FORMAS FARMACÊUTICAS

FORMAS FARMACÊUTICAS

MEDICINA E MEDICAMENTOS

  Tupam Editores

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Os medicamentos são produtos obtidos através de técnicas farmacêuticas a partir de substâncias ativas simples, ou misturas de substâncias, que possuem propriedades curativas ou preventivas das doenças e dos seus sintomas. O seu uso tem como finalidade estabelecer um diagnóstico médico, restaurar, corrigir ou modificar as funções fisiológicas normais do corpo humano.

Contudo, vários fatores podem condicionar a sua administração, não só porque a maioria das substâncias ativas não é passível de ser administrada diretamente aos doentes, como a gravidade do seu estado de saúde, a natureza físico-química do fármaco, o mecanismo de ação, local de ação que se pretende atingir, bem como o mecanismo de entrega e a dosagem, podem dificultar ou impedir o seu uso.

Assim, para se chegar a um formato adequado para apresentar ao público e prescrever ao doente, é desenvolvido um longo processo de investigação e rigorosos processos de produção até se chegar ao produto final, que designamos habitualmente por forma farmacêutica.

Poder-se-á então definir Forma Farmacêutica como o estado final que as substâncias ativas ou excipientes apresentam após terem sido submetidas às operações farmacêuticas necessárias, a fim de facilitar a sua administração e obter o maior efeito terapêutico desejado.

É considerado excipiente qualquer componente do medicamento, que não a substância ativa e o material da embalagem e que têm como função o ajuste do volume e massa da formulação, coerência física de partículas, controle de desintegração e da libertação dos princípios ativos, além de proporcionar camada protetora, alterar o gosto e aparência.

Desde há milhares de anos que o homem, para curar doenças e ferimentos, tirava partido de práticas mágico-religiosas e preparava mezinhas usando misturas de produtos vegetais, animais e minerais, eventos que em coincidência com a história da farmácia, constituíram os primórdios do medicamento.

Acompanhando o percurso do medicamento ao longo da história, em particular desde as inovações introduzidas por Galeno na Antiguidade até à revolução química e botânica que originou a transição para o aparecimento de novos medicamentos e terapêuticas nos séculos XVII e XVIII, também as Formas Farmacêuticas (FF), com o avanço da revolução industrial que se lhe seguiu, ou se extinguiram ou evoluíram para os modelos atuais.

Normalização das FF

A Farmacopeia oficial Portuguesa IX (2008) em vigor, livro oficial que normaliza e regulamenta medicamentos, matérias-primas, reagentes e técnicas operatórias, inclui as seguintes formas farmacêuticas:

– Adesivos transdérmicos;

– Bólus de libertação pulsátil;

– Cápsulas (duras, moles, de libertação modificada, gastrorresistentes, hóstias);

– Comprimidos (não revestidos, revestidos, efervescentes, solúveis, dispersíveis, orodispersíveis, de libertação modificada, de libertação prolongada); gastrorresistentes, para utilizar na cavidade bucal, liofilizados orais);

– Espumas medicamentosas;

– Gomas para mascar medicamentosas;

– Granulados (efervescentes, revestidos, de libertação modificada, gastrorresistentes);

– Lápis;

– Pós cutâneos;

– Pós orais;

– Pré-misturas para alimentos medicamentosos para uso veterinário;

– Preparações auriculares (preparações líquidas para instilação ou pulverização auricular, preparações auriculares semissólidas, pós auriculares, preparações líquidas para lavagens auriculares, tampões auriculares);

– Preparações bucais (soluções para gargarejar, soluções para lavagem da boca, soluções gengivais, soluções bucais e suspensões bucais, preparações bucais semissólidas, preparações líquidas para instilação bucal ou pulverização sublingual, pastilhas e pastilhas moles, comprimidos para chupar, comprimidos sublinguais e comprimidos bucais, cápsulas bucais, preparações muco-adesivas);

– Preparações farmacêuticas pressurizadas;

– Preparações líquidas orais (soluções, emulsões e suspensões orais; pós e granulados para soluções ou suspensões orais; pós para gotas orais; xaropes; pós e granulados para xaropes);

– Preparações nasais (preparações líquidas para instilação ou pulverização nasal; pós nasais; preparações nasais semissólidas; soluções para lavagem nasal);

– Preparações oftálmicas (colírios; soluções para lavagem oftálmica; pós para colírios e pós para soluções para lavagem oftálmica; preparações oftálmicas semissólidas; insertos oftálmicos);

– Preparações para inalação (preparações líquidas para inalação; pós para inalação);

– Preparações para irrigação;

– Preparações parentéricas (preparações injetáveis; preparações para perfusão; preparações para injeção ou para perfusão após diluição; pós para injeção ou para perfusão; geles injetáveis; implantes);

– Preparações retais (supositórios; cápsulas retais; soluções, emulsões e suspensões retais; pós e comprimidos para soluções e suspensões retais; preparações retais semissólidas; espumas retais; tampões retais);

– Preparações semissólidas cutâneas (pomadas, cremes, geles, pastas, cataplasmas, emplastros medicamentosos);

– Preparações vaginais (óvulos; comprimidos vaginais; cápsulas vaginais; soluções, emulsões e suspensões vaginais; comprimidos para soluções ou suspensões vaginais; preparações vaginais semissólidas; espumas vaginais; tampões vaginais medicamentosos);

– Tampões medicamentosos.

Os medicamentos, a par de outros fatores como higiene e bem estar, alimentação e os constantes avanços da medicina têm vindo a contribuir para o incremento da esperança de vida da população. Muitas doenças consideradas incuráveis até há pouco, hoje têm cura graças aos medicamentos. Além da terapêutica curativa que apresentam, estes têm igualmente funções de diagnóstico e de prevenção.

A sua inserção no organismo e os seus efeitos estão relacionados com as Formas Farmacêuticas e, segundo o seu estado, podem apresentar-se em formas sólidas, líquidas, gasosas e aerossol e os seus formatos, adequados a cada via de administração, à finalidade a obter e ao efeito terapêutico pretendido.

Segundo a via de administração

Via de administração é o trajeto através do qual o fármaco entra em contato com o organismo, sendo um constituinte muito importante para a taxa de eficiência da absorção do medicamento.

Muitas vezes são as condições de saúde do doente a determinar a via de administração mais adequada para ministrar certos medicamentos dependendo o método a seguir, da rapidez desejada para que a ação do fármaco produza efeitos previstos, da sua quantidade, natureza e dosagem.

Não obstante poderem existir outras, as principais vias de administração podem ser classificadas segundo os seguintes critérios:

Via entérica: bucal; duodenal; gástrica; oral; retal; sublingual.

A administração entérica ou enteral (relativa ao intestino), pode ser efetuada por via oral ou retal, podendo assim exercer efeitos locais no trato gastrointestinal ou atingir o sangue e linfa, provocando efeitos sistémicos após absorção da substância na mucosa gastrointestinal. Destas, a via oral é considerada a mais conveniente para administrar um medicamento, não só porque a deglutição é um ato natural, mas porque não necessita de ajuda de profissionais de saúde para sua concretização.

Em alguns casos a administração é feita por via sublingual em virtude da absorção do fármaco se dar de forma mais rápida, devido ao contato quase direto com os capilares sanguíneos situados nessa região. Porém, devido a essa rápida absorção, contém riscos consideráveis, pelo que deve ser usada com parcimónia.

Via parentérica ou injetável: endovenosa; intra-arterial; intra-articular; intracardíaca; intradérmica; intramuscular; intraóssea; intraperitoneal; intrapleural; intratecal; intraraquidiana; intravesical; subcutânea.

A administração parentérica é feita por qualquer via diferente da oral ou intestinal. Por via injetável, o fármaco atinge mais rapidamente o local de ação, produzindo uma resposta rápida em alguns casos necessária e permitindo administrar grandes volumes de medicamentos por via intravenosa, por exemplo.

Na nutrição esta via é usada para complementar ou substituir a alimentação normal, através de uma solução ou emulsão equilibrada de nutrientes para suprir as necessidades do organismo, nas situações em que o paciente não pode ou não deve alimentar-se normalmente.

Via Transmucosa: auricular; nasal; ocular; uretral; vaginal.

É uma via alternativa à via oral, particularmente no tratamento dos órgãos da audição, olfato, visão e órgãos genitais.

Os medicamentos para aplicação oftálmica, podem ser usados como meio de diagnóstico ou para fins terapêuticos, nas formas de pomada, colírio e discos ou compressas impregnadas com o fármaco.

A via de administração nasal evita o efeito de primeira passagem hepática, podendo ser usada na reposição hormonal, porém é considerada pouco eficiente na absorção dos fármacos.

A via auricular carateriza-se pela aplicação direta no interior do ouvido e na região condutiva.

A via uretral é usada para aplicação de medicamentos na uretra, quer como anestésicos ou para procedimentos médicos ou de diagnóstico.

A administração por via vaginal consiste na introdução de fármacos na mucosa vaginal, região altamente vascularizada com forte irrigação linfática.

Via Tópica: cutânea; pulmonar; transdérmica.

Uma vez que a pele, além de ter uma capacidade de absorção limitada, se encontra muito exposta ao meio exterior, os fármacos especificamente desenvolvidos para aquele órgão, podem ser aplicados diretamente sobre a superfície para exercer ação local nos tecidos cutâneos, transferindo quantidades diminutas do princípio ativo para a corrente sanguínea, evitando assim efeitos nefastos no resto do organismo.

Os medicamentos concebidos para administração cutânea podem apresentar-se sob a forma de creme, pomada, gel, solução ou pós.

Na absorção pulmonar, os fármacos gasosos e voláteis podem ser inalados e absorvidos através do epitélio pulmonar e das mucosas do trato respiratório, tendo a vantagem de a absorção para a corrente sanguínea ser quase instantânea.

Formas farmacêuticas mais comuns

Aerossóis, são as formas farmacêuticas que correspondem a um sistema pressurizado contido no interior de uma embalagem, geralmente de alumínio, munida de uma válvula. São preparações dispensadas em recipientes especiais contendo um gás sob pressão e uma ou várias substâncias ativas, apresentando-se sob a forma de soluções, emulsões ou suspensões e destinam-se à aplicação local na pele ou nas mucosas, nos diferentes orifícios do organismo, bem como para inalação".

Cápsulas, são formas farmacêuticas muito difundidas a partir do século XIX, constituídas por um invólucro, habitualmente de duas partes, de natureza, formas e dimensões variadas, encontrando-se no seu interior as substâncias ativas.

Em farmacoterapia, são definidas como preparações sólidas constituídas por um invólucro duro ou mole, de forma e capacidades variáveis, contendo geralmente uma dose unitária de substância ativa, que se destinam à administração por via oral".

Colírios, são soluções ou suspensões estéreis, aquosas ou oleosas, contendo uma ou várias substâncias ativas e destinadas a serem aplicadas no globo ocular ou nas conjuntivas ou a serem inseridas no saco conjuntival.

Comprimidos, são preparações sólidas contendo uma dose de uma ou várias substâncias ativas e resultam de um aglomerado obtido por compressão de um volume constante de partículas ou por um outro processo específico de fabrico como a extrusão, a moldagem ou a liofilização, destinados a administração por via oral.

Uns podem ser deglutidos ou mastigados, outros são dissolvidos em água antes da administração e outros ainda devem permanecer na boca para aí libertarem o princípio ativo, existindo atualmente no mercado, comprimidos revestidos, não revestidos, solúveis, dispersíveis, orodispersíveis, de libertação modificada, gastrorresistentes, para utilização na cavidade bucal e liofilizados orais.

Os comprimidos revestidos, quando revestidos com sacarose, são designados por drageias.

Elixires, são formas farmacêuticas líquidas de composição complexa, edulcorada e aromatizada, habitualmente açucarada, contendo glicerina, com percentagens elevadas de álcool e um ou mais fármacos na sua composição destinada à administração por via oral. São definidos em farmacoterapia como um conjunto de soluções para lavagem da boca, gargarejo e aplicação gengival.

Emulsões, são o resultado de processos naturais de dispersão de substâncias oleosas em substâncias aquosas, apresentando-se habitualmente com aspeto leitoso. São constituídas por duas fases, oleosa e aquosa, que se pretendem misturar, a que são adicionadas agentes emulsivos ou emulsificantes de origem sintética que favorecem essa dispersão e incrementam as suas potencialidades, sendo os cremes um bom exemplo destes sistemas.

Enemas, são formas farmacêuticas líquidas ou bastante fluidas destinadas a serem administradas no reto. Também designados por injeções retais ou clisteres, podem exercer ação direta no cólon e no reto, ou podem conter substâncias para absorção. Podem ser administrados desde alguns mililitros até cerca de 3 litros. Na forma de microenemas ou microclisteres apresentam um volume máximo de 50 ml.

Injetáveis, são soluções, emulsões ou suspensões estéreis, preparadas por dissolução, emulsificação ou dispersão das substâncias ativas, e eventualmente de excipientes, em água para preparações injetáveis, num líquido não aquoso estéril apropriado ou numa mistura destes dois líquidos.

Óvulos, ou supositórios vaginais, são preparações sólidas unidose, com forma variável, mas geralmente ovoide, cujo volume e consistência estão adaptados à administração por via vaginal.

Contêm uma ou várias substâncias ativas dispersas ou dissolvidas numa base apropriada que é, segundo os casos, solúvel ou dispersível na água, ou funde à temperatura corporal.

Existem ainda outras preparações vaginais além dos óvulos.

Pastilhas, são preparações farmacêuticas sólidas obtidas por moldagem, contendo uma ou várias substâncias ativas, geralmente num excipiente aromatizado e açucarado, sendo apresentadas em formas unitárias e destinam-se a serem chupadas ou desagregadas lentamente na boca de modo a exercerem ação local, na cavidade bucal ou na garganta.

Pílulas, são formas farmacêuticas esféricas, de elevada consistência, com aproximadamente 20 centigramas de peso e um diâmetro até 8 milímetros, que se destinam a ser administradas por via oral, deglutidas sem mastigação.

Estas não devem ser confundidas com as vulgarmente designadas pílulas contracetivas, pois na realidade estas são comprimidos revestidos.

Poção, é uma forma farmacêutica líquida de composição muito complexa, edulcorada e aromatizada, apresentando habitualmente na sua composição, um solvente aquoso, uma ou mais substâncias edulcorantes e um ou mais fármacos.

Pomadas, são preparações semissólidas cutâneas formuladas de modo a promoverem a libertação local ou transdérmica das substâncias ativas, sendo igualmente utilizadas devido à sua ação emoliente ou protetora.

Incluem-se nesta classificação: pomadas; cremes; geles; pastas; cataplasmas; emplastros medicamentosos. As loções e linimentos são também formas semissólidas muito usadas atualmente.

Supositórios, são formas farmacêuticas unitárias de natureza sólida, formados por uma massa contendo os princípios ativos dissolvidos ou dispersos, que se destinam a administração retal e tendo um formato e dimensão adequados ao reto. A sua massa funde-se em contacto com a mucosa retal, libertando a substância ativa.

Xaropes, são preparações aquosas que se caracterizam pelo sabor açucarado e consistência viscosa, contendo normalmente sacarose em concentrações superiores a 45 por cento e aromatizantes ou outros agentes de sabor, podendo ser administrado por meio de um dispositivo-medida calibrado que permita dosear os volumes prescritos.

Para os pacientes diabéticos existem xaropes produzidos com substitutos do açúcar.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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