Análise genética pode reduzir reações adversas a medicamentos
Os pacientes podem experimentar 30% menos reações adversas graves aos seus medicamentos se estes forem adaptados aos seus genes, sugere um estudo recentemente publicado no jornal The Lancet. Segundo a equipa de investigadores, uma análise genética antes da terapia medicamentosa pode reduzir significativamente o sofrimento e os custos com a saúde.
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Cada um de nós carrega um conjunto único de genes, razão pela qual reagimos de forma diferente às mesmas substâncias. Por exemplo, algumas pessoas decompõem-nas mais rapidamente, o que significa que necessitam de uma dose maior para obter o efeito desejado.
Para superar esse problema, especialistas do Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda, do Instituto Karolinska e de outras instituições colaboradoras desenvolveram o princípio de um “passe de ADN” que foi validado clinicamente no estudo.
Segundo o professor Magnus Ingelman-Sundberg, um dos coautores do estudo, basicamente é um cartão do tamanho de um cartão de crédito com uma faixa magnética contendo todos os dados genéticos importantes de um determinado paciente. Ao verificar esse cartão, médicos e farmacêuticos podem determinar a dose ideal de um medicamento para aquele indivíduo em particular.
O estudo incluiu quase 7.000 pacientes de sete países europeus entre março de 2017 e junho de 2020, todos com a constituição genética investigada no que dizia respeito a variações em doze genes específicos importantes para o metabolismo, transporte e efeitos colaterais de medicamentos. Os participantes receberam, então, os seus medicamentos da forma convencional ou com uma modificação baseada no genótipo.
Doze semanas após o início do regime medicamentoso, uma enfermeira especialista questionou os pacientes sobre quaisquer reações adversas, como diarreia, dor ou perda do paladar.
O estudo permitiu concluir que essas reações adversas aos medicamentos podem ser bastante reduzidas ao analisar os genes que codificam as enzimas que os metabolizam. Os pacientes que receberam o tratamento baseado nos genótipos tiveram, em média, 30% menos reações adversas do que os controles.
Para o professor Ingelman-Sundberg, agora existem dados suficientemente convincentes que justifiquem o uso generalizado de um passe de ADN.
Globalmente, o problema das reações adversas é considerável. Na UE, provocam até 128.000 mortes por ano e até 9% de todos os internamentos hospitalares, um número que mais do que duplica para 20% em pessoas com mais de 70 anos.
Os resultados sugerem fortemente que a investigação da constituição genética inicial dos pacientes vai dar origem a economias significativas para a sociedade. A metodologia em si só necessita de ser executada uma vez por paciente. A introdução geral desse sistema pode, portanto, reduzir os custos de saúde pública.