Trabalhar por turnos tem um forte impacto na saúde
Vivemos numa sociedade que não pára, sendo já denominada sociedade 24/7 (funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana), havendo cada vez mais pessoas a trabalhar por turnos, isto é, trabalho em horário noturno ou em regime rotativo ao longo da semana, devido a exigências profissionais.

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A promoção da saúde tem como base a aceitação de que os comportamentos em que nos envolvemos e as circunstâncias em que vivemos têm influência na nossa saúde. LER MAIS
Além das profissões tradicionalmente associadas à necessidade de trabalhar por turnos (médico, enfermeiro, bombeiro, padeiro, polícia, entre outras), atualmente este regime estende-se a quem desempenha outras funções, nomeadamente a operadores de Call Center, lojistas, entre muitos outros, constituindo um problema de saúde muitas vezes ignorado.
Para começar, quem trabalha nestes regimes acaba por não conseguir dormir tão bem como quem o faz nos horários tradicionais (das 9h às 17h), tendo maior probabilidade de sofrer de Distúrbio do Sono no Trabalho por Turnos (DSTT).
A condição afeta o ritmo circadiano, conhecido como “relógio biológico”, que controla a duração e a qualidade do sono, o estado de alerta, a produção hormonal, a temperatura corporal e a função dos órgãos.
Os sintomas incluem insónia, sonolência excessiva, fadiga, dores de cabeça e dificuldades de concentração. Quem sofre deste distúrbio, se não for devidamente tratado e acompanhado está mais susceptível a problemas gastrointestinais (úlcera, diarreia, obstipação), metabólicos (é um fator de risco para a diabetes), reprodutivos, oncológicos (em especial, cancro da mama) e cardiovasculares (AVC e enfarte do miocárdio).
São vários os estudos que mostram que os trabalhadores por turnos mais facilmente apresentam excesso de peso e obesidade. O facto poderá ficar a dever-se ao recurso frequente à comida rápida, processada, de fácil preparação, assim como à falta de exercício físico. Isto explica a maior suscetibilidade destas pessoas para desenvolverem síndrome metabólica (hipertensão arterial, açúcar no sangue, obesidade e excesso de colesterol).
A privação de sono motivada pelo trabalho pode aumentar o risco de epilepsia em pessoas com este problema ou com predisposição. Por outro lado, os trabalhadores por turnos com diabetes diagnosticada podem ter dificuldade em controlar os seus níveis de açúcar no sangue.
Mas as consequências não se ficam por aqui, quem trabalha por turnos está ainda mais suscetível a: dificuldades cognitivas, risco de acidentes, perturbações do humor (impaciência, irritabilidade), abuso de substâncias, e até a patologias mais sérias como ansiedade e depressão.
A saúde física e mental destes trabalhadores é afetada mas a sua vida familiar e social não o é menos, até porque o ritmo de vida é, com frequência, diferente do dos seus familiares e amigos.
Assim, é comum haver uma maior prevalência de problemas familiares, como o divórcio; maior dificuldade em equilibrar a vida profissional com a vida familiar e social, nomeadamente com a parentalidade; sensação de isolamento face à família e amigos; maiores taxas de absentismo e presentismo, e diminuição da produtividade.
Embora não seja possível eliminar completamente o impacto negativo que o trabalho noturno ou por turnos tem na saúde e na vida dos trabalhadores, existem algumas medidas que podem minimizar os problemas.
Uma delas – talvez a mais importante –, é dormir o melhor que se conseguir para evitar os efeitos da privação do sono. Pode também recorrer a técnicas de relaxamento, respiração ou meditação de forma a reduzir o stress e melhorar a quantidade e a qualidade do sono. Não descure a alimentação: uma alimentação saudável e a prática de exercício físico vão ajudá-lo a manter a saúde física e mental.