DEPRESSÃO - A GUERRA ENTRE A APATIA E O ÂNIMO

DEPRESSÃO - A GUERRA ENTRE A APATIA E O ÂNIMO

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  Tupam Editores

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Ocasionalmente, todos os seres humanos sentem o sabor amargo da tristeza, da prostração e desinteresse pela vida.

Estes sentimentos, para além de normais, são passageiros. Porém, o seu arrastamento no tempo não deve ser ignorado, tão pouco menosprezado e deve ser encarado com seriedade, pois podemos estar perante o início de uma depressão.

A depressão é uma das mais frequentes doenças psiquiátricas, sendo a segunda causa de perda de anos de vida saudável, de um grupo de 107 doenças e problemas de saúde mais relevantes. Pode afectar todas as pessoas em qualquer idade e, se não for tratada, pode, em última análise, levar ao suicídio.

Não existe uma causa única para a depressão. Os investigadores acreditam que esta resulta de uma combinação de factores de origem genética, bioquímica, ambiental e psicológica. Num dos últimos estudos em que se recorreu à ressonância magnética, ficou demonstrado que a imagem do cérebro das pessoas deprimidas é diferente da imagem de pessoas saudáveis. Segundo os especialistas, as regiões cerebrais que regulam o humor, o pensamento, o sono, o apetite e o comportamento não funcionavam normalmente. As imagens não revelaram, contudo, a causa da depressão.

Este funcionamento anómalo está relacionado com mudanças físicas e desequilíbrios químicos cerebrais.

Um cérebro humano é um mensageiro por excelência. O controlo do organismo passa pela constante recepção e envio de informações de e para todos os pontos do corpo. Para poderem transmitir as mensagens, os neurónios produzem substâncias químicas, denominadas neurotransmissores – serotonina, noradrenalina, entre outros.

Estes químicos cerebrais são responsáveis, em quantidades variadas, pelo nosso estado emocional.

Se estas mensagens químicas não são entregues correctamente entre os neurónios, a comunicação falha, originando uma depressão.

Existem várias formas de depressão: a major, a distimia, a psicótica, a pós-parto e a sazonal.

A primeira é caracterizada por uma combinação de sintomas que interferem com a capacidade do indivíduo para trabalhar, estudar e dormir, entre outras. Episódios de depressão major podem só acontecer uma vez na vida, mas costumam ser recorrentes.

A distimia caracteriza-se por uma depressão a longo prazo – cerca de dois anos ou mais. A sintomatologia é menos severa, comparativamente com a depressão major, podendo não levar à incapacitação dos indivíduos.

Já a depressão psicótica ocorre quando uma doença depressiva grave é acompanhada por alguma forma de psicose, como alucinações.

A depressão pós-parto é diagnosticada se uma mãe desenvolve um episódio de depressão major até um ano após o parto.

A depressão sazonal, tal como o nome indica, desenvolve-se numa determinada estação do ano, nomeadamente no Inverno, quando a luz natural escasseia. Normalmente, começa a dissipar-se na Primavera.

As pessoas que sofrem de depressão nem sempre apresentam a mesma sintomatologia.

A gravidade, a frequência e a duração dos sintomas variam de indivíduo para indivíduo e dependem da sua doença.

Uma pessoa deprimida sente-se triste, ansiosa, vazia, pessimista e perdida. Começa a perder interesse pelas actividades que antes lhe davam prazer e tem dificuldade em concentrar-se. O sono e o apetite podem ser excessivos ou parcos.

Por vezes, o indivíduo não apresenta estes sintomas, manifestando-se a doença através de factores físicos, tais como o cansaço, dores várias, pressão no peito, insónias, problemas gastrointestinais, o que o leva a pensar que sofre de qualquer outra doença, tornando o diagnóstico mais difícil.

Os factores mais comuns associados à origem desta doença são o histórico familiar, os traumas, ter uma personalidade pessimista, sofrer de doenças crónicas ou outros problemas físicos. É, igualmente, mais comum nas mulheres do que nos homens.

Um estudo desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde, em 2000, revelou que a prevalência de episódios de depressão foi de 1,9 por cento nos homens e de 3,2 por cento nas mulheres. Esta diferença percentual está directamente relacionada com a biologia dos sexos.

Como as hormonas afectam directamente os neurotransmissores, as mulheres estão, assim, particularmente vulneráveis depois do parto, durante a ovulação e na transição para a menopausa. Contudo, ainda não foi esclarecido por que razão, perante as mesmas adversidades, algumas mulheres desenvolvem uma depressão e outras não.

As mulheres tentam mais o suicídio, mas os homens são mais bem sucedidos quando o tentam. Estes tendem a ter mais dificuldade em admitir a sua tristeza e, por isso, isolam-se, entregam-se ao trabalho ou adoptam comportamentos de risco.

As crianças, os adolescentes e os idosos são um grupo de risco, pois os sinais de depressão que revelam podem ser confundidos com sinais típicos do crescimento ou do processo de envelhecimento, dificultando o diagnóstico e, em consequência, adiando o tratamento.

A depressão, mesmo nos casos mais graves, tem tratamento. Como as outras doenças, quanto mais precocemente for diagnosticada, mais eficaz se torna o tratamento, diminuindo as hipóteses de recorrência.

Os tratamentos comummente utilizados são os fármacos antidepressivos, a psicoterapia, ou ambos, e a terapia electroconvulsiva.

O papel dos antidepressivos é normalizar a função dos neurotransmissores – intensificam os sinais de recepção das mensagens através do aumento dos níveis de determinados neurotransmissores. Os mais comuns são os inibidores selectivos da recaptação da serotonina e os inibidores selectivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina. O médico pode recorrer, também, aos tricíclicos e aos inibidores da monoaminoxidase (IMAO).

Um dos maiores limites dos antidepressivos é o tempo. Estes fámacos demoram cerca de um mês ou mais a fazer efeito. Assim, muitos doentes são tentados a parar a medicação.

Uma súbita interrupção do tratamento pode, todavia, levar a uma recaída. Os indivíduos que sofram de depressão recorrente ou crónica poderão ter de tomar estes fármacos indefinidamente.

Os investigadores estão, assim, cientes de que é fundamental encontrar soluções de tratamento rápido.

Recentemente, uma equipa de investigadores desenvolveu um estudo com o objectivo de identificar as moléculas-chave dos circuitos neurais a atingir e qual o caminho mais curto para lá chegar.

Os investigadores utilizaram a cetamina e, decorridas 24 horas, 70 por cento dos pacientes já tinham respondido ao tratamento, sendo que 35 por cento dos mesmos continuaram a responder ao tratamento até ao final de uma semana.

O seu trabalho vai continuar, pois a equipa acredita que vai poder identificar os circuitos específicos que permitem ao cérebro responder rapidamente aos efeitos dos antidepressivos.

A psicoterapia é vital no tratamento. Para pacientes com depressão fraca a moderada poderá produzir efeito por si só. Contudo, para muitas das pessoas que sofrem de depressão major, a combinação da medicação com este tratamento é mais eficaz.

A terapia electroconvulsiva, um dos mais mal entendidos tratamentos para a depressão, poderá ser eficaz em casos extremos. Ao contrário das outras terapias, esta tem um efeito imediato no humor dos pacientes. Os médicos podem sugerir, posteriormente, um tratamento de manutenção: a toma de antidepressivos ou mais sessões electroconvulsivas.

O doente pode, também, adoptar um estilo de vida que o ajude a ultrapassar o problema. Os médicos recomendam a prática de exercício físico, a realização das actividades que outrora gostavam de fazer, o estabelecimento de objectivos realistas, dividindo as tarefas grandes em mais pequenas, realizando-as por ordem de prioridade, e passar tempo com outras pessoas e amigos. Recomendam, sobretudo, a ter muita paciência, pois a cura é um processo gradual, e a não se isolarem.

Em Portugal

Um quarto da população do país está deprimida e a tendência é para aumentar.

Actualmente, os antidepressivos são os fármacos mais vendidos, com uma quota de mercado de 22 por cento.

Segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Adriano Vaz Serra, "é provavel que a depressão venha a ultrapassar a gripe no século XXI", assinalando que é da responsabilidade dos médicos dos cuidados primários de saúde detectar a doença: "os clínicos gerais são os psiquiatras de vanguarda", pois, "um doente mental não se queixa do que tem, mas do que pensa ter".

A depressão, considerada um problema dos países desenvolvidos, está, cada vez mais, a ser encarada como uma doença e não como uma fraqueza de espírito. Esta tomada de consciência está a permitir um diagnóstico precoce e mais respeito pelos doentes que, muitas vezes, são apelidados de incapazes, preguiçosos ou malucos. O seu acompanhamento, quer médico quer familiar, é fundamental. Acima de tudo, é necessário estimular uma atitude positiva, mostrando-lhes o caminho para o mundo do ânimo, dando-lhes armas para combater o mundo da apatia. A man is but the product of his thoughts, what he thinks he becomes. Mahatma Gandhi

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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