ÁLCOOL DURANTE A GRAVIDEZ, LIMITES E CONSEQUÊNCIAS

ÁLCOOL DURANTE A GRAVIDEZ, LIMITES E CONSEQUÊNCIAS

GRAVIDEZ E MATERNIDADE

  Tupam Editores

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O álcool é uma substância legal, amplamente disponível e cada vez mais consumida na nossa sociedade. Apesar de toda a informação sobre os seus efeitos lesivos, até durante a gravidez o consumo de álcool tem vindo a aumentar, especialmente na população jovem feminina, havendo quem acredite que existe um limite seguro. Será?

 

O álcool atravessa facilmente a barreira placentária de forma que, após 1 hora, a concentração de álcool no sangue da mãe é a mesma que a do sangue do feto. Na prática, isso significa que o feto consome a mesma quantidade de álcool que a sua mãe, mas com uma agravante – ao contrário do que acontece com esta, o fígado imaturo do feto ainda não consegue processar o álcool circulante.

Sendo o álcool uma droga capaz de causar adição, o seu consumo terá forte impacto no desenvolvimento do embrião, pelo que, mesmo em pequenas quantidades é completamente desaconselhado e pode ser extremamente prejudicial para o bebé.

As consequências do consumo de álcool sobre o feto em desenvolvimento são várias e podem apresentar diferentes níveis de gravidade. Os efeitos imediatos deste comportamento de risco podem traduzir-se em: aborto espontâneo; restrição de crescimento; parto prematuro; SAF (Síndrome Alcoólica Fetal), e morte do bebé ao nascimento.

Os Distúrbios do Espectro Alcoólico Fetal (DEAF) são um grupo de alterações que podem surgir em filhos de mães que consumiram álcool na gravidez. A forma mais grave é a SAF, que pode provocar malformações, anomalias do sistema nervoso central (SNC), atraso no crescimento e prejuízos no desenvolvimento do bebé.

Em geral, quanto maior e mais frequente for o consumo de bebidas alcoólicas, maior é o risco de o filho desenvolver SAF. Estima-se que cerca de 3 em cada 1000 bebés nascidos tenham SAF.

Os DEAF englobam não só as malformações fetais, mas também alterações menos óbvias no desenvolvimento intelectual da criança, que podem só se tornar aparentes no final da infância ou início da adolescência.

Entre os sinais e sintomas mais frequentes incluem-se: malformações nos ossos da face; microcefalia (crânio de tamanho pequeno); malformações no coração, ossos ou rins; redução do crescimento (intrauterino e/ou posterior ao nascimento); baixo peso corporal; déficits de coordenação motora; hiperatividade; déficit de atenção; mau desempenho escolar; dificuldade de aprendizagem; atrasos no desenvolvimento da fala; baixo QI; problemas de visão e audição; morte súbita do recém-nascido.

Como referido anteriormente, algumas das alterações no desenvolvimento intelectual da criança podem só se tornar aparentes mais tarde, por volta dos 10 anos. Para as mães que beberam durante a gravidez, ter um filho perfeito do ponto de vista estrutural e que apresenta um desenvolvimento motor e intelectual satisfatório nos primeiros anos de vida não é uma garantia de que o mesmo não possa vir a apresentar sinais de DEAF.

 

O consumo de álcool durante a gravidez está, portanto, contraindicado. Os efeitos teratogénicos da exposição pré-natal ao álcool no desenvolvimento do SNC surgem com consumos mínimos de uma bebida por dia e a probabilidade de consequências para o feto é proporcional ao consumo materno de álcool.

Nenhuma quantidade de álcool consumida durante a gestação pode ser considerada segura e também não existe um trimestre seguro para o seu consumo.

Apenas no primeiro trimestre o consumo de álcool representa uma probabilidade 12 vezes superior de uma criança nascer com um DEAF, mas essa probabilidade aumenta em 65 vezes se o consumo se verificar em todos os trimestres.

A prevenção primária, através da divulgação dos efeitos nocivos do álcool durante a gravidez e da necessidade de abstinência, é fundamental na redução da incidência do DEAF. Além de se questionar a necessidade de abstinência total de álcool, também há quem pense que existem diferentes tipos de risco para diferentes tipos de bebidas alcoólicas, o que não é verdade.

Qualquer bebida, mesmo que com indicação “sem álcool”, como o caso da cerveja, deve ser evitada.


Isto porque na verdade as mesmas continuam a ter álcool na sua composição. Assim, todas as formas de álcool representam um risco semelhante e o consumo episódico excessivo representa um risco para o feto proporcional à dose ingerida.

São essenciais estratégias de prevenção dirigidas a toda a população, com maior incidência nas jovens e mulheres adultas. É importante o desenvolvimento de programas que apelem à consciencialização precoce da gravidez e à total abstinência de álcool na fase da pré-conceção, gravidez e amamentação.

É urgente sensibilizar as mulheres para as possíveis consequências deste hábito nos seus filhos. Se não dariam um copo de vinho ou cerveja ao seu filho de 3 ou 4 anos, porque o fazem a um que está na sua barriga?

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