Complexidade e dificuldade de diagnóstico são o maior desafio das doenças intersticiais pulmonares

Complexidade e dificuldade de diagnóstico são o maior desafio das doenças intersticiais pulmonares

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  Tupam Editores

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Geralmente irreversível, a doença pulmonar intersticial é um grupo de doenças respiratórias caracterizadas pela progressiva cicatrização do interstício pulmonar, resultando em insuficiência respiratória que é suscetível de ocorrer quando uma lesão nos pulmões desencadeia uma excessiva resposta de cura.

No passado mês de outubro realizou-se uma importante reunião internacional sobre doença do interstício pulmonar, a Interstitial Lung Disease Multidisciplinary Meeting, um congresso científico que reuniu algumas das maiores especialidades nacionais e internacionais sobre este tema, contando com uma plateia multidisciplinar de especialistas, entre os quais: radiologistas, reumatologistas, pneumologistas, cirurgiões torácicos e internistas.

Os palestrantes focaram-se sobre os aspetos imagiológicos mais importantes do diagnóstico diferencial entre as várias entidades clínicas abrangidas, sobre a designação genérica de doença intersticial do pulmão e também sobre as opções terapêuticas atualmente disponíveis.

Luís Rosa, diretor clínico da Affidea, confirma estes desafios. “Estamos a falar de doenças que, do ponto de vista do diagnóstico, são muito complexas. A classificação das doenças, as formas de diagnosticar e mesmo como devem ser interpretados os achados nas radiografias e TAC sofrem modificações frequentes. Há doenças a ser classificadas de uma nova forma, há uma atividade de publicação científica à volta destas doenças que exige uma constante atualização”, revela. Fatores que justificam uma inscrição recorde de cerca de 300 especialistas neste encontro.

“Ter alguns dos mais importantes ‘experts’ de doença do interstício a nível mundial no nosso país, com abertura para discussão ampla no fim das suas exposições não acontece muitas vezes. Por cá, infelizmente, cada vez há menos oportunidades de fazer reuniões multidisciplinares com a qualidade deste evento e ter um encontro como este no nosso país é algo que os médicos valorizam”, acrescenta.

Diana Penha, consultora de Radiologia Cardiotorácica no Liverpool Heart and Chest Hospital e membro da comissão científica do congresso, classifica o encontro como “um sucesso”. Até porque, refere, se trata “de um tema muito importante no contexto médico: hoje em dia, é uma patologia cuja incidência e prevalência tem sido subestimada e cujo diagnóstico pode marcar a diferença para o doente”.

De acordo com a especialista, as doenças do interstício pulmonar referem-se a um grupo amplo de doenças, “nem todas de fácil diagnóstico, sendo necessário, por vezes, à correlação à histologia, ao tecido. E não se vai submeter os doentes a procedimentos, muitas vezes invasivos, como a biópsia, se antes não tivermos esgotado todas as possibilidades de uma forma não invasiva. Neste caso, em cerca de 50% das vezes, o médico radiologista, através da TAC, consegue apontar numa determinada direção, que pode ser a direção em que existe uma terapêutica já disponível”.

Em Portugal estiveram nomes como Klaus Irion, professor honorário de Imagiologia Torácica na Manchester University NHS Foundation Trust, David Lynch, professor de Radiologia na University of Colorado, em Denver, nos EUA, Rosana Santos, especialista em Imagiologia Torácica na Affidea Portugal, Angeles Monteiro, patologista pulmonar do Hospital Wythenshawe Manchester, em UK, e Edson Marchiori, professor titular de radiologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Este último falou sobre temas como a pneumonia em organização, uma das doenças do interstício pulmonar que apresenta um quadro clínico variado e que simula outras doenças, e a pneumonite por hipersensibilidade, que resulta da inalação de uma grande variedade de antígenos, reforçando que, ao contrário do que acontecia no passado, agora, na maioria dos casos, a exposição a esses antígenos deixou de ser ocupacional, passando a ser doméstica.

Ana Grilo, especialista em Medicina Interna no Hospital Beatriz Ângelo, centrou a sua apresentação no extenso leque de doenças autoimunes que apresentam na sua evolução repercussão sobre o interstício pulmonar, “as doenças autoimunes abrangem um grande número de patologias desde doenças específicas de órgão a doenças sistémicas, nestas o pulmão é um dos órgãos que é mais frequentemente envolvido. As manifestações traduzem-se de diferentes formas, desde derrames pleurais, alterações alveolares, a alterações do interstício. Numas doenças é mais prevalente do que noutras, mas é de facto um local que demonstra manifestação de doença muito comum”.

Ana Grilo explica que, “numa fase inicial e à semelhança de outras doenças do interstício que não estão relacionadas com as doenças autoimunes, estas patologias começam todas com uma sintomatologia muito parecida e às vezes muito incipiente, sendo por vezes necessário um elevado grau de suspeição para depois estabelecermos este diagnóstico, capaz de alterar o tratamento do doente, que pode já estar a ser tratado para uma doença autoimune ou não”.

Esclerose sistémica, miopatias inflamatórias, artrite reumatoide e doença mista do tecido conjuntivo são aquelas em que a doença do interstício é mais comum e mais grave. Diagnosticar e tratar estes doentes exige, concorda a especialista, um trabalho de equipa.

“Como clínica, não tenho a capacidade de identificar muitos dos padrões da TAC e posso até ficar confusa com a descrição dos achados por parte dos colegas da radiologia. A discussão é feita em equipa multidisciplinar, em que muitas vezes está presente o radiologista, o pneumologista, o reumatologista, o especialista de anatomia patológica, o de cirurgia torácica o internista, é de facto enriquecedora”, refere.

Os maiores desafios para os clínicos são, de acordo com esta especialista, “conseguir estabelecer um diagnóstico correto, já que existem outros fatores externos, como fármacos e infeções, que podem dificultar o diagnóstico certo. Com isso, conseguir estabelecer um plano de tratamento para que o prognóstico seja o melhor possível”.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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