar e 50 por cento tenta fazê-lo todos os anos. Apenas 25 por cento das tentativas para parar com o vício duram mais de uma semana e, sem ajuda especializada, menos de três por cento tem sucesso. Parar de fumar é um processo difícil em que as tentativas podem terminar no reatar do tabagismo várias vezes, até completa abstinência daí que todas as ajudas são bem vindas.

Terapêutica para deixar de fumar

Deixar de fumar pode ser encarado como aprender algo novo e gradual, como andar de bicicleta. Quando estamos a aprender, precisamos de uma bicicleta adequada ao nosso tamanho, de ajuda e de tempo para treinar e ganhar equilíbrio. Provavelmente caímos algumas vezes, mas cair não significa que se falhou, faz parte do processo de aprendizagem. Além disso, a cada queda aprende-se um pouco mais.

Acontece a mesma coisa quando se está a deixar de fumar: quanto mais tentativas se tenta, mais se aprende a ultrapassar esse processo. Deixar de fumar é simplesmente como aprender algo novo: a tornar-se um não-fumador.

Na guerra contra o cigarro, muitos começam por recorrer a terapias chamadas alternativas, como a acupuntura e a meditação, contudo os especialistas referem não haver provas científicas da sua eficácia. Algumas pessoas até conseguem, mas acabam por ter recaídas. Na verdade, não existe uma fórmula infalível para deixar de fumar, mas os elementos-chave para o sucesso de uma tentativa são a determinação e a persistência do fumador.

Todas as pessoas são diferentes e deixam de fumar adotando diferentes métodos. Há quem o consiga sem ajuda, mas a maior parte precisa dela e procura-a. De acordo com um estudo conduzido pela equipa da Consulta de Cessação Tabágica do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, a taxa de sucesso da consulta ronda os 45 por cento, a eficácia de uma tentativa para deixar de fumar com apoio telefónico é de 10 a 25 por cento, e uma tentativa espontânea (sem qualquer tipo de apoio) fica pelos 4 a 6 por cento.

Para escaparmos do grupo dos que tentam, sem êxito, deixar de fumar, o ideal é optar pelos tratamentos que combinam apoio psicológico com substitutos de nicotina ou outros fármacos que ajudam a controlar a síndrome de abstinência.

Para o efeito consideram-se dois tipos de fármacos: os de 1ª linha muito eficazes e com poucos efeitos secundários e os de 2ª linha menos eficazes e que causam mais efeitos adversos. Nos de 1ª linha incluem-se os substitutos de nicotina, o cloridrato de bupropiona e a vareniclina e nos de 2ª linha a nortriptilina e a clonidina.

A terapêutica de substituição da nicotina (TSN) foi o primeiro tratamento farmacológico com eficácia comprovada na cessação tabágica. No mercado nacional está disponível sob a forma de gomas, pastilhas, comprimidos sublinguais e sistemas transdérmicos em várias dosagens e para uso nas 24 horas. A duração do tratamento é variável, oscilando normalmente entre 8 e 12 semanas, devendo a dosagem ser individualizada de acordo com a dependência do fumador e com redução progressiva da dose.

É importante usar a dose correta de nicotina de modo a obter níveis plasmáticos adequados e aliviar os sintomas de abstinência. Pode combinar-se a terapêutica com discos e pastilhas ou gomas, em fumadores muito dependentes, para resolver sobretudo a necessidade urgente de fumar.

O cloridrato de bupropiona, sendo um antidepressivo, não tem qualquer relação química com a nicotina. O seu mecanismo de ação é desconhecido, mas presume-se que seja mediado por mecanismos dopaminérgicos e/ou noradrenérgicos a nível cerebral. Esta ação imita os efeitos da nicotina associados à dependência e à privação. Existe sob a forma de comprimidos de libertação prolongada. O fumador deve parar de fumar na segunda semana de tratamento. A substância tem sido usada em associação com a TSN em doentes muito dependentes com bons resultados e aumento das taxas de sucesso.

A vareniclina é um dos tratamentos mais recentes para deixar de fumar. Comercializado em Portugal desde março de 2007, a vareniclina é um agonista parcial e seletivo dos recetores nicotínicos da acetilcolina. Reduz a dependência da nicotina e atenua os sintomas de privação. Os comprimidos estão disponíveis em várias dosagens sendo aconselhadas pelo menos 12 semanas de tratamento.

Nos fármacos de 2ª linha a nortriptilina é um antidepressivo tricíclico que mostrou ser eficaz na cessação tabágica e a clonidina é um agonista β2 adrenérgico, usado no tratamento da hipertensão arterial, que também diminui os sintomas de privação da dependência do álcool e opiáceos, existindo evidências da sua eficácia na cessação tabágica.

No que respeita à terapia psicológica, através de entrevistas e questionários, o especialista vai ensinar o paciente a conhecer-se melhor, a identificar, antecipar e evitar as situações que fazem disparar a sua ânsia de fumar. As sessões duram cerca de uma hora e podem ser individuais ou em grupo. Ao entender o funcionamento da mente e compreender os comportamentos associados ao ato de fumar e saber quais as situações de risco, evita as circunstâncias perigosas, solidifica a decisão, fortalece o seu autocontrolo e readquire cada vez mais autoconfiança.

Muitas das tentativas fracassadas para deixar de fumar ocorrem porque a pessoa escolheu um mau momento para o fazer. Se o candidato a não-fumador tem uma vida agitada, poderá concluir que nunca haverá um bom momento e, nesse caso, terá de estabelecer uma data concreta e esforçar-se por tornar a vida menos stressante. Se optar por esperar pelo momento ideal, ele pode nunca chegar!

Qualquer altura em que esteja determinado a atingir o objetivo de deixar de fumar é um bom momento. Depois, o candidato a não-fumador deve ser paciente consigo mesmo e ajudar-se a ser bem sucedido. Vai valer a pena o esforço e a perseverança!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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