AMOR EM TEMPOS DE DEPRESSÃO: COMO SALVAR A RELAÇÃO

AMOR EM TEMPOS DE DEPRESSÃO: COMO SALVAR A RELAÇÃO

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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O aparecimento de uma patologia, seja ela de natureza física ou mental, constitui um momento de crise num sistema familiar que acarreta consequências para toda a família. A depressão é uma perturbação mental que causa sintomas que afetam diretamente a relação. Quando um dos elementos de uma relação está com depressão, passa a ser quase uma “relação a três”. Além de se sofrer por ver a pessoa que se ama a sofrer, sofre-se também por tudo o que essa relação acarreta.

Tendo em conta que uma depressão, independentemente das suas características, pode implicar estados de alteração de humor, cansaço/falta de energia, alterações de sono e apetite, implicações na vida sexual, desinteresse por algumas ou todas as áreas da vida, tendência para o isolamento ou afastamento de figuras significativas (nas quais se pode incluir o cônjuge), falta de atenção (involuntária) às necessidades do outro e sentimentos de vergonha por estar deprimido, compreende-se os inúmeros desafios que o elemento não deprimido do casal tem que enfrentar.

Para poder ajudar o cônjuge, é muito importante que o elemento não deprimido compreenda e aceite, por muito difícil que seja, que a pessoa que ama se comporta daquela maneira pelo sofrimento que sente e em que está. Só assim será possível não tornar pessoais todas as mudanças na relação e na forma como a pessoa amada se relaciona com ela.

É possível que surjam muitos sentimentos negativos, como impotência, frustração, injustiça, ingratidão, sensação de que se faz tudo pela outra pessoa e ela não fica feliz, e acaba por se esquecer algo essencial: perguntar ao outro como pode ajudar.

A nossa tendência, muitas vezes, é agir conforme aquilo que se acha que vai ajudar ou fazer bem à pessoa deprimida, mas isso é apenas a nossa opinião. A outra pessoa naquele estado tão doloroso, pode ter necessidades diferentes daquelas que eu penso que ela teria, mesmo conhecendo-a bem.

O elemento não deprimido deve tentar compreender as manifestações da doença e o transtorno depressivo de forma geral, para poder ajudar o outro da melhor forma. Deve, a todo o custo, evitar o julgamento, principalmente porque a depressão é uma doença estigmatizada e ainda rodeada de preconceitos.

A pessoa deprimida deve ser encorajada a conversar sobre o que sente e ser ouvida sem que se sinta julgada. O caminho não passa por dar conselhos, mas por fazer com que sinta que não está sozinha e que pode estar à vontade para falar. Deve existir disponibilidade para ouvir, sem pressa e sem pressão.

Gestos que podem parecer simples, como relembrar a hora de toma de medicação ou fazer companhia numa caminhada, são extremamente importantes.

O elemento não deprimido deve mostrar-se disponível e recetivo.


Deve ainda procurar identificar as atitudes que possa estar a adotar e que contribuem para desencadear episódios depressivos. Mesmo que na origem da depressão possam estar questões associadas à relação de casal, o elemento não deprimido não se deve sentir responsável pela depressão e deixar-se enredar pela culpa. Isso não seria construtivo nem ajudaria a superar a situação.

Na mesma linha de raciocínio, sozinho não é possível ajudar uma pessoa a ultrapassar uma depressão. O que é realista é o elemento não deprimido demonstrar e oferecer empatia, apoio, amizade e amor. Deverá ser procurada ajuda especializada, idealmente para ambos – quer de forma individual, quer sob a forma de terapia de casal.

O tratamento e intervenção na depressão são da responsabilidade de profissionais capacitados, no entanto, o acompanhamento a consultas também é crucial. Além de passar uma mensagem de disponibilidade e atenção, o cônjuge podem fornecer informações complementares muito úteis ao profissional de saúde.

O elemento não deprimido deve evitar expressar os seus sentimentos de frustração ou de fúria de formas que se possa arrepender, no entanto, não deve suprimir os seus sentimentos.

É importante expressar os seus desejos e necessidades, ainda que dependam da outra pessoa. Evitar a honestidade sobre o que se pretende da relação poderá fazer com que a pessoa deprimida se sinta pior consigo própria. Esta frontalidade deve presidir à comunicação sobre o que sente, ou não, ser capaz de fazer. Não se devem fazer promessas que não sejam passíveis de ser cumpridas.

A tomada de decisões relevantes deve ser adiada para momentos de maior estabilidade da pessoa deprimida. É natural que surja uma assimetria em algumas dimensões da vida do casal quando um dos seus elementos se encontra num estado depressivo, no entanto, este deve ser encarado como um momento transitório.

Há que ter consciência de que a recuperação pode ser um caminho longo. O elemento não deprimido deve ter paciência para o “tempo do processo” de recuperação e perceber que juntos irão conseguir lutar contra a depressão e derrotá-la, não desperdiçando tempo nem energia a lutar um contra o outro. O amor vence sempre… até a depressão!

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