BIOTECNOLOGIA: A ALQUIMIA DOS TEMPOS MODERNOS

BIOTECNOLOGIA: A ALQUIMIA DOS TEMPOS MODERNOS

MEDICINA E MEDICAMENTOS

  Tupam Editores

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O toque de alvorada da indústria da biotecnologia soou quando se realizaram as primeiras experiências de splicing genético, isto é, a modificação da informação genética do DNA para o RNA após a transcrição.

A partir daí, o século XX assistiu a feitos colossais quer na área dos cuidados médicos (biotecnologia vermelha) - desde novos medicamentos, a vacinas recombinantes, passando por uma maior capacidade de diagnosticar doenças -, quer na área agrícola e da produção alimentar (biotecnologia verde) e da protecção ambiental (biotecnologia branca).

Na área fármaco-terapêutica, estão presentemente disponíveis no mercado mais de uma centena de fármacos e vacinas recombinantes. Eficazes e seguros e de custo relativamente baixo, estes medicamentos são uma preciosa ajuda para combater e travar a disseminação das doenças mais antigas nos países subdesenvolvidos.

O primeiro fármaco fruto de investigações biotecnológicas foi uma forma recombinante de insulina humana, aprovada pela "Food and Drug Administration" (FDA) em 1982.

Ao inserir o gene humano da insulina em bactérias, os cientistas deram o primeiro passo para que um dia os diabéticos não precisem de se injectar para receber insulina.

A primeira vacina recombinante foi aprovada em 1986. Os investigadores conseguiram inserir uma fracção do gene do vírus da hepatite B em levedura. A máquina genética da levedura traduziu a fracção em antígeno, uma proteína que despoleta a resposta imune.

Do mesmo modo, a investigação relativa aos anticorpos monoclonais sofreu um drástico desenvolvimento.

Os investigadores conseguiram criar anticorpos, através da fusão de células produtoras de anticorpos com células mielomatosas, que atingem alvos específicos na superfície das células nocivas.

Este tipo de anticorpos é utilizado para evitar que o sistema imunitário rejeite os órgãos transplantados, para tratar o cancro da mama avançado, a esclerose múltipla e a artrite reumatóide.

Actualmente, realizam-se investigações no sentido de demonstrar a eficácia destes anticorpos no tratamento da asma, da doença de Crohn e da distrofia muscular.

Uma outra consequência da evolução dos conhecimentos biotecnológicos foi o desenvolvimento de animais transgénicos.

Foi na década de 80 que se assistiu à inserção de ADN de humanos em animais. Esta técnica, permite, não apenas que os animais possam ser estudados como modelos para o desenvolvimento de algumas doenças que assolam actualmente a humanidade, como também poderão produzir proteínas humanas potencialmente debeladoras de doenças.

Uma das maiores conquistas humanas na área da medicina, foi a sequenciação do genoma humano. Esta proeza impulsionou o aparecimento de outras ciências, como por exemplo a bioinformática, a nanomedicina, a proteómica e a transferência genética, que possibilitam caminhar para a cura de doenças graves.

A evolução da proteómica permitiu o surgimento no mercado de mais testes para detectar doenças. Através do recurso a técnicas como a espectrometria de massa podem detectar-se biomarcadores de proteínas, que poderão indicar precocemente o aparecimento de uma determinada doença. Por exemplo, através da proteína C-reativa (PCR), pode prognosticar-se o aparecimento da aterosclerose.

As novas tecnologias na área da robótica e da informática possibilitam uma análise diária de dezenas de milhar de pequenas moléculas, acelerando a descoberta e a produção de novos fármacos, a par da redução do seu custo e do aumento da sua segurança.

Da mesma forma, o desenvolvimento de vários programas informáticos capazes de analisar biliões de bits de dados genómicos, permitiu a decifração dos códigos genéticos das bactérias, identificando os seus calcanhares de Aquiles.

O desenvolvimento do Zyvox, o primeiro antibiótico a ser introduzido no Mercado em 35 anos, foi baseado nestas novas técnicas.

A par da bioinformática avança também a nanomedicina. Os investigadores interessam-se, cada vez mais por esta área, existindo já no mercado nanopartículas e nanoinstrumentos de apenas alguns milionésimos de centímetro de diâmetro. Estes têm várias utilidades, desde a reparação de tecidos lesionados, até à estimulação do sistema imunológico, detecção de cancro, entre outras. O Taxol, recentemente aprovado, é bem o símbolo deste árduo trabalho.

Uma outra área de investigação que vem igualmente revolucionar a medicina, é a transferência genética. A primeira experiência de transferência genética - substituição de um gene deficiente por um operacional -, realizada em 1990, foi um sucesso - correcção de uma deficiência enzimática numa paciente de 4 anos. Porém, outras houve que falharam, originando um cada vez maior estreitamento das medidas de segurança nos testes clínicos.

Segundo os especialistas, as relações genéticas e as variações no código genético de diferentes populações, estão presentemente a ser estudadas, para que no futuro se possa prescrever mais, cada vez mais, em concordância com as características do ADN do paciente.

De entre o manancial de investigações que têm como base a biotecnologia, as que mais polémica têm causado são as que se debruçam sobre as células estaminais. Vários são os sectores da sociedade que se têm insurgido contra este tipo de investigação devido aos problemas éticos, relacionados com o direito à vida, que este tipo de investigação levanta.

A par do nascimento e desenvolvimento desta nova era biotecnológica nasceu a bioeconomia. Os Estados Unidos lideram o volume de vendas, detendo 83% da fatia do mercado, seguidos da Europa com 13% e da Ásia com 3%.

Actualmente, o total do volume mundial de vendas, na área em análise, ronda os 100.000 milhões de euros. No entanto, a União Europeia prevê que num futuro próximo os números rondem os 2 biliões de euros, por ano.

Também em Portugal a área das biociências está a crescer. Das 30 empresas já existentes no mercado, 38% dedicam-se à biotecnologia vermelha, 25% à biotecnologia verde, 4% à biotecnologia branca e 33% aos serviços correlacionados.

O potencial português é elevado, pois os níveis qualitativos quer dos recursos humanos, quer das unidades de investigação e do equipamento laboratorial são muito elevados. De realçar a recente inauguração do parque tecnológico em Cantanhede, o BIOCANT. Neste parque estão presentes conceituados centros de investigação, entre eles, a Crioestaminal.

A Crioestaminal e os laboratórios Bial são dois dos mais importantes centros de investigação na área das biociências.

Os laboratórios Bial marcam presença no mercado portugês há cerca de 80 anos. Em 1993, inauguraram o seu primeiro centro de I&D no Porto e em 1997 inauguraram o segundo em Bilbau.

O centro de investigação do Porto dedica-se à área do sistema nervoso central e cardiovascular, enquanto que o de Bilbau se dedica à alergologia. Estes centros empregam profissionais de elevada qualidade não só portugueses e espanhóis, como também ingleses, alemães, russos, húngaros, entre outros.

Segundo o presidente, o Dr. Luís Portela, a qualidade e inovação são aspectos que contribuem para o objectivo da Bial que é o de bem servir o doente. Num mundo que cada vez mais põe à prova a àrea da saúde, com o aparecimento de novas patologias, ou patologias cuja cura ainda não foi encontrada, a inovação é essencial e, consequentemente, os investimentos são grandes. Tal como os outros laboratórios farmacêuticos, o grupo Bial investe cerca de 15% do seu volume de vendas na área de I&D. Nos próximos cinco anos, a Bial irá investir cerca de 230 milhões de euros nesta área.

O grupo tem excelentes ligações quer a nível nacional, quer a nível internacional. A nível nacional existem parcerias com o Centro de Neurociências de Coimbra, o Centro de Biotecnologia do Porto, o IBET e com o Serviço de Farmacologia da Faculdade de Medicina do Porto. A nível internacional, a Bial trabalha em parceria com empresas inglesas e norte-americanas muito conceituadas, tendo sido recentemente admitida na Associação Europeia da Indústria Farmacêutica, da qual só fazem parte um restrito grupo de empresas que apostam em I&D.

A Bial pertence ao grupo de empresas que investem no desenvolvimento de novas soluções terapêuticas para salvar a vida de milhares de pessoas e, brevemente, irá comercializar o primeiro produto de raiz portuguesa.

Por sua vez, a Crioestaminal desenvolve a sua investigação noutra área biotecnológica, a das células estaminais. Esta empresa desenvolve produtos e serviços inovadores, alargando o espectro de aplicações das células estaminais do cordão umbilical, com o objectivo de mais tarde poderem vir a ser aplicadas na reparação de tecidos.

A Crioestaminal já conquistou o seu lugar no mercado. A recente inauguração de novos laboratórios no parque BIOCANT é bem a prova disso. Esta nova infraestrutura permite suprir as futuras necessidades dos mercados nacional e internacional, uma vez que tem capacidade para armazenar 60 mil amostras de células estaminais, com tendência para virem a aumentar.

Porém, o que se presenciou até ao momento na área das biociências, é apenas o início. Os investigadores acreditam que o futuro trará uma colossal melhoria da eficácia e segurança dos fármacos e um desenvolvimento de novas técnicas que levem a uma eficaz prevenção das doenças.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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