Descoberto mecanismo que promove a neurogénese no peixe-zebra
As inovações biológicas mais úteis nem sempre são descobertas nos organismos “mais elevados”. O peixe-zebra, por exemplo, pode gerar continuamente novos neurónios no seu cérebro, o que protege estes vertebrados da devastação causada por doenças e lesões neurológicas.
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As neurociências nasceram da vontade e da necessidade de o Homem saber mais sobre um dos órgãos mais importantes do organismo, resultando da interacção entre várias áreas do saber. LER MAIS
Os seres humanos adultos, por outro lado, só conseguem produzir um número escasso de novos neurónios, principalmente no hipocampo (o centro de memória do cérebro), e doenças como Alzheimer suprimem ainda mais esta produção. Felizmente, os peixes-zebra estão a revelar os seus segredos.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Columbia descobriu um mecanismo que promove a neurogénese no cérebro do peixe-zebra e tem potencial para ser ativado em pessoas. Segundo Caghan Kizil, líder do estudo, é possível que ao ativar a neurogénese em pessoas com Alzheimer se consiga retardar a progressão da doença.
A equipa de especialistas havia descoberto anteriormente uma molécula no cérebro do peixe-zebra, denominada receptor do fator de crescimento nervoso (NGFR), que estimula as células-tronco a produzirem novos neurónios. O NGFR aumenta a produção de neurónios mesmo em peixes-zebra cujos cérebros apresentam sinais da doença de Alzheimer, o que impede a neurogénese.
No novo estudo, publicado na revista npj Regenerative Medicine, o objetivo dos especialistas era determinar se o truque do peixe-zebra também poderia funcionar em mamíferos com Alzheimer.
Os cérebros dos ratinhos normalmente não expressam NGFR, mas quando a equipa o ativou em modelos de animais com Alzheimer, verificou-se que o NGFR estimulou a neurogénese de longo prazo, convertendo a fisiologia dos astrócitos do cérebro relacionada à doença num estado saudável e neurogénico. Além disso, a ativação do NGRF também reduziu o acúmulo de proteínas amiloides e tau, duas das características da doença de Alzheimer.
A análise de células cerebrais humanas, incluindo as de pacientes falecidos com Alzheimer, revelou que o NGFR é expresso no cérebro durante o desenvolvimento humano inicial, mas não mais tarde na vida.
Os investigadores decifraram como o NGFR funciona para promover a neurogénese na tentativa de descobrir outros alvos sinérgicos que poderiam ser modificados. Foram identificados dois alvos potenciais de medicamentos que atuam a jusante do NGFR.
O primeiro alvo, a lipocalina-2, é uma proteína que está elevada nas células cerebrais dos ratinhos e dos humanos e que deve ser bloqueada para que a neurogénese prossiga. Foi identificada ainda uma segunda proteína denominada fosfofrutoquinase, que também dificulta a neurogénese e é altamente expressa nas células cerebrais humanas. Uma vez que esta proteína funciona independentemente da lipocalina-2, pode ser mais eficaz atingir ambos os alvos em simultâneo.
Entretanto, são necessários mais estudos in vivo e testes comportamentais em modelos pré-clínicos de Alzheimer para determinar se mais neurónios e menos doença de Alzheimer levariam à melhora cognitiva.