
ACUFENOS, RUÍDOS ILUSÓRIOS
DOENÇAS E TRATAMENTOS
Tupam Editores
Imagine ouvir um zumbido incessante no ouvido ou às vezes dentro da cabeça – um barulho constante que nunca para e que atrapalha a concentração, as conversas e até o sono. Este tipo de zumbido é designado pelos médicos de tinnitus ou acufenos.
Os acufenos correspondem à perceção de um som, no ouvido ou na cabeça, uni ou bilateralmente, sem a existência de um estímulo externo. Podem ser campainhas, buzinas, cliques, entre outros. Estes sons-fantasma podem variar de intensidade e podem ocorrer num ou nos dois ouvidos. Podem ainda estar sempre presentes ou serem intermitentes. Em alguns casos, o seu volume é tão alto que interfere com a capacidade de concentração ou na audição de sons reais.

Podem ter origem em qualquer parte do sistema auditivo e são um sintoma muito comum que pode afetar pessoas de qualquer idade ou género.
De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, o problema afeta 278 milhões de pessoas no mundo. Considerando as pessoas acima de 60 anos, o zumbido pode atingir até 33% da população, ou seja, 1 em cada 3 pessoas nessa faixa etária. Cerca de 1 em cada 5 pessoas alega que a condição afeta negativamente a sua qualidade de vida, causando fadiga, stress, alterações no sono e na concentração, problemas de memória, depressão, ansiedade ou irritabilidade.
Quando nos questionamos sobre o que pode causar os acufenos, deparamo-mos com uma longa lista. A causa mais comum é a exposição ao ruído excessivo, que danifica as minúsculas células ciliadas no ouvido interno. O ruído nos ouvidos é o resultado do cérebro tentar compensar pela perda de células ciliadas.
A perda de audição associada à idade, sobretudo depois dos 60 anos, é outra causa frequente, tal como as infeções do ouvido médio, vertigens, acumulação de cerúmen, alguns medicamentos (antibióticos, diuréticos, antidepressivos, aspirina), infeções, traumatismos do ouvido ou cranioencefálicos ou doenças cardiovasculares.
Podem ainda surgir associados à Doença de Ménière, a alterações da articulação temporomaxilar ou vasculares, como a aterosclerose ou a hipertensão arterial, e a lesões tumorais. O tabaco também é um fator de risco para o seu desenvolvimento.
Para além da correta identificação da causa do problema, também é importante diferenciar o tempo de duração do sintoma. Quando está presente há menos de 3 semanas, deve-se considerar condições de saúde emocional, exposições recentes a ruído intenso, trauma de cabeça e pescoço, otites ou uso de certos medicamentos. É igualmente necessário verificar a presença de cerúmen, cefaleias, dores no pescoço ou articulação temporomandibular, além de déficits neurológicos focais.
Se os acufenos estão presentes há mais de três semanas, é importante verificar se existem outros fatores associados, por exemplo: quando além do zumbido, o paciente apresenta sensação de ouvido entupido (plenitude aural), perda de audição e tonturas, há a suspeita de Doença de Meniére.

Para um correto diagnóstico é fundamental uma anamnese detalhada (perguntas feitas em consulta) e um exame físico cuidadoso. O exame deve englobar os ouvidos, cabeça e pescoço. Este é geralmente composto por um audiograma, pela avaliação do movimento e estudos por imagem (tomografia ou ressonância). Em muitos casos, a origem dos acufenos não é detetada, sendo importante definir a melhor estratégia para minimizar o seu impacto na vida dos pacientes.
O tratamento dos acufenos vai variar consoante a sua causa. A maioria das abordagens utilizadas recorre a medicamentos ou terapêutica designada por TRT (Tinnitus Retraining Therapy). Nesta técnica, recorre-se a um dispositivo portátil programado para mascarar as frequências específicas dos acufenos de cada paciente.
Ao longo do tempo, este método permite que o doente se acostume aos seus acufenos, passando a estar menos focado neles. A remoção de cerúmen dos ouvidos também pode ajudar a reduzir os sintomas. E sempre que existirem alterações vasculares, elas deverão ser tratadas. É ainda importante rever toda a medicação do doente, pois alguns medicamentos podem ser a causa do problema.

Suprimir o ruído, recorrendo ao chamado “ruído branco” também pode ser muito útil.
O recurso a uma ventoinha, desumidificador ou ar condicionado no quarto durante a noite também gera um ruído branco que pode ajudar a suprimir os acufenos, permitindo um sono mais reparador.
Os medicamentos não tratam os acufenos mas podem minimizar a sua gravidade. Assim, os antidepressivos ou alguns sedativos podem ajudar.
Os pacientes que recebem tratamento mais precoce têm um melhor prognóstico. Assim, quanto mais depressa procurar um serviço de saúde adequado, maiores são as probabilidades de cura. Se se identifica com a condição, consulte um médico especialista em Otorrinolaringologia o mais rápido possível. Não desanime!