RESSACA, Alguns segredos para evitar o desconforto

RESSACA, Alguns segredos para evitar o desconforto

BELEZA E BEM-ESTAR

  Tupam Editores

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É o último dia do ano, um fim-de-semana especial, uma happy hour com os amigos, uma saída à noite, ou uma festa de aniversário de arromba, todos eles motivo mais que suficiente para celebrar, acabando por se beber em excesso, mas como dias não são dias, permitimo-nos os excessos.

Alka-seltzer

Porém, na manhã seguinte acorda-se sem saber o que aconteceu, faz-se um esforço para levantar e sente-se ainda uma tontura residual e fraqueza nas pernas, desiste-se, e então tenta-se simplesmente encostar à cabeceira da cama (se é que se está nela); a cabeça pesa como se estivesse comprimida por uma prensa de tortura medieval – dói, especialmente na nuca, nas têmporas e na fronte e parece que vai explodir! Como se não bastasse, há ainda um mal estar terrível e náusea que só não provoca vómitos porque o estômago está completamente vazio. Na boca, seca, um gosto amargo.

A luz do dia fere os olhos e qualquer barulho retumba dentro do cérebro. Não se quer fazer nada, apenas fechar os olhos, ficar imóvel, e deixar o tempo passar. Os detalhes da festa da noite anterior surgem apenas como flashes. Começa a lembrar-se (ou não) das conversas desnecessárias e tem vontade de morrer.

Mas o que é isso? Essa é a maneira que o corpo tem de nos avisar sobre os perigos do excesso de álcool – é a tão temida ressaca, que resulta de horas de exposição a substâncias tóxicas e é caraterizada por um conjunto de sintomas de mal-estar como dores de cabeça, náuseas, problemas de concentração, boca seca, tonturas, desconforto gastrointestinal, cansaço, tremores, falta de apetite, sudorese, sonolência, ansiedade e irritabilidade.

A sintomatologia tem início cerca de 6 a 8 horas após o consumo em excesso de bebidas alcoólicas, e nada mais é do que o período em que a concentração de álcool no sangue diminui e retorna a zero, após um intenso trabalho de limpeza levado a cabo pelo fígado.

Mas para entender a ressaca é preciso, antes de mais, saber por que se fica bêbedo e quais os efeitos do excesso de álcool no organismo.

Amigos bebida

Efeitos do excesso de álcool no organismo

Quando comemos ou bebemos uma substância, ela passa basicamente por três estágios: digestão, absorção e metabolização pelo fígado. Ou seja, todo o produto que é absorvido pelo trato gastrointestinal passa obrigatoriamente pelo fígado antes de alcançar qualquer outro órgão, seja ele alimentar, álcool, medicamentos ou drogas.

O fígado é uma espécie de centro de tratamento das substâncias ingeridas. Nada chega à circulação sanguínea central sem antes ter sido processado pelo fígado – um processo denominado de “metabolização hepática”.

Dos vários papéis da metabolização hepática, um deles consiste em inativar substâncias tóxicas que tenham sido ingeridas, como o álcool (etanol), por exemplo.

O processo de metabolização hepática do álcool é até curioso, pois, como o fígado humano não produz uma enzima que neutralize diretamente o álcool, primeiro transforma-o em acetaldeído, uma substância ainda mais tóxica. Só depois de circular por todo o organismo e retornar ao fígado é que finalmente o álcool ingerido (agora sob a forma de acetaldeído) pode ser inativado sob a forma inócua de ácido acético, um metabolito não ativo e não tóxico.

Após a ingestão de álcool, o resultado final é o seguinte: 92 por cento do etanol ingerido é metabolizado e inativado pelo fígado, 3 por cento é eliminado na urina, 5 por cento é eliminado pelos pulmões na respiração, e menos de 1 por cento é eliminado na pele através da transpiração.

Mas o problema não termina aqui. A absorção do álcool pelos intestinos é muito mais rápida do que a capacidade do fígado para o metabolizar. Este só consegue metabolizar o equivalente a 10 gramas de álcool por hora, o que equivale a menos que uma taça de vinho ou 300 ml de cerveja, isto é, cerca de 12 gramas de álcool. Portanto, ao ingerir-se o equivalente a 5 taças de vinho, o corpo vai demorar, em média, 6 horas a eliminar todo esse volume. Isto significa que após um consumo exagerado de álcool, o nosso organismo vai ter de lidar, durante várias horas, com duas substâncias altamente tóxicas a circular no sangue: o álcool e o acetaldeído.

Embora o álcool atinja todo o organismo, os seus efeitos mais visíveis centram-se no cérebro, principalmente durante uma intoxicação aguda; porém, em pequenas quantidades tem uma ação estimulante, levando à euforia, desinibição e maior interação social. Contudo, em pequenas doses já pode afetar a coordenação motora e a capacidade de concentração, mas conforme o nível de álcool se vai elevando, a capacidade de julgamento fica alterada e surgem os comentários e as ações impróprias.

Doses maiores de álcool e acetaldeído na circulação intoxicam os neurónios, levando à inibição de funcionamento do sistema nervoso. À medida que a sua concentração no sangue se eleva, o indivíduo vai passando pelas fases de letargia, sonolência, redução do nível de consciência, coma e, eventualmente, morte.

Assim, estar bêbedo significa estar com os neurónios intoxicados por álcool (e acetaldeído). E já dizia o provérbio, “Noites alegres, manhãs tristes”. São vários os fatores que podem levar à ressaca. Um deles é a desidratação, ou seja, o álcool absorve a água do sangue e tecidos do organismo, que precisa ser reposta. Daí a sensação de sede durante a ressaca.

Outro fator é a baixa de açúcar no sangue. Sabe-se que os diabéticos desenvolvem dores de cabeça quando o açúcar do seu sangue está baixo. O álcool também pode afetar a concentração da glicose no sangue e no cérebro, podendo provocar dor de cabeça. Além disso, durante o sono profundo provocado pela intoxicação alcoólica a respiração fica mais superficial, os níveis de oxigénio sanguíneo podem cair, e o nível de dióxido de carbono pode subir. O resultado? Uma boa dor de cabeça ao levantar!

Os dados não mentem! Mais de 75 por cento dos consumidores habituais de álcool tiveram uma ressaca pelo menos uma vez na vida; 15 por cento têm uma ressaca pelo menos uma vez por mês, e 25 por cento dos estudantes universitários sentem os efeitos de uma ressaca uma vez por semana. Uma coisa é certa, tal como as pessoas, as ressacas não são todas iguais. A sensibilidade ao álcool varia imenso de pessoa para pessoa e aumenta com a idade.

O género e o peso do indivíduo também influenciam a sensibilidade ao álcool. É dado como adquirido que as mulheres são menos resistentes ao álcool do que os homens, uma vez que em geral são mais pequenas e porque o metabolizam mais lentamente. Pela mesma razão, se duas pessoas ingerirem a mesma quantidade, a mais pesada será provavelmente a menos afetada.

Além destes aspectos, estudos levados a cabo um pouco por todo o mundo, mostraram que também a componente genética familiar, raça, área geográfica e nacionalidade podem produzir efeitos diferenciados no metabolismo, influenciando a suscetibilidade ao álcool. Existem ainda outras ligeiras mutações de genes que alteram a quantidade de acetaldeído que a pessoa consegue produzir e a rapidez com que o elimina.

Razões e susceptibilidades à parte, o facto é que em dias de festa, muitas vezes, bebemos um bocadinho mais do que a conta e no dia seguinte temos de lidar com a “indesejada” ressaca. Mas haverá alguma fórmula secreta para corrigir o mal depois do exagero?

Homem - cerveja

Ultrapassar a ressaca

Por estranho que pareça, curar a ressaca do dia seguinte não é assim tão difícil. A chave passa por repor os níveis de minerais, vitaminas, açúcares e hidratar o organismo. Alguns alimentos podem ajudar a recuperar o equilíbrio perdido.

Como a principal causa da ressaca é a desidratação provocada pelo álcool, a ingestão de água com abundância, antes, durante e principalmente depois da bebedeira, ajudam o organismo a metabolizar o álcool enquanto se descansa, bebendo mais água ainda ao acordar, pois além de hidratar ajuda a eliminar o álcool e a livrar-se das toxinas.

A par da água, os sumos de fruta são a melhor forma de repor os líquidos perdidos, tendo ainda a vantagem de conter vitaminas. O sumo de laranja em particular, ajuda o fígado a processar o álcool e o sumo de tomate tem um efeito anti-inflamatório. As bebidas desportivas e os chás como por exemplo chá verde, de erva-doce, erva cidreira, anis estrelado, boldo e carqueja, são outras opções a considerar.

A evitar, o famoso cafezinho amargo, tantas vezes recomendado para diminuir a dor de cabeça. Até pode parecer a solução perfeita para acabar com a ressaca, mas não é. A bebida tem propriedades diuréticas, e vai acabar por desidratar ainda mais o organismo – precisamente o oposto daquilo que se pretende quando se trata de curar uma ressaca.

Homem - copo - ressaca

Além dos líquidos, para amenizar os efeitos da ressaca, deve manter-se uma alimentação leve, pobre em gorduras, rica em frutas e vegetais. Ingerir alimentos que protejam o fígado e contribuam para a estabilização da sua atividade, como o gérmen de trigo, oleaginosas (nozes), e legumes como couve, couve-flor, brócolos, espargos, agrião e rúcula. Nas frutas, a banana é a grande “curadora” das ressacas. Ricas em potássio e vitamina B6, as bananas conseguem aliviar a sintomatologia da ressaca.

O mel é um daqueles alimentos milagrosos que têm várias funções, incluindo ajudar-nos a ultrapassar a ressaca com menos “dores”. O mel ajuda o organismo a metabolizar o álcool de forma mais eficaz, e também possui potássio, como a banana. Para ajudar a acalmar a gastrite provocada pela ingestão de álcool um copo de leite, rico em cálcio, pode ser a “cura instantânea”. Além disso contém cisteína, um aminoácido que ajuda na digestão do acetaldeído.

Beber água

Alguns medicamentos podem também ajudar a minimizar os estragos causados pelo álcool, mas dada a sua toxicidade convém evitá-los. O Guronsan (cafeína, glucuronamida e ácido ascórbico) é um dos mais utilizados como desintoxicante, podendo também contar-se com a glucuronamida simples, que favorece e aumenta a eliminação das toxinas endógenas e exógenas, o ácido ascórbico que funciona como um tónico geral proporcionando a reposição dos níveis de vitamina C, e a cafeína, um estimulante do sistema nervoso central.

O Alka-Seltzer, que contém bicarbonato de sódio, é igualmente conhecido por ser útil no tratamento da ressaca, pois ajuda na digestão e acalma o estômago enjoado, neutralizando a acidez estomacal.

Os analgésicos podem também ajudar no alívio das dores de cabeça (e outras) provocadas pela ressaca, mas é preciso usar com cuidado. Se existirem danos no revestimento do estômago, a toma de ácido acetilsalicílico (Aspirina) ou ibuprofeno pode agravá-los e até mesmo causar sangramento. O paracetamol também é arriscado pois pode causar lesão hepática.

É melhor dar tempo ao tempo! O tempo é, sem dúvida, o melhor remédio para muitas coisas e a ressaca é uma delas; dormir e descansar bem, é provavelmente a melhor via para acordar sem os efeitos devastadores de uma ressaca. Prevenir é sempre melhor do que curar. E será possível preveni-la? Não há nada de errado em curar uma dor de cabeça… mas seria bem melhor nem chegar a tê-la!

Prevenir é mesmo o melhor remédio

A única maneira completamente segura de prevenir e evitar ressacas é, claro está, não ingerir bebidas alcoólicas ou, pelo menos, não exagerar. Caso contrário, a prevenção deve começar no dia anterior, e algumas pequenas atitudes podem fazer toda a diferença.

O senso comum dita que é de evitar a ingestão de álcool com o estômago vazio e que os alimentos ajudam a diminuir a velocidade com que o álcool entra na corrente sanguínea; assim, alimentar-se antes de beber é a regra de ouro contra a ressaca.

Quando se bebe com o estômago cheio, os alimentos reduzem a difusão do álcool pelas paredes do estômago retardando a sua passagem para o intestino, onde ele é rapidamente absorvido. Desta forma, o álcool entra gradualmente na corrente sanguínea, demorando mais tempo a atingir o cérebro.

Os alimentos mais adequados para protegerem o fígado, órgão que fabrica a enzima que digere o álcool, são principalmente o sumo de beterraba e os alimentos com gordura polinsaturada, presente no peixe e no azeite. Também alguns petiscos com hidratos de carbono e gordura como por exemplo tosta com paté ou uma fatia de queijo e algumas carnes (fontes de proteína), facilitam a absorção do álcool.

Homem com dor-cabeça

Outra dica importante é não beber apenas álcool. Colocar gelo ou água na bebida de forma a diluí-la e ir intercalando bebidas não-alcoólicas com as alcoólicas. E ficar por um só tipo de álcool. Misturar bebidas é a pior opção que se pode tomar, pois cada bebida contém diferentes aditivos, condimentos e outros elementos que, quando combinados, tornam mais difícil o processamento pelo organismo.

Não agravar ainda mais a situação. O álcool e o tabaco formam uma dupla altamente nefasta para o organismo. Quanto mais nicotina, menos oxigénio no sangue e mais rapidamente se dará o processo de intoxicação.

Acima de tudo, é importante conhecermos os nossos limites, e não os ultrapassar. A dura realidade é que ao ingerir-se álcool em demasia algum tipo de ressaca resultará, pois este é o processo natural de limpeza das toxinas pelo organismo e, portanto, quanto mais bebidas alcoólicas ingeridas maior será a ressaca.

Posto isto, a única receita eficaz contra a ressaca resume-se a uma evidência: não beber! Tarde de mais, não é? Então haja paciência, e votos de rápidas melhoras.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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