CÃES E GATOS NA MESMA CASA

CÃES E GATOS NA MESMA CASA

ETOLOGIA

  Tupam Editores

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Existe a ideia generalizada de que a relação entre caninos e felinos é violenta e agressiva, e a maior parte das pessoas quando pensa em cães e gatos imaginam o primeiro a perseguir o segundo, algo que ocorre em consequência da natureza singular dos dois animais.

Os gatos são pequenos e frágeis, e quando se sentem em perigo fogem da situação para se manterem seguros. Já os cães, caçadores natos, instintivamente correm atrás de objetos em movimento. Ainda que os gatos também tenham os seus momentos de caça, perante o tamanho e a força de um cão ficam em desvantagem, passando de caçadores a presas.

Sendo assim, quando um gato e um cão se veem pela primeira vez, é normal o gato fugir do perigo e o cão ir atrás, mas isto não quer dizer que não possam conviver pacificamente entre si, é apenas a forma como agem instintivamente face a algo diferente.

De qualquer forma, também não seria este primeiro encontro turbulento que iria desencorajar o homem de manter em casa estes dois animais de companhia, que cada vez mais estima – um vínculo que vem de tempos longínquos.

O relacionamento entre homens e animais teve início nos primórdios da história da humanidade com a sua domesticação e é mantido até hoje graças a sentimentos muito peculiares.

Além de representarem fonte de apego e afeto, os animais de estimação desempenham inúmeros papéis, seja para o indivíduo, no círculo familiar ou em contexto social mais amplo.

A maioria dos proprietários de cães e gatos afirma que a sua qualidade de vida melhorou após a sua inclusão no lar, observando-se uma diminuição das tensões entre os membros da família aumentando a compaixão inclusive no convívio social. Os cientistas têm vindo, igualmente, a reiterar benefícios a nível psicológico e emocional do convívio entre o homem e o animal de estimação.

Os animais têm características que ainda precisam de ser amplamente estudadas. Eles captam os nossos sentimentos, expectativas e intenções, são capazes de reconhecer a nossa linguagem corporal e assim decifrar o nosso estado de espírito.

Através das alterações químicas que ocorrem no organismo humano, podem identificar o nosso humor, a nossa saúde e estado geral uma vez que possuem um olfato mais apurado que o nosso, além de captar frequências sonoras não detetáveis pelo ser humano.

Portugal é, sem dúvida, um país pet friendly, ocupando o 12º lugar do ranking de países com mais animais de estimação. Mais de metade (54 por cento) dos lares portugueses possui atualmente, pelo menos, um animal de estimação – um crescimento de 9 pontos percentuais em apenas 4 anos (2012).

Esta é uma das principais conclusões do estudo da GfK (GfKTrack.2Pets) realizado em 2015, que explica que esta tendência se deve às alterações dos núcleos familiares, bem como à evidência de que os animais de estimação contribuem para o bem-estar físico e psicológico dos seus "donos".

O estudo permitiu concluir que existem seis milhões e meio de animais de estimação no país. Cada vez mais os animais ganham espaço no interior das habitações, e são o centro das atenções por parte das famílias, que já os consideram como seus membros. Na realidade, existem já mais cães e gatos do que crianças no seio das famílias portuguesas.

Quanto às preferências dos portugueses, ainda que se tenham vindo a registar alterações ao longo dos tempos, o estudo demonstrou que os cães continuam a ter a preferência dos portugueses. Dos cerca de 6,7 milhões de animais de estimação no país, 38 por cento são cães, 20 por cento são gatos, 9 por cento são pássaros, e quatro por cento são peixes e outros animais. De referir que em 10 por cento dos lares portugueses coabitam, amigavelmente, cães e gatos.

Longe vai o tempo em que, quando se falava em ter cães e gatos na mesma casa, em convivência pacífica, era considerado impossível devido ao instinto caçador, necessidade de marcação de território e estilos de vida antagónicos de ambos os animais.

Está sobejamente provado que não é uma tarefa impossível e, apesar de serem espécies diferentes, podem dar-se bem, e não como "cão e gato".

As diferenças das espécies

Por se tratar de animais de estimação muito comuns, a maioria das pessoas ainda tem dificuldade em entender que cães e gatos pertencem a espécies diferentes, cada uma delas com o seu próprio perfil de comportamento diferenciado.

Pensar que o gato se pode comportar como um cão, é exigir demasiado a um felino, um animal de temperamento muito mais independente que aqueles. As diferenças começam logo aí! Enquanto que a maioria dos cães é bastante submissa ao dono, os gatos, ainda que reconheçam os seus "senhores", agem de maneira própria. Independência é a palavra que melhor define o gato. Ele submete-se ao dono se estiver com vontade para isso.

Uma outra diferença entre as duas espécies são os períodos do dia em que estão em plena atividade. Os cães dormem à noite, mas os gatos fazem-no durante o dia. Os hábitos do gato são muito mais noturnos, tal como os seus parentes felinos na natureza.

Os gatos, para fazer as suas necessidades, desde bebés que procuram locais onde possam enterrá-las posteriormente. Assim, se existir uma caixa de areia sempre à disposição, dificilmente farão as suas necessidades noutro local.

Já os cães não se envergonham dos seus dejetos. São desleixados, e não se importam muito com o local onde fazem as necessidades. A não ser que sejam repreendidos e devidamente treinados para fazerem num local determinado ou durante os passeios diários, os donos podem vir a ter muitas dores de cabeça.

Em ambas as espécies, os machos costumam marcar território com a urina. A dos felinos tem um odor extremamente forte e persistente, podendo ser detetada à distância, ao contrário da do cão.

Nas fêmeas, também existem diferenças importantes. Ambas acasalam somente durante o cio, mas esse período é distinto nas duas espécies. As cadelas têm cios de seis em seis meses, com uma duração aproximada de 15 dias, sendo que durante a primeira semana a cadela apresenta um pequeno sangramento. Já as gatas têm um cio sem intervalos, variando bastante a duração de ciclo para ciclo, nunca ocorrendo sangramento.

O comportamento das fêmeas durante este ciclo também apresenta diferenças: enquanto as cadelas são extremamente discretas durante esta fase, as gatas são muito ruidosas, miando em tons elevados, para atrair parceiros.

A higiene é outro ponto diferenciador. Os gatos são extremamente limpos e diariamente higienizam os seus pelos através de lambidelas consecutivas. Com isso, removem a pelagem velha e eventuais parasitas, conseguindo, desta forma, manter-se limpos por muito mais tempo e sem odores. Já os cães parecem sentir prazer em se sujar mas, apesar de não gostarem, toleram o banho. Já os gatos, abominam a água!

No que respeita à alimentação, os cães comem exageradamente, e os gatos apenas o suficiente. Os felinos são exigentes e não comem qualquer coisa. A sua dieta deve conter altos níveis de proteína, daí a sua ração ser mais palatável que a dos cães. Estes, por sua vez, adotariam a mesma dieta dos seus donos, se lhes fosse permitido. Para um cão, todos os alimentos são ótimos.

Independentemente das preferências alimentares dos nossos amigos de quatro patas, nunca é demais relembrar que nem tudo o que comemos lhes pode ser oferecido, pois estes apresentam um metabolismo diferente do dos humanos.

Um dos alimentos mais oferecidos, e que pode resultar em sérios transtornos, é o chocolate, pois possui na sua composição a teobromina – uma substância que não é bem processada pelo seu organismo.

Outros alimentos não recomendados são a cebola e o alho, pois quando ingeridos em grandes quantidades podem ser tóxicos para os animais. Estes condimentos promovem alterações nas células vermelhas do sangue e consequentemente o desenvolvimento de anemia.

Uma coisa é certa, apesar de todas as diferenças entre as espécies, ambas são ótimas como animais de estimação. É preciso apenas compreender e respeitar o comportamento de cada uma delas, para que a convivência com o homem, e entre si, seja o mais tranquila possível.

Passos para uma convivência pacífica

A chegada de novos animais a casa é sempre um momento de alegria e satisfação, mas também de stress para que estes criem e mantenham um bom nível de aceitação e convivência.

Entre cães e gatos, o instinto natural do cão diz-lhe para perseguir o gato enquanto o deste diz para fugir do cão e aplicar as afiadas unhas no seu focinho, quando se encontra encurralado.

Tal convivência não é saudável nem para o cão, que pode acabar seriamente magoado, e muito menos para o gato que teme pela vida e provavelmente passa o tempo escondido do seu companheiro de casa. Assim, o processo de adaptação destes animais é muito importante.

Podem juntar-se cães e gatos em qualquer idade, mas quanto mais tarde isso acontecer mais difícil será a sua adaptação ao outro. A idade ideal será até aos seis meses nos gatinhos e um ano nos cachorros. Por terem linguagens diferentes, na fase da infância a aprendizagem é mais fácil.

Para além da idade, a adaptação dos animais também depende do espaço disponível. Quando se pretende ter vários animais, quanto mais espaço maior a probabilidade de estes se sentirem à vontade, e até brincarem entre si.

Evitam-se os ciúmes e a sensação de que o outro está a invadir o seu espaço, o que originaria brigas. Devem igualmente existir espaços isolados para que estes se possam refugiar evitando mais brigas. O espaço de cada animal deve ser respeitado.

Não só nas primeiras etapas mas durante todo o tempo, terá de dividir-se a atenção entre os animais. Não se deve dar demasiada atenção a um marginalizando o outro, pois isso dará origem a ciúmes entre ambos, tornando a convivência problemática.

No caso de o cão ser o habitante mais antigo da casa, este já deve obedecer aos comandos autoritários: "senta", "quieto", "deita", etc., para que quando o elemento mais novo chegar seja mais fácil dominá-lo.

Estas palavras de controlo servirão para o caso deste tentar atacar o gato. O cão deve permanecer preso enquanto o felino faz o reconhecimento de toda a casa, para que se acostume ao espaço e o cão se habitue à presença de outro animal.

Se for o gato o animal mais antigo na casa, o seu espaço deve continuar a ser respeitado. Nos primeiros tempos, até que o gato se sinta confortável com a presença do novo animal, a sua caixa e o prato devem ser colocados em local inacessível ao cão para que se sinta em segurança e não veja a sua propriedade invadida por outro animal.

O primeiro impacto dos animais deverá acontecer sob muita vigilância e precaução. Ambos deverão estar controlados pela mão humana, evitando assim que se ataquem mutuamente, bem como estar a uma determinada distância.

Progressivamente deverá possibilitar uma aproximação, e permitir que se cheirem e se conheçam, mas sempre com cuidado. Durante esta fase poderão ter atitudes mais violentas, pelo que já deverá estar atento caso isso aconteça.

Deve ter-se em atenção que se o cão for impedido de ter contacto com o gato, a sua curiosidade crescerá, e sempre que o vir vai facilmente entusiasmar-se, podendo originar exatamente aquilo que o dono não deseja, a perseguição. Se o contacto entre os dois animais for regular, a convivência torna-se um hábito.

Quando já estiverem habituados à ideia de que há outro animal na casa, deve fazê-los partilhar a mesma divisão. Não deve, contudo, precipitar os acontecimentos; se o gato se assustar com o cão, nunca mais vai confiar nele e se o cão perseguir uma vez o gato, nunca mais vai deixar de o fazer.

Acima de tudo, o processo de adaptação dos animais requer muita paciência. Nos primeiros tempos terá de haver um cuidado especial para que não se ataquem um ao outro, nem se revoltem.

Sempre que estejam juntos devem ser vigiados de modo a evitar que algo de mal aconteça, quer entre os animais quer na harmonia do lar. Até porque, mesmo havendo uma boa convivência entre os animais é natural que de vez em quando haja arrufos, sendo, por isso, importante que o gato tenha sempre um espaço isolado que lhe sirva de refúgio.

Com algum tempo e boas doses de paciência, os nossos melhores amigos também podem tornar-se verdadeiros companheiros e inclusivamente partilhar brincadeiras. Dormitar enroscados é o sinal mais importante de confiança mútua. O importante é não desistir, até porque no mundo animal tudo é possível e as surpresas são muitas.

Se a situação não for das mais favoráveis pode sempre consultar um veterinário ou um especialista em comportamento animal, que analisará de perto o comportamento de ambos e poderá sugerir soluções para conseguir uma convivência sã entre os dois. Não deixe que o mito de que os cães e os gatos são inimigos leve a melhor! Prove, antes, a sua falsidade.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Referências Externas:

CEGONHA PRETA - Tímida e de futuro incerto

AVES

CEGONHA PRETA - Tímida e de futuro incerto

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