LINCE IBÉRICO - Em recuperação!

LINCE IBÉRICO - Em recuperação!

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  Tupam Editores

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Não é surpresa para ninguém que o Lince Ibérico está em perigo de extinção. É, aliás, o felino mais ameaçado do planeta, tendo sofrido um processo de regressão acentuado desde o século XIX até ao início do século XXI.

Até há pouquíssimos anos o Lince Ibérico, de nome científico Lynx pardinus, esteve a ponto de desaparecer da fauna do presente. No século XX, passou de residir em praticamente todo o território português a ser uma raridade em pequenos focos nacionais.

A sua história tem sido atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100 mil animais, distribuídos por Portugal e Espanha, mas no início do novo milénio o número não chegava à centena de exemplares.

Atualmente, há quem diga que o pior já lá vai. Graças a um conjunto crescente de projetos que visam a conservação do felino, parece estar a iniciar-se a recuperação – a altura ideal para dele se falar.

O lince ibérico – também conhecido pelos nomes populares de cerval, lobo-cerval, gato-fantasma, gato-cerval, nunca-te-vi, liberne, gato-cravo ou gato-lince –, é uma espécie de mamífero carnívoro que pertence à família Felidae, que inclui animais de grandes dimensões como o leão, o tigre, ou o jaguar, e animais de dimensões menores, como o gato-bravo, o gato doméstico ou o ocelote.

Animal de dimensões médias, o seu comprimento varia entre 90cm e 120cm e pesa 9-10Kg, no caso das fêmeas, e 12-14Kg no caso dos machos.

Possui uma cabeça pequena em proporção com o corpo e os seus membros robustos terminam em patas com quatro dedos equipados com unhas, que pode recolher completamente.

Como características inconfundíveis apresenta cauda curta com uma mancha negra apical, um conjunto de pêlos compridos nas extremidades das orelhas – os pincéis – e umas patilhas de longos pelos pretos e brancos de ambos os lados do focinho que se assemelham a barbas.

A sua pelagem castanho-amarelada com manchas pretas permite-lhe passar despercebido no seu habitat, a floresta mediterrânica.

Biologia, ecologia e causas do declínio populacional

O lince ibérico ocorre apenas na Península Ibérica onde atualmente habita zonas com áreas ricas em arbustos, para se abrigar, e áreas mais abertas, que lhe proporcionam alimento.

Evita zonas com maior influência humana como as plantações industriais, os campos agrícolas, as áreas urbanizadas ou as imediações de estradas, embora possa atravessá-las quando, enquanto jovem, procura uma área para se estabelecer.

Trata-se de uma espécie solitária – os machos e fêmeas adultos só têm contacto na época de acasalamento –, e territorial – os machos adultos ocupam áreas exclusivas que defendem uns dos outros, tal como acontece com as fêmeas. No entanto, os territórios de machos e fêmeas podem sobrepor-se.

À semelhança da maioria dos outros carnívoros presentes na Península Ibérica, como o lobo, ou o texugo, o período de atividade do lince é crepuscular ou noturno. Nesta altura inicia as deslocações dentro do seu território à procura de alimento. A área territorial do lince pode variar entre 300ha e 2000ha, dependendo da densidade populacional da sua principal presa.

A espécie alimenta-se quase exclusivamente de coelhos-bravos. Em regra, um lince-adulto necessita de um coelho por dia, podendo esta necessidade aumentar para as fêmeas gestantes e com crias numerosas. Em áreas ou em alturas em que a abundância de coelho é baixa, a sua dieta é complementada com outras presas, como roedores, gamos, lebres, patos ou perdizes, ainda que prefira o coelho.

A época de reprodução tem um pico entre dezembro e janeiro. As crias, em número de 2 a 4, nascem após dois meses de gestação em cavidades naturais como troncos ocos de árvores de grandes dimensões ou cavidades rochosas, onde permanecem até aos dois meses de idade. Nessa altura, começam a acompanhar a mãe nas suas deslocações diárias até atingirem 1-2 anos de idade, altura em que abandonam a progenitora e iniciam a procura do seu próprio território.

A espécie esteve presente em praticamente toda a Península Ibérica até meados do século XIX. Na segunda metade do século XX verificou-se um declínio acentuado, deixando menos de 100 animais em duas populações isoladas de Doñana e Serra Morena, na Andaluzia.

De Portugal, ao longo do século XX, foi desaparecendo. Por essa razão, em 2002 foi classificado com o estatuto de “Criticamente em Perigo” na Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN).

As causas deste declínio populacional e da regressão da área de ocorrência da espécie são várias, mas estão relacionadas sobretudo com a diminuição das populações de coelho-bravo e com a perda de habitat.

De facto, a diminuição significativa da abundância da sua presa principal, o coelho-bravo, como consequência da proliferação de doenças como a mixomatose e a doença hemorrágica viral afetou de forma muito negativa as populações de lince-ibérico.

A este fenómeno acresceu a destruição e formação de manchas isoladas do habitat preferencial da espécie – o matagal mediterrânico – devido à instalação de extensos campos de cultivo/alteração das práticas agrícolas e à implantação de povoamentos florestais industriais, assim como devido à expansão das vias de comunicação e à construção de barragens.

Outros fatores que também poderão ter tido um papel relevante no declínio do lince foram a elevada mortalidade resultante de causas não-naturais, como o atropelamento e abate ilegal a tiro ou com recurso a armadilhas.

Devem ainda ser considerados os problemas de infertilidade e os fenómenos típicos de degradação genética associados a populações de tamanho reduzido. Patologias como a leucemia felina, a toxoplasmose e a tuberculose bovina constituem igualmente sérias ameaças à sua sobrevivência.

A precária situação em que o lince se encontrava e o facto de ser o felino mais ameaçado do mundo despertaram um grande interesse e preocupação por parte da sociedade e das autoridades, o que os levou a agir.

Com efeito, está a ser implementado na Península Ibérica um conjunto de medidas de conservação integradas em programas delineados para recuperar a espécie tanto em território nacional como no espanhol.

Proporcionar à espécie um futuro: medidas de conservação

A concretização dos programas de conservação do lince incluem ações específicas como:
– A recuperação e conservação do habitat e das populações de presas. Para que uma população seja viável, o meio tem de ter condições para a suportar, o que passa, antes de mais, por disponibilizar-lhe abrigo e alimento. As ações de melhoria do habitat incluíram a recuperação de áreas de matagal mediterrânico e o estímulo das populações de coelho, através do repovoamento, disponibilização de alimento e de zonas de abrigo.

– A redução das causas de mortalidade não-natural: a diminuição da incidência de mortalidade não-natural da espécie é essencial para garantir a viabilidade das populações a longo-prazo. Assim, é importante reduzir o impacto das estradas – que, para além de atuarem como barreiras aos movimentos dos animais, causam um número considerável de mortes por atropelamento –, e controlar o abate ilegal.

– Educação e sensibilização da sociedade para a importância da conservação do lince. Para além de tornar a conservação da espécie compatível com atividades como a gestão agro-florestal, a caça e o turismo, é essencial sensibilizar e educar o público em geral, e as populações de áreas de ocorrência histórica/potencial da espécie em particular, para a importância da espécie e da sua conservação.

– Reforço populacional e reintrodução de felinos no meio natural.

Dado o reduzido tamanho, foi necessário fazer o reforço de alguns núcleos populacionais já existentes e, quando criadas as condições que garantiam a viabilidade populacional em zonas de ocorrência histórica da espécie, reintroduziram-se animais em locais de ocorrência histórica. Para isso foi fundamental a implementação de um programa de reprodução em cativeiro de maneira a aumentar o número de indivíduos disponíveis para estas ações.

Uma reintrodução é uma tentativa de estabelecer uma população selvagem viável de uma dada espécie, numa determinada área geográfica que já foi parte da sua distribuição histórica mas onde esta espécie foi extinta.

O programa de reintrodução do lince foi desenvolvido desde 2009, em conjunto com Espanha, no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves.

No final de 2014, os primeiros linces (um casal) foram libertados num cercado de adaptação em Mértola e, em fevereiro de 2015, abriram-se as portas deixando-os ir para o meio natural.

Entre 2015 e 2017 foram libertados 27 animais no Vale do Guadiana. Desde 2016 que há reprodução na natureza e a maioria dos animais apresenta território estável.

Atualmente, estima-se que a população de lince ibérico a viver na natureza em Portugal seja constituída por 75 animais, espalhados pelos concelhos de Mértola, Serpa, Castro Verde e Almodôvar, no distrito de Beja, no Alentejo, e Alcoutim, no distrito de Faro, no Algarve.

A estimativa resulta de 40 libertações, 55 nascimentos e 13 mortes em meio natural, exclui oito desaparecimentos registados até hoje em Portugal e um animal que dispersou para Espanha, e inclui dois que dispersaram de Espanha para Portugal.

Os números não deixam margem para dúvidas: o efetivo do lince ibérico passou de cerca de 90 animais em 2003 para 640, segundo o último censo realizado em 2018.

A espécie passou de “Criticamente Ameaçada” para “Ameaçada de Extinção” e poderá ser “Espécie Vulnerável” em poucos anos, e sem estatuto de ameaça dentro de décadas, devido à reintrodução de exemplares na Península Ibérica.

Se está preocupado com estas reintroduções, saiba que a existência de linces no território não trará mudanças no dia-a-dia das atividades humanas. Os linces são animais esquivos, que preferem áreas tranquilas, estabelecendo territórios onde a densidade de outros predadores passará a ser menor.

Da próxima vez que passar na região do vale do Guadiana, não se surpreenda se se cruzar com um lince-ibérico. Depois dos esforços conjuntos de Portugal e Espanha para a recuperação da espécie, não é assim tão improvável ter um encontro imediato com um exemplar. Não se assuste pois estes animais não trazem problemas de segurança aos humanos. Aproveite o momento!

Tenha em mente que a conduta de cada um de nós contribui para uma futura conservação mais eficaz do lince ibérico e do seu habitat. Proteger o lince não é apenas salvar da extinção uma espécie para os nossos descendentes, mas também conservar um ecossistema.

Se quiser participar e contribuir pessoalmente para o sucesso da reintrodução desta espécie pode: divulgar informação fidedigna sobre a espécie e a sua conservação; apoiar iniciativas locais que valorizem a espécie e a região; circular de carro com precaução, prestando especial atenção aos locais sinalizados e durante a noite; cooperar na eliminação, na sua região, de laços, venenos e outros meios ilegais de captura de animais; e até expor ideias e novas iniciativas.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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