
ADOLESCÊNCIA: COMO LIDAR COM AS MUDANÇAS DE HUMOR
MENTE E RELACIONAMENTOS
Tupam Editores
A adolescência não é uma fase fácil. Qualquer pai que já passou por isso sabe que é um período de grandes mudanças em que o vínculo que existia até então parece mudar a um ritmo acelerado. As mudanças de humor nos adolescentes tornam-se moeda corrente: quem era extrovertido e falador pode ficar tímido, quem contava todos os seus segredos fecha a porta do quarto com desconfiança e é como se, de repente, os pais fossem quase estranhos para aqueles meninos a quem até muito recentemente cobriam de beijinhos.

Existem jovens e jovens e essa realidade nem sempre acontece, no entanto, as mudanças de humor na fase da adolescência (10 a 19 anos) são frequentes e estão intimamente ligadas ao processo de crescimento.
Alterações hormonais, modificações físicas e do foro psicológico, mas também a chegada de momentos importantes de decisão (como a escolha do futuro profissional) caracterizam esta fase. Com tantas mudanças em simultâneo, é normal que o adolescente demonstre sinais de ansiedade, tristeza, frustração ou irritação, assim como alterações repentinas de humor.
Geralmente interpretadas como ilógicas e fora de proporção, estas mudanças repentinas de humor podem causar confusão e desconforto não só aos adolescentes, mas também às pessoas ao seu redor. São os pais que mais as testemunham e muitos sentem-se incapazes de lidar com a instabilidade emocional dos seus filhos.
Ter consciência de que a adolescência não é um período fácil é o primeiro passo para lidar com essas mudanças de humor enquanto pai ou mãe. Ambos devem ter especial atenção, cuidado e compreensão nesta fase da vida dos filhos, não reagindo por impulso. Para proporcionarem um ambiente saudável ao seu desenvolvimento, devem ter sempre presentes algumas “regras de ouro”.
Se pensar bem, as transformações significativas no seu corpo, na sua mente e no ambiente social representam razões mais do que suficientes para explicar as variações de humor.
Ter em mente que esse período não dura para sempre já pode ajudar a lidar com a situação.
Muitas vezes os adolescentes queixam-se que não são compreendidos, o que mostra como o diálogo e a empatia são importantes. Converse com o seu filho. Procure manter um bom relacionamento com ele, mesmo quando é difícil lidar com o seu comportamento. Escute-o sem emitir julgamentos imediatos, acolha os seus sentimentos e faça perguntas mais concretas do que “tudo bem?”, sem ser invasivo. É essencial respeitar a sua individualidade. A comparação regular com amigos, primos ou outras referências pode ser muito nociva.
É importante não pressionar o adolescente, deixando-o levar o tempo necessário para compreender as suas emoções e tomar as suas decisões. Mas oriente-o na tomada de decisões importantes.

Às vezes pode ser difícil, mas mantenha a calma. Levantar a voz ou recorrer ao sarcasmo é contraproducente e acaba por piorar a situação.
A abordagem deve sempre aliar serenidade e firmeza, transmitindo segurança e acolhimento.
Procure cultivar a criatividade. Seja dança, desenho, teatro, música ou o que for, é importante oferecer oportunidades para desenvolver habilidades artísticas, que dão vazão a essa montanha-russa de humor e até mesmo a potencializam numa expressão positiva.
Promova o autocuidado, com ênfase na alimentação, higiene, hábitos de sono e relaxamento.
Converse sobre alimentação com o seu filho e dê suporte a escolhas saudáveis. Um bom pequeno-almoço e não abusar na cafeína e no açúcar são apenas algumas dicas que podem ajudar os adolescentes a sentirem-se no seu melhor.
Devem ser incentivados hábitos de sono saudáveis. Sem boas noites de sono o vai-e-vem emocional só piora. É fundamental estabelecer regras para o uso das tecnologias e plataformas digitais na hora de ir para a cama. Os adolescentes de hoje estão hiperestimulados, e os ecrãs acabam em muitos casos por se tornarem um vício perigoso.
Incentive a prática de atividade física. O exercício físico liberta endorfinas, o que ajuda a reduzir o stress e melhorar o humor. Dedicar 20 minutos por dia a alguma atividade desse tipo pode fazer toda a diferença para o adolescente.
Ainda que, num período de grandes transformações, como é o da adolescência, seja normal existirem mudanças de humor acentuadas e repentinas, os pais devem estar atentos a sinais considerados fora da norma. Alguns sinais poderão ajudar a identificar os limites que, uma vez ultrapassados, serão razão para procurar um especialista.

De entre os fatores que podem ser motivo de preocupação, o destaque vai para: o isolamento e afastamento daqueles que eram os seus amigos habituais; perturbações do sono (deitar-se ou acordar frequentemente tarde, ou ter dificuldade em adormecer); preocupação obsessiva com a imagem; alterações do apetite; perturbações gastrointestinais; fadiga persistente; tristeza profunda; deterioração do desempenho escolar; consumo de substâncias ilícitas e adoção de comportamentos de risco; situações de auto-sabotagem, como mutilação; excesso de tempo passado online.
Um pediatra com formação em Medicina da Adolescência consegue orientar a maioria das situações inerentes a este período, mas perante casos de maior complexidade poderá ser necessária uma abordagem multidisciplinar que envolva a Psicologia, a Pedopsiquiatria e/ou outras especialidades. Esteja atento ao seu adolescente e acompanhe-o pacientemente durante este período.